segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

DIREITAS E ESQUERDAS


Durante os vinte anos que se seguiram ao 25 de Abril, o sistema partidário português manteve-se relativamente estabilizado. Ao centro, respectivamente à Direita e à Esquerda, estavam o PSD e o PS. À direita do PSD existia o CDS e à esquerda do PS posicionava-se o PCP.
A soma dos dois lados ia-se equilibrando, puxando ligeiramente mais para um lado ou para o outro, conforme as circunstâncias e as lideranças do PS e do PSD.
No entanto, no actual quadro de intenções de voto, quando faltam apenas quatro meses para o primeiro dos três actos eleitorais deste ano, os partidos à Esquerda somarão um pouco mais de 60% e os dois partidos à Direita um pouco menos de 40%.
As questões apresentadas para discussão na sociedade são sistematicamente de orientação ideológica de esquerda, nada indicando que o eleitor mediano se aperceba deste condicionamento de agenda. O resultado é o deslizamento para a esquerda patente nas intenções de voto, mesmo quando não há uma identificação com “a esquerda”. Há um desfasamento entre as prioridades ou causas sentidas pelo eleitorado e o panorama partidário, que as transforma em causas de esquerda.
É necessário trazer para o debate público temas que reposicionem o centro do espectro político.
Discutir a introdução do “casamento” dos homossexuais, argumentando com a reposição de direitos de igualdade, na realidade apenas tem como objectivo puxar o debate público para a esquerda. A razão invocada é perigosa, porque vem abrir a porta a muitas outras orientações e eventuais afectos que a nossa moral judaico-cristã expulsou da “normalidade” como sejam o casamento entre primos, entre irmãos ou mesmo a poligamia, entre outros.
As liberdades individuais são diariamente espezinhadas em nome de um suposto melhor funcionamento do Estado, praticamente sem discussão. Exemplos? O cartão único e o chip obrigatório para os automóveis.
A Educação e a Saúde deverão passar a ser centradas nos interesses dos cidadãos, que não deveriam ter de pagar duas vezes para terem liberdade de escolha no projecto educativo dos seus filhos e nos serviços de saúde, respectivamente.
A liberdade económica é seriamente afectada pelos desvios introduzidos por práticas de corrupção, que se traduzem num peso escondido que todos temos que pagar. É necessário introduzir o crime de “enriquecimento súbito e injustificado”, que até hoje não existe no nosso ordenamento penal.
O que nos leva directamente à Justiça. Um sistema judicial que não resolve as questões em tempo útil não serve os cidadãos e não serve a economia, com graves custos para a competitividade.
A sustentabilidade ambiental tem de ser intransigentemente defendida. A conservação daquilo que nos foi legado para entregarmos aos nossos descendentes não pode estar à mercê de pretensos “desenvolvimentos económicos” que à sombra de PIN´s e desculpas parecidas destroem o que temos de melhor e mais valioso, que é o ambiente.
Como se vê, exemplos de temas que nos interessam a todos, fora do condicionamento fracturante e mesmo para além da crise, não faltam. Venham eles, que os portugueses agradecerão, com consequências evidentes nos resultados eleitorais.

Publicado no Diário de Coimbra em 23 de Fevereiro de 2009

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