Nestes tempos de distracção generalizada e de falta de referenciais colectivos, não há como determo-nos em símbolos sólidos que nos testemunham uma História rica que vem desde a fundação da nacionalidade e mesmo antes, que demonstram a capacidade de resistência e de afirmação de um povo durante séculos.
É o caso da Catedral de Santa Maria de Coimbra. Eventualmente, o leitor poderá perguntar-se a que catedral me refiro. Na realidade, é a verdadeira designação do templo que todos conhecem como SÉ VELHA DE COIMBRA.
Os primórdios conhecidos deste templo datam do tempo de D. Sesnando, figura importantíssima da História de Coimbra e mesmo de Portugal, pela sua acção de organização do espaço territorial do que viria alguns anos depois a ser o reino de Portugal e de política de protecção aos mocárabes. D. Sesnando, conde-governador que morreu em Coimbra no ano de 1091, cuja memória deveria ser cultivada e explicada pelo menos aos alunos das escolas de Coimbra. D. Sesnando, que transformou Coimbra numa verdadeira capital de um extenso território, antes de o nosso primeiro Rei fazer dela capital do Reino, cujo mausoléu está na Sé Velha.
A Sé Velha é riquíssima de património arquitectónico, artístico e cultural, para além do papel religioso que teve até à época do Marquês de Pombal. De facto, em 1772 o Marquês patrocinou a transferência do culto diocesano da Sé Velha para a igreja do colégio dos Jesuítas que haviam sido expulsos em 1759, assim se substituindo a Sé Velha pela Sé Nova. Com o abandono do culto a Sé Velha viu-se igualmente despojada de grande parte do seu valioso recheio, pouco mais restando do que o esplendoroso retábulo da capela-mor e a Pia baptismal, iniciando-se um longo período de decadência e esquecimento.
O actual Prior da Sé Velha Monsenhor João Evangelista, há muito anos que tenta virar este triste curso da História, chamando a atenção para o valor e importância da Catedral de Santa Maria de Coimbra. Esta acção solitária e incompreendida durante tanto tempo começa hoje finalmente a dar os seus frutos, com a preparação de obras e acções que permitam restituir ao templo alguma da sua antiga relevância religiosa e cultural. Os turistas que visitam a Sé Velha em número de largas dezenas de milhares por ano já a descobriram. Falta que a generalidade dos conimbricenses o faça também, aqui ficando o meu modesto desafio nesse sentido.
Publicado no DC em 26 Novembro 2007
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