segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Irá a Rússia sobreviver a Putin?



De acordo com notícias veiculadas por agências russas ligadas ao Kremlin, há poucos dias o presidente Putin chamou o embaixador Turco em Moscovo e transmitiu-lhe um aviso solene sobre o que entende ser o apoio turco aos rebeldes jihadistas do chamado Estado Islâmico (ISIS) na Síria, país onde a Rússia possui a sua única base militar no mar Mediterrânio. De acordo com essas notícias, nesse encontro que não terá sido nada amistoso, o presidente russo reafirmou o apoio do seu país ao presidente Sírio Bashar al-Assad, tendo inclusivamente comparado o presidente Turco Erdogan, a quem chamou ditador, e os seus aliados sauditas a, nem mais nem menos que Hitler, ameaçando fazer da Síria uma grande Estalinegrado.
As ameaças externas do presidente russo não são uma novidade, embora não deixe de ser irónico que venha apelidar de ditador o presidente de outro país que, não certamente por acaso, pertence à NATO. Na realidade, nos últimos tempos a vida não tem corrido de feição a Vladimir Putin. Na sequência da queda do regime soviético, a Rússia enfrentou a possibilidade real de desmembramento do seu próprio território, para além do afastamento de boa parte dos países do ex-Pacto de Varsóvia que, assim que puderam, fugiram e foram ligar-se à União Europeia ou mesmo à Aliança Atlântica. Nesses tempos, Boris Yeltsin juntou os cacos e tentou limitar as avarias até onde fosse possível. Quanto aos países independentes, não havia muito a fazer. No respeitante às diversas nações integradas na Rússia como a Sibéria, o Ural ou a Karélia que reivindicaram a sua soberania, Yeltsin conseguiu mantê-las ligadas à Mãe Rússia através da formação de uma Federação, dando às diversas regiões bastante soberania. A magna questão das armas nucleares espalhadas pelo território da antiga União Soviética teve que ser resolvida com apoio internacional, deslocando o armamento da Ucrânia e do Kazaquistão para a Rússia. Neste caso, houve mesmo um acordo assinado pela Rússia, EUA e Inglaterra, mediante o qual era garantida a integridade territorial da Ucrânia em troca da deslocação das armas nucleares para a Rússia.

Putin resolveu desfazer tudo isso. De Federação, há muito tempo que não se ouve falar. Quanto à Ucrânia, como se sabe, tratou de anexar a Crimeia e levou a guerra à parte oriental do país. Faz agora um ano, os guerrilheiros pró-russos abateram mesmo um avião civil com um míssil, causando centenas de mortos; há poucas semanas Moscovo impediu pelo seu veto no Conselho de Segurança a criação de um tribunal para tratar do abate do avião, ficando definitivamente à vista o seu interesse no caso. Mesmo a Tchetchenia está actualmente em relativo sossego através da relação pessoal entre Putin e o líder local Kadyrov, mantido através de corrupção generalizada no país e de uma troca de interesses mútuos que desaparecerão de imediato se e quando Putin estiver fora da equação.
A anexação da Crimeia trouxe problemas acrescidos a Putin. As sanções internacionais, em conjunto com a descida internacional dos produtos petrolíferos, trouxeram graves dificuldades à economia russa já de si frágil em face da sua organização oligárquica. A resposta do presidente Russo foi fomentar um sentimento generalizado contra o Ocidente, acompanhado de ameaças contra a Nato e contra os países bálticos. A Rússia proibiu ainda a importação de produtos originários dos países que apoiam as sanções económicas, incluindo produtos médicos, aparelhos de raios-X e agora também de preservativos, com a ideia de substituir esses produtos por outros fabricados no país.
O tipo de liderança praticada por Putin pode dar resultado durante algum tempo, dado que é acompanhada de uma forte mão de ferro. Mas, quer seja ainda durante a sua presidência ou logo depois, algo importante vai acontecer na Rússia, disso não tenhamos dúvidas. Se o império Czarista desapareceu com a rapidez que se sabe, o regime comunista com toda a sua organização centralizada implodiu também de um dia para o outro. O Ocidente deve ter estes factos na memória e perceber que, apesar de tudo, a Rússia é um grande país e, quanto mais não seja por prudência e pragmatismo, é de toda a conveniência internacional que o continue a ser e que não se desmembre em numerosos países totalmente desintegrados da ordem internacional e sem memória organizativa própria. E, respondendo à pergunta do título desta crónica, ajudar para que a Rússia sobreviva a Putin.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 10 Agosto 2015

