Há para aí muitos comentadores a mostrarem-se admirados porque a Esquerda adoptou também a política de controlo orçamental que antigamente era de Direita.
Quanto a isto tenho a dizer que aquela afirmação é falsa. A Esquerda apenas percebeu que o controlo orçamental não é de direita nem de esquerda. Foi tornado necessário pela pertença à União Europeia e ao Euro.
A questão está toda no meio de apresentar o n.º necessário a Bruxelas. O que está a acontecer é que as reduções estão a ser obtidas com recurso a cativações enormes, isto é, a cortes na despesa corrente dos ministérios colocando em causa a saúde, a educação e mesmo a segurança e ainda com um investimento público historicamente baixo. Mesmo assim, a despesa do Estado não diminuiu, antes subiu.
Por outro lado, nestes 3 anos não foi feita nem uma reforma estrutural que possa significar maior eficiência do Estado, nem crescimento decente da economia portuguesa.
Significa isto que:
- em primeiro lugar, o Governo e os partidos que o apoiam sabem que têm que cumprir os critérios orçamentais e adopta as políticas restritivas no funcionamento do Estado e não no funcionalismo;
- sem segundo lugar, a União Europeia fecha os olhos ao processo de chegar ao nº final, apenas interessando este;
-em terceiro lugar, o futuro está a ser condicionado por uma governação à vista, sem qualquer ideia estratégica para o país.
Tudo isto é sobejamente conhecido da classe política. No entanto, os partidos apoiantes do Governo engolem tudo o que é contrário ao que sempre disseram e o maior partido da oposição faz de morto, aguardando calmamente que, algum dia, o PS perca as eleições.
Pior não pode ser.
jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
quinta-feira, 30 de agosto de 2018
Auto-estrada Coimbra-Viseu
Esta notícia do Diário de Coimbra dá nota de que o Executivo Municipal de Coimbra, através do voto consciente e deliberado da sua maioria PS+PCP, reprovou uma proposta de que continuasse a ser defendida a auto-estrada entre Coimbra Viseu, mantendo-se a necessidade de reabilitar o actual IP3.
Ficamos a saber que a maioria que governa o país (PS apoiado por BE e PCP) tem na maioria do executivo municipal de Coimbra um fiel apoiante, mesmo quando isso é notoriamente contrário aos interesses de Coimbra e da região.
Fica a notícia para memória futura.
Ficamos a saber que a maioria que governa o país (PS apoiado por BE e PCP) tem na maioria do executivo municipal de Coimbra um fiel apoiante, mesmo quando isso é notoriamente contrário aos interesses de Coimbra e da região.
Fica a notícia para memória futura.
segunda-feira, 27 de agosto de 2018
Vidas agitadas, com deslumbramento
Em República, é
pacífico que o exercício de funções se deva ao mérito pessoal e não a qualquer
outra causa, seja por nascimento, ou por outras condições de vantagem
económica. Há, contudo, outras situações que por vezes se verificam, que se
podem considerar simétricas daquelas e que trazem consigo outros problemas.
Refiro-me a algum fascínio por pessoas que, como se costuma dizer, tiveram
muito sucesso na vida, vindo de baixo, ou dito de outra maneira, que se fizeram
a si próprias
Se esse sucesso
pessoal é normalmente digno de respeito e até de admiração, sucede também às
vezes se abusa dessa consideração, assistindo-se depois a quedas gigantescas,
porque demasiado alto se subiu. É que o deslumbramento pelo sucesso, seja de
exercício de poder ou de acesso a condições económicas muito favoráveis é
propenso ao desvario e falta de bom senso que conduz aos disparates
comportamentais mais absurdos e incompreensíveis. Atitudes essas que
frequentemente os colocam na mira da Justiça, quer venham a ser acusados ou
não, ou mesmo condenados.
Oliveira e Costa
foi sempre uma personagem humilde, tendo continuado a viajar de comboio em 2ª
classe mesmo quando era secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Saído da
política, construiu um banco, o BPN que, na sequência de actos de gestão mais
que duvidosos, acabou intervencionado pelo Estado, tendo os contribuintes lá
colocado até agora mais de 7 mil milhões de euros, não estando o processo ainda
terminado. Oliveira e Costa foi condenado a 14 anos de prisão efectiva, em
relação com esta sua actividade como banqueiro.
