Na sequência do acentuado movimento demográfico
de abandono das áreas rurais das últimas dezenas de anos, as cidades passaram a
ser o habitat natural da grande maioria das pessoas. Para que os seus
habitantes tenham uma vida confortável e mesmo saudável os espaços públicos
urbanos devem ser dimensionados tendo em conta esse facto devendo, para além
disso, ser motivo dos maiores cuidados de manutenção e conservação. Essa
obrigação deverá ser mesmo ser considerada como a preocupação número um de
qualquer autarquia.
Nas ruas das cidades convivem diversos tipos de
utentes entre os quais uma das maiores diferenças reside nos respectivos modos
de deslocação. E, se há zonas destinadas exclusivamente a pessoas que se deslocam
a pé ou bicicleta como os parques verdes outras há, caso das ruas, em que os
conflitos entre os diversos modos de deslocação são permanentes. Nem falo de
situações espúrias e absolutamente inaceitáveis, de utilização abusiva dos
passeios que são exclusivamente destinados a peões como o estacionamento de
viaturas automóveis ou aquela outra mais recente da circulação de trotinetas
eléctricas. Contudo, as situações de conflito mais graves verificam-se quando
os peões têm que atravessar as vias e é aí que as autoridades responsáveis pela
gestão da via pública têm particulares responsabilidades em adoptar medidas que
promovam uma efectiva melhoria da segurança rodoviária. Cabe lembrar aqui aos
automobilistas uma norma do Código da Estrada que, entre nós, parece muito
esquecida: os condutores que mudam de direcção devem ceder passagem aos peões
que estejam a atravessar a faixa de rodagem da rua em que vão entrar, sob pena
de contra-ordenação grave.
Concretizando com o que se passa na nossa cidade
,
verifica-se que o número de atropelamentos com mortos ou feridos graves foi de
nove durante o ano de 2018, abaixo da percentagem nacional em que os
atropelamentos constituíram 15,4% dos acidentes graves, de acordo com as estatísticas
oficiais. Um daqueles atropelamentos ocorreu na Rua Miguel Torga, onde também
são frequentes os choques de traseira junto às passadeiras existentes.
Saúda-se, portanto, a Câmara Municipal por ter colocado semáforos nas 4
passadeiras daquela rua.
Aquele tipo de acidentes deve-se, em muito, à
exagerada velocidade de circulação em muitas das nossas ruas, mas também à
deficiência de visibilidade e de sinalização das passadeiras. No que respeita à
velocidade, fazem falta mais locais com semáforos dotados de detectores de
velocidade, em particular em ruas onde há também um elevado número de peões a
circular. Estou a lembrar-me da Av. Armando Gonsalves de acesso aos HUC, mas
também da Av. Navarro, da Rua Bernardo Albuquerque, da Av. Fernando Namora,
etc. Mesmo a colocação de painéis informativos da velocidade, sem semáforos ou
sem câmara fotográfica tem um efeito altamente dissuasor do excesso de
velocidade como era possível verificar na descida da Circular Interna enquanto
o equipamento ali colocado funcionou devidamente.
Algumas passadeiras da Cidade, particularmente
aquelas localizadas nas proximidades de escolas, foram em tempos dotadas de
equipamentos sinalizadores da sua existência, com iluminação própria, além de
colocação de pavimentos especiais. Urge proceder à sua manutenção para que
voltem a ser a ser eficazes, para além de se dever aumentar o seu número para
protecção de jovens estudantes, mas não só.
A maioria dos passeios de Coimbra possui
pavimentos desadequados a uma confortável e segura circulação dos peões, para
além do mau estado de muitos deles. É frequente encontrarmos pessoas a caminhar
pela faixa de rodagem, entre os carros, por uma razão muito simples: os
pavimentos rodoviários estão em muito melhor estado que os dos passeios. É uma
situação caricata que deveria envergonhar os responsáveis autárquicos, para
além da insegurança que provoca. Na zona histórica e em locais em que os
passeios têm calçadas com desenhos justifica-se a sua manutenção, embora tenha
que haver cuidados e despesas suplementares para garantir o seu bom estado. Já
o mesmo não se pode dizer de toda a restante cidade em que o conforto deve ser
a regra dominante na escolha do tipo de pavimentos, devendo-se abandonar
calçadinhas sem qualidade, desconfortáveis e de difícil manutenção.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 21 de Outubro de 2019
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