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A doença que alastra



A Síria, tal como a conhecemos durante muitos anos, é um país que já não existe. Actualmente, já nem sequer pode ser considerado como um país, por não ter território definido, governo que governe, nem qualquer sombra de soberania, para além de não haver paz em lado nenhum para os seus habitantes, que não se podem sequer chamar cidadãos. Aquilo que começou na chamada “primavera Árabe” resvalou para um conflito militar inter-Islão entre sunitas e xiitas com uma violência inaudita. Na Síria, anteriormente um país multicultural e multiétnico, mas bastante ligado ao Irão, convergiram todos medos e todos os ódios da região, movimentando alianças regionais e mundiais, desde a Arábia Saudita e Qatar contra o Irão, Rússia e China contra Estados Unidos e Europa, sem esquecer Israel e a Turquia devido ao Hezbollah e aos Curdos. O avanço do xiismo, que sempre foi minoritário, um pouco por todo o mundo muçulmano colocou os principais países sunitas como a Arábia Saudita e seus aliados em alerta pelo medo que têm do Irão xiita, que consideram como o seu inimigo principal, mais ainda que o próprio Israel.
Deste caldo saíram as condições para que nascesse algo ainda pior, o chamado “Estado Islâmico”. Depois de terem aproveitado as deficiências e falhas graves do Iraque após a saída das forças americanas, onde originalmente lutaram para criar um califado nas zonas de maioria sunita no Iraque, os jihadistas avançaram pela Síria, ocupando grande parte do seu território a saque.

 O seu objectivo final é agora recriar o antigo califado, exercendo a sua autoridade sobre todos os muçulmanos do mundo. O objectivo imediato passa pela criação de um Estado muçulmano cujo território será constituído pela zonas sunitas da Síria e do Iraque, o que já estará quase alcançado. As reacções internacionais têm primado pela ineficácia, já que se restringem a acções de força aérea sem qualquer colocação de exércitos no terreno. De facto, o historial do médio-oriente aconselha à maior prudência nas acções militares, porque os aliados de hoje serão certamente os inimigos de amanhã e é impossível conhecer as alianças subterrâneas entre os diversos países, famílias e orientações religiosas que funcionam a cada momento, ditadas pela religião mas também, ou sobretudo, pelo poder do petróleo.
Mas o problema não está circunscrito à Síria e ao Iraque, bem pelo contrário. Na realidade, o terror da autoria de fundamentalistas islâmicos tem sido levado praticamente a todo o lado, não se circunscrevendo à área daquilo a que chamam Califado.
Na Europa recordam-se, entre outros, os atentados nos comboios em Madrid em Março de 2004 que provocaram 191 mortos, em Londres em Julho de 2005 com 52 mortos, em Toulouse em Março de 2012 com 4 mortos, o ataque à revista Charlie Hebdo com 12 mortos em Janeiro de 2015. Sem esquecer os mortíferos atentados islamitas anteriores em Nova Iorque e.Bombaim.
Em África, todo o Norte se encontra em chamas devido aos extremistas muçulmanos. Desde a Tunísia em que turistas são chacinados na praia, até ao Egipto onde a guerra no Sinai é aberta, passando pela Líbia onde as praias são utilizadas pelos jihadistas para mortandades filmadas e mostradas ao mundo inteiro. 
Mas a África sub-sariana experimenta também os horrores da guerra trazida pelos extremistas muçulmanos. Os países situados nas margens do lago Chade, a Nigéria, o Chade, o Níger e os Camarões têm sofrido horrores indescritíveis causados pelos islamitas do Boko Haram. A Somália é palco de frequentes ataques jihadistas que atacam directamente as forças armadas do país. No Quénia, os terroristas islâmicos entraram numa Universidade e foram perguntando a quem encontravam se era cristão, matando de imediato quem respondesse afirmativamente e deixando assim 147 mortos para trás.
Na Índia, em Bombaim, atentados dos jihadistas islâmicos provocaram quase duzentos mortos em Novembro de 2008.
Verifica-se que o jihadismo islâmico encontra terreno propício para a sua macabra actuação em países sem Estado central forte ou mesmo minimamente organizado e em países em que os detentores de poder pouco mais fazem do que canalizar as riquezas dos seus países para as suas próprias contas bancárias, gerando pobreza generalizada e forte insatisfação dos povos.
Olhando para o mapa actual da actividade do jihadismo islâmico, não podemos deixar de nos assustar e perguntar qual a saída para a situação que é visível não ser já resolúvel com acções militares localizadas. E impressiona a aparente passividade do resto do mundo e a completa incapacidade de resposta das instâncias internacionais, como as Nações Unidas.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Dos partidos extractivos e não inclusivos