Outro administrador do BPN
saído da política que teve problemas com a Justiça foi Dias Loureiro que, no
entanto, ao contrário de Oliveira e Costa, viu arquivado pelo Ministério
Público o inquérito em que foi investigado por decisões tomadas como banqueiro.
Dias Loureiro também teve um início humilde, tendo-se tornado rico depois da
sua passagem por Sec. Geral do PSD e pelo Governo onde chegou a Ministro de
Cavaco Silva. Ironicamente, veio a caber-lhe a honra duvidosa de enterrar o
chamado cavaquismo com a sua acção enquanto Ministro da Administração Interna ao
mandar a polícia de choque contra os manifestantes da Ponte 25 de Abril.
Curiosamente,
aquelas mesmas manifestações da Ponte marcaram o início da carreira política de
Armando Vara que chegou a ministro da Juventude e do Desporto de António
Guterres. Mas, terminada a carreira política de forma algo inglória, Armando
Vara encetou uma carreira de gestor, terminando como Administrador da CGD, ele
que tinha começado por atender clientes num balcão da Caixa algures em
Trás-os-Montes. Armando Vara está condenado a pena efectiva de prisão de 5
anos, pelo caso “Face Oculta”.
De Trás-os-Montes é
também originário Duarte Lima que, de origens modestas, veio para Lisboa para a
política com muito sucesso, para além de se ter tornado numa personagem
conhecida pelo altíssimo nível de vida que passou a ter, de forma mesmo
ostensiva. No meio dos vários processos judiciais em que está envolvido, um há
em que já foi condenado a 6 anos de cadeia, o caso Homeland.
Simbolicamente,
Arlindo de Carvalho, juntamente com Oliveira e Costa, sentou-se no banco dos
réus num caso de burla qualificada no valor de dezenas de milhões de euros,
tendo o Ministério Público pedido pena efectiva de prisão para ambos. Arlindo
de Carvalho começou a sua carreira pública como um obscuro vereador da Câmara
de Cascais, tendo chegado a Ministro da Saúde com Cavaco Silva. Recordo-me de
que, no auge da sua carreira política enquanto ministro, deu uma entrevista de
vida ao jornal Expresso. Perguntado sobre o que constituía para si o sucesso,
respondeu de forma definitiva, virando a aba do casaco de forma a mostrar a sua
marca e respondendo com orgulho: “vestir Hugo Boss”.
De forma
significativa para o Regime, nenhum dos citados nesta crónica que foram
condenados está na cadeia. Perde o regime que mostra estar à sua mercê e,
talvez pior, espalha-se a ideia de que o importante é não ir parar à cadeia,
faça-se o que se fizer.
quinta-feira, 23 de agosto de 2018
REVIVE - Convento de Santa Clara
Quando vi a notícia de abertura de concurso para apresentação de propostas para o Convento de Santa Clara no âmbito do programa REVIVE, soltei uma exclamação: até que enfim.
Afinal o Convento de Santa Clara em causa é o de Vila do Conde e não o de Coimbra e o processo foi aberto pela Câmara Municipal de Vila do Conde.
Tristeza.
Quando chegará a vez de Santa Clara a Nova? Em Coimbra, claro está.
Ver aqui:
http://revive.turismodeportugal.pt/node/405
Afinal o Convento de Santa Clara em causa é o de Vila do Conde e não o de Coimbra e o processo foi aberto pela Câmara Municipal de Vila do Conde.
Tristeza.
Quando chegará a vez de Santa Clara a Nova? Em Coimbra, claro está.
Ver aqui:
http://revive.turismodeportugal.pt/node/405
Alternativas
Felizmente, o sistema partidário está a começar a dar de si e a permitir alternativas coerentes a quem percebe que o PS com a geringonça está a atirar o país para uma eternidade económica medíocre apenas possível porque estamos na União Europeia que paga o necessário para nos manter lá e um PSD que mostra aspirar apenas a substituir o BE e o PCP na geringonça. E não me refiro apenas à Aliança de Santana Lopes, mas a outras alternativas que estão a surgir. Sejam bem vindas.
quarta-feira, 22 de agosto de 2018
terça-feira, 21 de agosto de 2018
segunda-feira, 20 de agosto de 2018
José Sócrates
Neste mês de
Agosto passam 14 anos sobre uma célebre entrevista publicada no jornal Expresso
em que um candidato a líder do Partido Socialista se definia a si mesmo como
“um animal feroz”. No mês seguinte, em Setembro de 2004, José Sócrates seria
eleito Secretário-geral do PS com quase 80% dos votos, embora tivesse como
concorrentes os históricos Manuel Alegre e João Soares.
