domingo, 7 de outubro de 2018

Visualizações do blog

É sempre uma surpresa verificar quantas das visualizações deste blog são feitas em países como os EUA, a Itália, o Brasil ou a Polónia. Um mistério interessante.


segunda-feira, 1 de outubro de 2018

BRITEXPULSION



É provável que Theresa May tenha entrado no último Conselho Europeu realizado em Salzburgo, convencida de que o seu plano definitivo Chequers recolheria o apoio da maioria dos líderes europeus. Nunca se saberá se algum desses líderes ou a própria Comissão lhe terão dado esperanças de que houvesse possibilidades dessa aceitação. A verdade é que, não só o plano Chequers foi liminarmente rejeitado por todos os 27, como a Primeira-ministra britânica foi desnecessariamente enxovalhada pelos seus ainda colegas líderes europeus.
Claro que, no fim do Conselho Europeu, o seu presidente Donald Tusk acabou por admitir existirem “elementos positivos” na proposta Chequers mas vincando que precisa de ser ajustada, sem o que o “mercado único” seria prejudicado. Mais tarde, viria mesmo a comparar “Chequers” a uma “fatia de bolo sem a cereja em cima”. Perante estas posições da União Europeia não podemos deixar de pensar no que estará por detrás desta aparente irredutibilidade de posições. E a justificação mais plausível é que os restantes 27 países acreditarão que, se as negociações não tiverem uma conclusão os britânicos, de uma forma ou de outra, acabarão por ser chamados de novo às urnas para, em novo referendo, dizerem de sua justiça sobre a saída ou não da União, desta vez com uma espada de Dâmocles em cima da cabeça. O que, tendo em conta as razões de carácter predominantemente nacionalista que ditaram o resultado surpreendente do referendo de 2016 é bem capaz de, mais uma vez, dar o resultado contrário ao pretendido pelos políticos europeus. E não se julgue que as consequências de um tal resultado se limitariam ao Reino Unido, porque seria certamente muito grave para a própria UE. Tendo em conta o ressurgimento de velhos nacionalismos por esse mundo fora e olhando friamente para a qualidade da generalidade dos políticos europeus, incluindo a Comissão, ninguém ficará verdadeiramente admirado se tudo o que puder correr mal, correr de facto mal.
A única manifestação de algum apoio a May veio precisamente do Primeiro-ministro nacionalista húngaro Victor Orbán que afirmou estar a tentar lutar contra um grupo de líderes europeus os quais, segundo ele, acreditam que o Reino Unido deve sofrer.
A possibilidade de saída do Reino Unido sem acordo é cada vez mais provável, atendendo ao tempo que já passou desde o referendo de 2016 e à irredutibilidade britânica na data definitiva de saída: dia 29 de Março de 2019, às 24 horas.
Ao regressar a casa May viu-se na necessidade de se dirigir aos britânicos, explicando a sua posição sobre o sucedido em Salzburgo. O discurso da Primeira-ministra britânica foi duro para com os restantes líderes europeus, mas também para com os trabalhistas e os membros do seu próprio partido que criticam o seu plano. Theresa May afirmou que não é aceitável que o seu plano Chequers tenha sido rejeitado, sem que a UE tivesse apresentado alternativas e novas bases de negociação. Afirmou mesmo que os britânicos “têm tratado a União Europeia com respeito, exigindo o mesmo da parte dela”.
Os trabalhistas vêem fraqueza na dificuldade de May em obter um acordo para o Brexit que lhes pode dar dividendos eleitorais pelo que resolveram forçar a nota, aprovando na sua convenção uma moção a pedir um novo referendo nos casos de não haver acordo ou de um acordo que seja prejudicial aos interesses britânicos. No próprio partido Conservador os defensores do “hardbrexit” consideram que o plano “Chequers” da Primeira-ministra já ultrapassou as linhas vermelhas de cedência. Neste caso, são radicalmente contra um novo referendo, defendendo, em alternativa, uma saída pura e simples sem qualquer acordo.
A incapacidade negocial de May enredada nas contradições internas do seu partido e as próprias dificuldades habituais para se obterem consensos dentro da União, criaram uma situação explosiva. O Brexit, isto é, a saída voluntária do Reino Unido, está a dar lugar a algo muito mais parecido com “BRITEXPULTION” que mais não será do que uma expulsão do Reino Unido da EU, levada a cabo pelos seus ex-parceiros, ironicamente apoiada pelos extremistas britânicos.