De tantos em tantos anos, normalmente quatro mas podendo ser menos quando algo corre muito mal, os partidos políticos são obrigados a expor-se perante os cidadãos e, normalmente,  o que se vê não é muito bonito de se ver. Uns meses antes das eleições a que muitos políticos gostam de chamar pomposamente o "combate politico", há que preparar as listas a propor aos eleitores pelos partidos que vão a votos e é nesse momento que o interior dos partidos, normalmente escondido atrás de belas palavras como unidade, competência e solidariedade, fica à vista de todos.
A importância de falar sobre os partidos deve-se a duas ordens de razão essenciais. A primeira, óbvia e fundamental, deve-se a que sem partidos não há democracia. Depois, o sistema politico, por mais complexo que seja, tem por base precisamente os partidos, onde naturalmente têm origem os responsáveis pelo funcionamento desse mesmo sistema.
Há muita gente que afirma que a constituição das listas de deputados não interessa para nada, já que depois de eleitos não terão voz própria no parlamento, devendo sujeitar-se às orientações dos respectivos grupos parlamentares. Isto seria verdade tanto para os partidos suporte dos governos, como para os de oposição. À luz de tal critério, os deputados seriam considerados, não como representantes do povo, mas como recursos humanos dos partidos, como aliás lhes ouvi chamar há pouco tempo pelo presidente de um dos principais partidos, sem que tal afirmação tenha dado origem a qualquer comentário.
Na verdade,  a prática dos partidos, incluindo os dois maiores, permite que aquelas conclusões tenham muita razão de ser. Os processos de escolha dos candidatos ou são opacos ou mostram critérios que relevam apenas das eleições internas dos partidos, a níveis nacional e distrital, mas também concelhio: há que "colocar" as personalidades apoiantes dos vencedores dessas eleições internas mas também, e com frequência sobretudo, afastar os derrotados e quem os apoiou. Tudo isto independentemente das qualidades, competências e capacidades de uns e de outros. Isto é, as eleições internas dos partidos, muito mais do que escolher e promover politicos capazes de suscitar discussões sobre a realidade e propor soluções, são verdadeiras primárias restritas para escolher as listas de candidatos que propõem aos eleitores. Ao procederem assim os partidos estão a estabelecer as bases para o prolongamento deste tipo de atitude para as instituições políticas do Estado e mesmo para a organização económica nacional. Por mais que um governante nacional consciente destas situações e desejoso delas escapar se mova para fugir deste contexto, as bases para as atitudes extractivas generalizadas na esfera politica, mas também na económica, estão estabelecidas como braços de um polvo que chegam a todo o lado. E são, não tenhamos dúvidas sobre isso, a razão profunda do nosso atraso económico e dos casos de políticos e gestores extraordinariamente enriquecidos que proliferam entre nós. Como nos ensinam Acemoglu e Robinson na sua obra "Porque Falham as Nações", a existência de instituições políticas inclusivas é uma das condições essenciais para que uma nação progrida e se possa afirmar como estando entre as mais progressivas, como a maioria de nós ambiciona para Portugal.
Claro que ninguém espera que em épocas eleitorais haja ambiente para que surjam propostas para alterar profundamente este estado de coisas. Mas é nestas alturas que a sua necessidade se torna mais evidente, pelo que os alertas  devem ser dados agora, momento em que todos podem ver a realidade. Não se trata de criticar ou atacar este ou aquele partido ou político em concreto, mas de chamar a atenção para aquilo que está agora claramente visível e afirmar que, muito mais que uma discussão ética sobre corrupção,  se trata de facto de descobrir as razões profundas do nosso atraso económico relativamente a nações que poderíamos acompanhar lado a lado, com consequências graves para o povo em geral.   

