quinta-feira, 26 de junho de 2008

GLOBALIZAÇÃO

Uma das facetas da globalização é a livre circulação de bens por todo o mundo. Significa isso que praticamente desapareceram as quotas, pelo que a Europa em particular ficou aberta a todos os produtos que China e a Índia (entre outros) decidirem ou conseguirem produzir, aos seus próprios preços.
Para se perceber o que estou a dizer, mostro um pequeno exemplo. Uma fábrica de sapatos na Índia produz sapatos de vários tipos, entre os quais sapatos de luxo, vendidos a preços correspondentes. As sapatarias da marca, espalhadas pela Índia, têm o aspecto impecável que se pode ver nesta fotografia:

Entretanto, as unidades de produção da marca (entre nós fábricas) são como segue:

Chamo a atenção para dois ou três aspectos entre outros, mas estes são visíveis na foto:
- O trabalho é feito manualmente, praticamente sem recurso a máquinas;
- Muitos dos trabalhadores são crianças;
- Para poupar espaço, há dois níveis de trabalho: uns trabalham sobre as bancas, enquanto outros estão sentados no chão debaixo das mesmas bancadas.

Como resultado, estes sapatos de luxo saem ao custo unitário de 7 (sete) euros.

De acordo com algumas teses, o mercado global virá a conseguir um equilíbrio, mais cedo ou mais tarde, quando os custos de mão de obra e de segurança social nestes países emergentes vier a comparar-se com os nossos custos equivalentes. Desconfio que até lá as nossa economias, exceptuando as claramente desenvolvidas como da Alemanha vão passar por tremendas dificuldades que as nossas populações vão sentir da pior maneira, o que poderá trazer graves desequilíbrios sociais.
Entretanto, os líderes políticos europeus fazem o possível por esconder estes problemas que eles próprios criaram ao abrir as fronteiras de forma abrupta e sem defender os interesses das suas próprias economias.
Não digo que os países emergentes da Ásia não tenham direito ao seu próprio desenvolvimento e ao acesso aos mercados globais. A maneira desastrada como foi feita a abertura é que correspondeu praticamente a um ditar de pena de morte aos nossos produtores, por não terem sido estabelecidos esquemas de compensação pelos custos de contexto baixíssimos nesses países.

1 comentário:

Silva Brito disse...

Lamento esta faceta da globalização e compreendo a preocupação. No entanto, qualquer "esquema de compensação" não passará disso mesmo - um "esquema" - que invariavelmente, e tal como no exemplo da agricultura na UE, iria distorcer gravemente o mercado.

De facto a abertura do mercado foi desastrada e devemos apontar o dedo aos governantes - quase todos porventura - que não tiveram qualquer plano estratégico que reformasse a estrutura empresarial instalada.

O pior exemplo continua a ser a região norte. Apesar de ainda ser responsável por cerca de 40% do volume de exportações do país, o seu PIB per capita é de 70% da média nacional, sendo praticamente metade do da região de lisboa e vale do tejo. A razão é evidente e de certa forma semelhante - a estrutura produtiva é pouco qualificada e focada apenas no baixo custo.

Apesar do país beneficar (e muito) da situação actual da região norte, que contribui bastante para o equilibrio da balança comercial, todos sabemos que a estratégia está condenada a curto/médio prazo, pelo que não será qualquer surpresa continuarmos a ver empresas a fechar, o que contribuirá para "afundar" ainda mais o país.

O que é possível fazer para evitar a conjectura que se adivinha é algo que dará para muitas linhas conversa, noutra altura claro.

cumprimentos