Terminava assim,
para o PS, o período de grande agitação da liderança de Ferro Rodrigues,
iniciada em 2002, e que se havia demitido em Julho de 2004 em protesto contra a
nomeação do Governo liderado por Pedro Santana Lopes, pelo Presidente da
República Jorge Sampaio, na sequência da saída de Durão Barroso para presidente
da Comissão Europeia. Ferro Rodrigues ter-se-á sentido traído com essa nomeação
pelo facto de ser velho companheiro de lutas políticas de Jorge Sampaio, ainda
antes de se filiarem no PS, nos tempos do GIS e do MES. A acrescentar a isso, o
então propalado alegado envolvimento seu e de camaradas do partido, em
particular do seu amigo Paulo Pedroso, no chamado processo Casa Pia, envolvendo
acusações de pedofilia, e que tinha minado de forma irremediável a sua
liderança.
Mas Jorge Sampaio
levou a sua atitude ainda mais longe. Assim que o PS teve um novo líder,
dissolveu a Assembleia da República, o que sucedeu logo em Novembro de 2004.
Mandou Santana Lopes para casa, sem nunca ter dado um motivo grave e concreto
para tal, embora o Governo estivesse sustentado por uma maioria (largamente)
absoluta na Assembleia da República. Porventura, a memória desses anos de
grande turbulência política e não só, estará já diluída nas nossas mentes,
sendo por isso importante chamá-la à área da consciência, porque muitos problemas
mais recentes ou mesmo da actualidade têm uma melhor explicação vistos à luz da
História.
Começou assim a
liderança de José Sócrates no partido Socialista, que venceria as eleições
parlamentares em Fevereiro de 2005 com maioria absoluta. Liderança essa que o
levou a primeiro-Ministro de Portugal a partir de Março de 2005, até terminar
da forma abrupta e de todos conhecida em Junho de 2011, após chamar a “Troika”
para resolver os problemas financeiros do país, nessa altura praticamente em
bancarrota.
O que
mesmo em 2011 a generalidade dos portugueses não esperaria é que José Sócrates
haveria de enfrentar numerosas e graves suspeitas ligadas a corrupção,
branqueamento de capitais e fraude fiscal no Processo Marquês que em 2014, dez
anos volvidos sobre a sua chegada a líder do PS, o levou mesmo à prisão preventiva
durante quase um ano, entre Novembro de 2014 e Outubro de 2015. Finalmente, em
Outubro de 2017, José Sócrates foi formalmente acusado da prática de 31 crimes
que abrangem, para além dos acima indicados, corrupção passiva de titular de
cargo público e falsificação de documento.
Durante
a investigação surgiram novos factos com ligação ao BES e à PT, mais parecendo
que por cada fio que se puxava, mais e mais fios surgiam, numa teia sem fim que
foi atrasando o processo
Este
caso tem evidentes conexões políticas, dado que José Sócrates terá praticado
aquilo de que agora é formalmente acusado, durante o exercício de altas funções
do Estado, mesmo enquanto primeiro-Ministro, não sendo possível esconder essa
circunstância. A forma como exerceu essas funções, com uma arrogância sem
limites, sendo ainda evidente uma tentação, ou mesmo tentativa, de controlar a
comunicação social e a banca, levanta também sustentadas dúvidas sobre a
democraticidade da sua actuação governativa. Para além dos crimes de que é
acusado e para os quais em breve terá oportunidade de se defender no local
adequado que é o Tribunal, há toda uma prática política cuja análise
descomprometida e livre deverá ser feita pela sociedade em geral. Até porque
José Sócrates não governou sozinho, nem foi um ditador que liderou um partido
seu. Antes foi escolhido democraticamente várias vezes para o exercício dos
diversos cargos que exerceu, fossem partidários ou governativos, aliás sempre rodeado de um coro de encómios pelos seus numerosos apoiantes,
ao longo de mais de 10 anos.
Com
esta, são já 666 as crónicas deste “VISTO DE DENTRO”. Nem de propósito: o VISTO
DE DENTRO de hoje é sobre José Sócrates. Há cada coincidência! Certamente…
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