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Julho de 2015


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Pontes culturais entre países irmãos

Há pouco mais de uma semana Coimbra pôde assistir a dois momentos culturais, numa rara simultaneidade que proporcionou ainda a feliz comemoração de um importante acontecimento político.
A autarquia de Coimbra atribuiu o importante prémio literário Miguel Torga ao escritor cabo-verdiano Mário Lúcio de Sousa que acontece ser o actual ministro da Cultura do seu país. De referir que Mário Lúcio foi o primeiro autor não português a ganhar este prémio, tendo concorrido com o romance inédito "Biografia do lingua". O prémio foi-lhe entregue no salão Nobre da Câmara no passado dia 12, tendo assistido à cerimónia o primeiro Ministro de Cabo Verde e participado o secretário de Estado da Cultura do Governo português. Após a cerimónia, houve um concerto no Pavilhão Centro de Portugal pela Orquestra Clássica do Centro dirigida pelo Maestro António Sérgio Ferreira.
O concerto foi integralmente dedicado à música cabo-verdiana, com composições do músico cabo-verdiano Vasco Martins incluindo ainda a interpretação por Mário Lúcio da sua canção "Morna e cítara" com arranjo também de Vasco Martins. Esta composição lindissima, e que suscitou grande entusiasmo por parte do público, "é a única morna que se conhece com dois acordes, em que o compositor, além da temática da mestiçagem (crioulo), também pensou na Índia e no ‘tampura’, instrumento tradicional indiano".
O concerto abriu com a obra “Quatro notas na cidade”, inspirada nos pregões das peixeiras da cidade do Mindelo tendo, em alguns dos temas que se seguiram, intervido o próprio compositor como interprete. Vasco Martins é um compositor multifacetado e consagrado em várias áreas da música, sendo mesmo um dos raros compositores africanos de musica erudita. A sua musica tem sido interpretada por grandes orquestras e maestros reconhecidos, fazendo parte do reportório da Orquestra Clássica do Centro há mais de uma dezena de anos.
O concerto inseriu-se nos “Encontros com a Cultura Caboverdiana", que decorreram entre os dias 3 e 15 de Julho, em que a OCC e algumas associações cabo-verdianas como o Núcleo de Coimbra da Associação Maense em Portugal e o Grupo de Apoio aos Doentes Evacuados em Coimbra promoveram a comemoração dos 40 anos da independência de Cabo Verde.
Incluida nestas actividades, assistiu-se ainda à apresentação de um interessante livro sobre a cantora Cesaria Évora da autoria de Vasco Martins e do pintor Tchalé, editado pela OCC com o apoio da PLURAL. Houve a rara oportunidade de poder ouvir um dos autores, Vasco Martins, a falar sobre a vida da artista que levou a canção cabo-verdiana a todos os cantos do mundo, partilhando emocionadamente com a assistência aspectos da sua convivência pessoal com a cantora.
Assistir à actuação ao vivo de Vasco Martins ao piano é uma experiência que fica na memória. É visível a relação amorosa e mística do compositor com a sua obra e o instrumento. O pianista, ora toca delicadamente nas teclas, ora praticamente se estende ao longo do teclado tocando com violência, ora se levanta como quem quer ir-se embora, sem nunca deixar de fazer fluir a música intensa.
Dias inesquecíveis, que provaram como a Cultura pode contribuir para unir povos e ultrapassar separações artificiais, criando em seu lugar fraternidade, confiança e amizade.



