É provável que o leitor se interrogue sobre as razões que me levam a utilizar tantas vezes o mesmo título nestas minhas crónicas: “Coimbra no seu melhor”. Na realidade, a nossa Cidade tem uma característica bem portuguesa, que por razões históricas é mais pronunciada entre nós e que se revela numa intensa capacidade de dizer mal de tudo e de todos. Concedo até que essa atitude se deva a uma vontade subliminar de ouvir em resposta que não, que em Coimbra até há isto ou aquilo de bom. Mas, aqui entre nós, essa é uma atitude bem “coimbrinha” que deve ser combatida, porque desvirtua a realidade actual da nossa Cidade. E, para dificuldades, já nos chegam as provocadas pelo bicefalismo territorial do país, que esmaga a zona Centro em que nos integramos e de que Coimbra é claramente a cidade principal.
Por estas razões, o exercício activo da cidadania obriga-me a mostrar e divulgar aquilo que sinto ser o que Coimbra tem de melhor para oferecer. E não haverá textos que me dêem mais prazer escrever do que estes.
Venho hoje referir, de novo, a excelente Orquestra Clássica do Centro. Vou repetir-me em parte, porque já aqui elogiei o trabalho de todos os que dão corpo àquele projecto que deve ser acarinhado por todos.
A existência continuada em Coimbra de uma formação orquestral de música clássica de qualidade indiscutível foi um sonho de muitos ao longo de muitos anos. Encontra-se finalmente concretizado da melhor maneira, o que se deve obviamente a todos os que de uma maneira ou de outra a apoiam, mas fundamentalmente a duas pessoas, a Dra. Emília Cabral Martins e o Maestro Virgílio Caseiro. O Maestro Virgílio Caseiro dedica à OCC toda a sua competência técnica, amor à arte musical e trabalho, muito trabalho, de forma inteiramente gratuita. A Dra. Emília Martins consegue fazer o quase impossível, só comparável ao milagre da multiplicação os pães. O único apoio oficial digno desse nome vem da Câmara Municipal de Coimbra e traduz-se em 175.000 euros por ano. Para uma orquestra que custa 490.000 euros, não há outra designação para o que tem sido conseguido à custa de imensa imaginação, alguns apoios empresariais e mesmo pessoais, para além de uma excepcional capacidade de gestão.
O Estado concedeu este ano um apoio pontual de 30.000 euros à Orquestra Clássica do Centro. Não apoia regularmente a OCC, porque defende que a região Centro só merece uma orquestra clássica e já apoia a orquestra que existe em Aveiro, de dimensão e número de concertos bem reduzidos face à OCC. O mesmo critério não é aplicado pelo Estado a outras actividades artísticas, como o Teatro, havendo na nossa Região várias companhias teatrais que recebem muitas centenas de milhares de euros por ano. Não está evidentemente em causa que o Estado apoie o Teatro, mas que os critérios sejam semelhantes, não havendo artes inferiores e artes superiores
A Dra. Emília Martins escreveu há alguns dias uma carta aos jornais, naquilo que chamou de desabafo, mas que se pode considerar um verdadeiro grito de alerta em defesa da Cultura na nossa região. Perguntava mesmo porque não é possível encontrar uma plataforma de entendimento entre as duas formações orquestrais existentes na Região que, mesmo juntas, não conseguem ainda hoje em dia constituir uma orquestra sinfónica. Pela minha parte, não faço mais do que a minha obrigação em manifestar aqui todo o apreço pelo trabalho em prol da Cultura de todos os que de alguma forma apoiam a Orquestra Clássica do Centro, fazendo votos de que tenha uma longa vida e consiga evoluir para nos oferecer um leque cada vez mais variado e complexo de oferta musical de qualidade.
Publicado no Diário de Coimbra em 2 de Novembro de 2009
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