terça-feira, 29 de outubro de 2019

William Faulkner

Faulkner: “escre­ver por dinheiro não é pro­pri­a­mente pros­ti­tuir o talento, mas apenas encur­tar as fra­ses.”

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

DO ESTADO DA SAÚDE PÚBLICA EM PORTUGAL

As notícias quase diárias sobre problemas neste ou naquele hospital, neste ou naquele serviço, só confirmam que o SNS está doente. E já não só os portugueses que não possuem seguro de saúde nem são funcionários públicos a saber disso. A prestigiada revista médica científica Lancet publicada no Reino Unido noticiou há poucos dias que, em tradução livre, “como esse investimento em queda está impedindo a modernização de hospitais e a substituição de equipamentos médicos obsoletos, a assistência privada está em expansão. Os médicos e enfermeiros do sector público, desencorajados por más condições de trabalho, estão a procurar emprego no sector privado e no estrangeiro”.
O último caso é o da urgência pediátrica do Hospital Garcia d’ Orta. A falta de médicos pediatras, dado que em vez dos 38 que deveria ter, o serviço tem 28, associada à idade dos existentes que em elevado número já estão legalmente dispensados de fazer urgências, leva à impossibilidade de garantir escalas em permanência. Como resultado, aquelas urgências têm fechado vários dias, mesmo num fim-de-semana inteiro, prevendo-se que o problema continue, deixando Almada sem urgências para crianças e jovens, uma situação de todo insustentável. O ministério da Saúde anunciou que autorizava o Garcia d’ Orta a abrir vagas, mas sabe-se perfeitamente que esse anúncio é o mesmo que atirar areia para os olhos das pessoas. De facto, já houve anteriormente abertura de vagas, mas ficaram desertas, isto é, os médicos pediatras recusam-se a ir trabalhar para aquele hospital, sabendo o que os espera em termos de urgências, pelo valor de vencimento que lhes é proposto. E não se pense que o Garcia d' Horta só tem problemas naquela especialidade. 
De acordo com o jornal Expresso, há outras em que o problema é semelhante, como a Obstetrícia que só ultrapassam o problema com os médicos especialistas a aceitar fazer escalas de 24 horas de urgência, quatro dias por semana. Como é evidente, o serviço normal ressente-se, e de que maneira. O ministério da Saúde lá vai dizendo, contrariando todas as afirmações anteriores sobre os serviços privados de Saúde que, caso necessário, irá recorrer a esses mesmos serviços.
O comentário da revista Lancet sobre a falta de investimento em equipamentos é gravíssimo, mas infelizmente é verdadeiro, pese embora a falta de informação sobre o assunto. Como estamos em Coimbra, podemos referir aqui a situação do CHUC, que será paradigmática. Na semana anterior às recentes eleições a Administração do Hospital veio informar, com satisfação, que no corrente ano de 2019 o investimento será na ordem dos 9,5 milhões de euros, em vez dos 4,1 de 2018 correspondendo a um aumento de mais de 100%. Ficou bem, mas esqueceu-se de dizer que, no último ano da troika em 2015, e depois de 3 anos de míngua dedicados a pagar as dívidas herdadas, o montante de investimentos foi de 9,9 milhões. Isto é, terminada a austeridade e passados cinco anos contínuos com a economia a crescer, o investimento ainda não conseguiu superar o do último ano de austeridade.
A ideia que fica de tudo isto é que o ministério da Saúde anda a correr a correr a tapar buracos por todo o lado, sendo evidente que a manta é curta e não dá para cobrir o que é necessário. Lembra-se que, actualmente, os cerca de 800.000 portugueses que trabalham para o Estado, mais as suas famílias, já estão na prática fora do SNS por terem ADSE e que muitos outros, que recorrem ao SNS, são canalizados para o sector privado através do SIGIC, dada a falta de resposta do sector público. Aliás, se tal não houvesse, o país estaria mergulhado num completo caos, no que à saúde diz respeito.
Salta à evidência que o SNS está a atingir um ponto de não retorno, se é que já não o passou, a partir do qual só poderá sair de duas maneiras: ou com um investimento massivo que cubra os cortes dos últimos 10/15 anos (incluindo pagar convenientemente aos profissionais da saúde, contratando simultaneamente os quadros em falta por todo o país) ou sofre uma refundação com uma completa reestruturação, deixando de ser aquilo que tem sido até hoje. Se nada disto for feito, continuaremos a assistir à debandada do pessoal para o privado, ao paraíso dos seguros de saúde e à falta de bons cuidados de saúde a quem não tem dinheiro para tal. 

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 28 de Outubro 2019

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Juizes governantes

 O novo Governo de António Costa vai ter dois juízes como secretários de Estado.

O juiz Antero Luís, que vai ser secretário de Estado adjunto e da Administração Interna, foi director-Geral do Serviço de Informações de Segurança (SIS) entre 2005 e 2011 e secretário-Geral do Sistema de Segurança Interna (SSI - o “super-polícia”) de 2011 a 2014.