terça-feira, 14 de julho de 2015

Escolher Presidente




Daqui a cerca de seis meses escolheremos quem será presidente da República durante os próximos dez anos dado que, atendendo ao histórico, quem for eleito (ou eleita) pelos portugueses no início de 2016 sê-lo-á de novo muito provavelmente cinco anos depois para um segundo mandato. Se os últimos anos foram importantes pela difícil situação económica e social decorrente da crise continuada que desembocou no resgate de que acabamos de sair, os próximos serão decisivos para o nosso futuro colectivo a médio e longo prazos.
As respostas aos mais diversos problemas, desde as reformas de redefinição das funções de soberania, às opções económicas e à adaptação do estado social às novas circunstâncias decorrentes da mudança das pirâmides etárias e das nossas possibilidades, deverão associar-se à União Europeia renovada que obrigatoriamente vai sair da actual crise grega. Para que tal seja possível, os futuros governos deverão ter em Belém alguém que, no topo da hierarquia do Estado, perceba tudo isso e seja factor de união entre os portugueses.
A escolha que os portugueses fizerem para a presidência da República será, assim, crucial para o futuro do país. Não se poderá cair no caminho perigoso da demagogia e do populismo, nem das propostas de quem entra facilmente na área de actuação do governo ou dos tribunais. Deveremos exigir um conhecimento profundo e sustentado do sistema político, dos seus fundamentos e das relações entre os diversos órgãos de soberania com os seus pesos e balanços relativos, sem esquecer a formação cultural e histórica que dá a percepção permanente das razões do que vai sucedendo. Isto a nível nacional, mas também a nível europeu, sem esquecer as relações com os PALOPS. Para os tempos que se aproximam, não poderemos ter um presidente que, embora seja muito conhecedor de uma área específica, ainda que essa área seja a da gestão, ou que seja muito preocupado com problemas sérios como o da corrupção se fique por aí, porque essas questões não se resolverão sem uma visão esclarecida e polivalente da sociedade. Não poderemos ter na presidência alguém sensível ao canto das sereias que, perante as visões fantasiadas e idílicas de amanhãs fantásticos, nos leve em três tempos aos infernos das consequências trágicas das ideologias extremistas, tenham elas a cor que tiverem. Nunca poderemos ter na presidência alguém que não saiba os limites dos diversos poderes e que se vá imiscuir nas competências dos outros poderes soberanos, principalmente nas áreas governativas, mas sim alguém que seja capaz de, com o seu conselho avisado e a sua colaboração discreta e inteligente, poder contribuir para uma sã e eficaz correlação de poderes.
Precisamos de quem seja capaz de falar com todos os partidos, mas que saiba de segurança profunda dada pela experiência e conhecimento, que é ao centro político que se encontram as soluções dos problemas do país, evitando experimentalismos perigosos. Alguém que, falando com os partidos, seja capaz de estabelecer o necessário distanciamento, tomando as suas decisões de forma isenta e independente, mesmo do seu próprio partido de origem.
Dado que antes das presidenciais ainda vamos ter eleições legislativas, os potenciais candidatos que surgiram até agora dificilmente respondem globalmente aos quesitos que acima coloquei, para além de serem pessoas estimáveis que merecem o nosso respeito e consideração pessoais. A meu ver, de entre todos os nomes que têm sido falados, duas pessoas estarão em condições para dar essa resposta e aguardarão, naturalmente, o fim das próximas eleições para anunciarem as suas candidaturas. 
Qualquer uma delas, mais à esquerda e mais à direita, poderá dar o seu contributo ao país da forma que me parece necessária. Refiro-me a Marcelo Rebelo de Sousa e a Maria de Belém.
Pelo que conheço das suas personalidades, a seriedade, capacidade de entrega ao país e independência pessoal estão em ambos acima de qualquer suspeita. Qualquer um deles saberá estar para lá das vontades e anseios de protagonismo ou mesmo de obtenção de poder pelos cidadãos que legitimamente lhes derem o seu apoio.
Que ambos trabalhem nos próximos tempos para que as suas candidaturas venham a ser a realidade de que o país precisa e mesmo, por que anseia. E que, logo depois das legislativas, mostrem ao país que há possibilidade de escolhas de altíssima qualidade no país, bem acima das fracas prestações de muitos políticos que por aí andam, tantas vezes levados ao colo por interesses inconfessáveis.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 13 de Julho de 2015