Morreu Charles Aznavour

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Costa e Negrão

Ontem durante o "debate" na Assembleia da República, quando ficou um pouco mais "apertado", o Primeiro-ministro disse mais ou menos isto a Fernando Negrão, líder parlamentar do PSD: o sr. não tem legitimidade para dizer isso e depois mando-lhe a justificação por mensagem particular.
Isto é, fez duas coisas: em primeiro lugar transformou um debate parlamentar, público por inerência, numa questão particular; depois fez chantagem política sobre um deputado da oposição, à frente de toda a gente: ou te calas, ou denuncio-te.
Serei só eu a achar tudo isto condenável politicamente, para além de execrável como atitude pessoal?
Fernando Negrão lá se engasgou e disse que tornaria pública essa mensagem privada. Mas Costa não teve resposta à altura e toda a gente deixa passar como normal. Lembram-se das atitudes de Sócrates? Não era pior que isto.
E se mal pergunte: o PSD e a sua direcção política que escolheu Negrão não tem nada a dizer?

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

COIMBRA NO SEU MELHOR




Tendo em vista o seu grande objectivo de dotar de instalações a Universidade que definitivamente transferiu de Lisboa para Coimbra, o Rei D. João III mandou abrir em 1535, a partir de Santa Cruz, uma nova rua com o nome de Rua de Santa Sofia. Nessa nova rua, de dimensões inusuais para a época, dizendo-se mesmo que a sua largura e o seu comprimento eram o dobro das dimensões da equivalente Rue de Sorbonne em Paris, seriam edificados os colégios que albergariam religiosos e estudantes. Os colégios mais afastados de Santa Cruz eram os de São Tomás a poente e de São Pedro a nascente.
A actual Rua da Sofia (ou Sabedoria) que constitui uma jóia de Coimbra, tanto do ponto de vista urbanístico e arquitectónico, como do ponto de vista humanista e histórico-cultural foi, juntamente com a Alta Universitária, justamente classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade.
Infelizmente, por razões que se espera a Cidade venha a ser capaz de ultrapassar a curto prazo, a Rua da Sofia não tem tido atractivos que a façam ser reconhecida e objecto de visita regular de conimbricenses e visitantes exteriores.
No antigo Colégio de S. Tomás está instalado, desde há quase cem anos, o Palácio da Justiça da Cidade, que alberga o Tribunal da Relação de Coimbra que está a celebrar este ano o centenário da sua criação. O actual Juiz Presidente da Relação Dr. Luis Azevedo Mendes compreendeu bem a importância do edifício do Palácio da Justiça para a afirmação da Rua da Sofia e em consequência da Cidade, pelo que decidiu comemorar condignamente esse centenário. Para além das cerimónias oficiais, abriu o Palácio da Justiça à população da cidade e promoveu, em conjunto com a Orquestra Clássica do Centro, a realização de uma série de concertos a que foi dado o nome de “Festival Sofia – Concertos no Palácio da Justiça”.

Um desses concertos decorreu na passada sexta-feira no claustro interior do Palácio da Justiça. E foi um deslumbramento descobrir que Coimbra tem mais um “novo” espaço magnífico para a realização de eventos culturais. Todo o conjunto rodeado dos lindíssimos painéis de azulejos policromados que rodeiam o claustro, com iluminação adequada que faz ressaltar os riquíssimos elementos arquitectónicos do edifício constituiu um cenário praticamente perfeito para o recital de canto de Dora Rodrigues acompanhada por guitarra clássica e percussão. O encantamento produzido pela audição da que é considerada a melhor soprano portuguesa da actualidade foi notório em toda a assistência, surpreendida pela capacidade interpretativa da cantora em áreas musicais exteriores à ópera, como sejam os “Caprichos” de Manuel Garcia (Sec. XVIII-XIX), obras de Enrique Granados, “Modinhas, Lundus e Cançonetas” antigas ou as canções lindíssimas, mais próximas do nosso tempo, de Carlos Guastavino. O acompanha mento musical simples, mas de grande sensibilidade e à altura da cantora, esteve a cargo do guitarrista clássico Rui Gama e, alternadamente, de Davy Tremet e Francesco Sammassimo, ambos músicos da Orquestra Clássica do Centro.
O “Festival Sofia – Concertos no Palácio da Justiça” vai ter continuação com concertos nos dias 1, 12 e 26 de Outubro, comemorando-se no concerto do dia 1 o Dia Mundial da Música, data que em todo o mundo serve de motivo para a Festa da Música, a arte sublime.
É da evidência diária que a Rua da Sofia tem sido o “parente pobre” da área classificada como Património Mundial em 2013, onde praticamente não chega nenhum dos muitos turistas que visitam a Universidade. A actividade comercial da rua outrora pejada de gente tem vindo a morrer e até mesmo a Procissão da Rainha Santa este ano se ficou pela Praça 8 de Maio. Estas iniciativas culturais a partir do Palácio da Justiça constituem uma pedrada no charco da falta de afirmação de uma tão importante zona histórica de Coimbra. São a demonstração de que, com consciência da responsabilidade que constitui ter um bem cultural desta dimensão em mãos e vontade de fazer e de estabelecer parcerias, ainda que com meios financeiros limitados é possível acender faróis culturais de grande intensidade luminosa.

sábado, 22 de setembro de 2018