O juiz Mário Belo Morgado, que vai ser Secretário de Estado Adjunto e da Justiça, foi inspector judicial, director-geral dos Serviços Judiciários e vice-presidente do Conselho Superior da Magistratura (não tendo sido eleito pelos pares para a presidência) e ainda director nacional da Polícia de Segurança Pública.

Coincidências?
Eu não acredito em bruxas, mas que as há, há....




segunda-feira, 21 de outubro de 2019

CIDADANIA AOS PEÕES


Na sequência do acentuado movimento demográfico de abandono das áreas rurais das últimas dezenas de anos, as cidades passaram a ser o habitat natural da grande maioria das pessoas. Para que os seus habitantes tenham uma vida confortável e mesmo saudável os espaços públicos urbanos devem ser dimensionados tendo em conta esse facto devendo, para além disso, ser motivo dos maiores cuidados de manutenção e conservação. Essa obrigação deverá ser mesmo ser considerada como a preocupação número um de qualquer autarquia.
Nas ruas das cidades convivem diversos tipos de utentes entre os quais uma das maiores diferenças reside nos respectivos modos de deslocação. E, se há zonas destinadas exclusivamente a pessoas que se deslocam a pé ou bicicleta como os parques verdes outras há, caso das ruas, em que os conflitos entre os diversos modos de deslocação são permanentes. Nem falo de situações espúrias e absolutamente inaceitáveis, de utilização abusiva dos passeios que são exclusivamente destinados a peões como o estacionamento de viaturas automóveis ou aquela outra mais recente da circulação de trotinetas eléctricas. Contudo, as situações de conflito mais graves verificam-se quando os peões têm que atravessar as vias e é aí que as autoridades responsáveis pela gestão da via pública têm particulares responsabilidades em adoptar medidas que promovam uma efectiva melhoria da segurança rodoviária. Cabe lembrar aqui aos automobilistas uma norma do Código da Estrada que, entre nós, parece muito esquecida: os condutores que mudam de direcção devem ceder passagem aos peões que estejam a atravessar a faixa de rodagem da rua em que vão entrar, sob pena de contra-ordenação grave.
Concretizando com o que se passa na nossa cidade
, verifica-se que o número de atropelamentos com mortos ou feridos graves foi de nove durante o ano de 2018, abaixo da percentagem nacional em que os atropelamentos constituíram 15,4% dos acidentes graves, de acordo com as estatísticas oficiais. Um daqueles atropelamentos ocorreu na Rua Miguel Torga, onde também são frequentes os choques de traseira junto às passadeiras existentes. Saúda-se, portanto, a Câmara Municipal por ter colocado semáforos nas 4 passadeiras daquela rua.
Aquele tipo de acidentes deve-se, em muito, à exagerada velocidade de circulação em muitas das nossas ruas, mas também à deficiência de visibilidade e de sinalização das passadeiras. No que respeita à velocidade, fazem falta mais locais com semáforos dotados de detectores de velocidade, em particular em ruas onde há também um elevado número de peões a circular. Estou a lembrar-me da Av. Armando Gonsalves de acesso aos HUC, mas também da Av. Navarro, da Rua Bernardo Albuquerque, da Av. Fernando Namora, etc. Mesmo a colocação de painéis informativos da velocidade, sem semáforos ou sem câmara fotográfica tem um efeito altamente dissuasor do excesso de velocidade como era possível verificar na descida da Circular Interna enquanto o equipamento ali colocado funcionou devidamente.
Algumas passadeiras da Cidade, particularmente aquelas localizadas nas proximidades de escolas, foram em tempos dotadas de equipamentos sinalizadores da sua existência, com iluminação própria, além de colocação de pavimentos especiais. Urge proceder à sua manutenção para que voltem a ser a ser eficazes, para além de se dever aumentar o seu número para protecção de jovens estudantes, mas não só.
A maioria dos passeios de Coimbra possui pavimentos desadequados a uma confortável e segura circulação dos peões, para além do mau estado de muitos deles. É frequente encontrarmos pessoas a caminhar pela faixa de rodagem, entre os carros, por uma razão muito simples: os pavimentos rodoviários estão em muito melhor estado que os dos passeios. É uma situação caricata que deveria envergonhar os responsáveis autárquicos, para além da insegurança que provoca. Na zona histórica e em locais em que os passeios têm calçadas com desenhos justifica-se a sua manutenção, embora tenha que haver cuidados e despesas suplementares para garantir o seu bom estado. Já o mesmo não se pode dizer de toda a restante cidade em que o conforto deve ser a regra dominante na escolha do tipo de pavimentos, devendo-se abandonar calçadinhas sem qualidade, desconfortáveis e de difícil manutenção.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 21 de Outubro de 2019

Lítio: tem esturro

Então o governo entregou a exploração do lítio em Montalegre, negócio que vale para cima de 300 milhões de euros, a uma empresa constituida 3 dias antes, com um capital de 50.000 euros e sede na Junta de Freguesia da terra.
Cheira a esturro, sabe a esturro, é esturro, com certeza. Para não dizer outra coisa.