Já por diversas vezes abordei nestas linhas a questão da sinistralidade rodoviária, nas suas diversas vertentes. Talvez por durante alguns anos ter tido relação profissional com matérias relacionadas com a segurança rodoviária desenvolvi um interesse especial por esta área, que se mantém até hoje.
O número de acidentes rodoviários e de vítimas teve nas últimas duas décadas um decréscimo notável em Portugal mas mantém-se, ainda assim, num nível excessivamente elevado com grandes custos sociais e muito sofrimento. Esse decréscimo está sem dúvida ligado a uma melhoria acentuada da segurança das novas estradas e ainda ao aumento de qualidade do parque automóvel.
Continuam, no entanto, a verificar-se circunstancialismos graves à volta da segurança rodoviária com consequências muitas vezes trágicas.
Desde logo, a manutenção de pontos negros claramente identificados que são autênticas armadilhas para os automobilistas incautos. Por exemplo, na semana passada verificou-se mais um acidente com vários automóveis envolvidos e uma série de feridos com gravidade na curva ao fundo da Av. Gouveia Monteiro. Claro que estava a chover; claro que algum automobilista seguiria a mais de 30 Km/h. Mas qualquer técnico de segurança rodoviária assegura que aquele local não oferece condições mínimas de segurança de circulação, daí a frequência dos acidentes.
A atitude geral dos automobilistas perante a estrada também tem que ser radicalmente modificada. Não pode continuar a ver-se automóveis e mesmo camiões literalmente “colados” uns aos outros nas auto-estradas. Não pode continuar a ver-se que muitos automobilistas não reduzem a velocidade quando as condições meteorológicas se alteram. É verdadeiramente assustador ver automóveis a circular a 140 km/h ou mais, com chuva.
E o que dizer da fiscalização do trânsito? Hoje em dia podem fazer-se centenas de quilómetros em auto-estrada e fora dela, sem se ver um único veículo de fiscalização de trânsito. Eventualmente, lá se lobrigam uns veículos escondidos ao lado da auto-estrada a tirar fotografias de controlo de velocidade actividade bem triste de caça-multa a que, pelos vistos, está reduzida a Brigada de Trânsito, ou o que resta dela. A esse propósito, aliás, não se percebem as vantagens de ter substituído a Brigada de Trânsito por 20 unidades territoriais, com comandos diferentes e autonomia própria. As consequências que se observam na atitude generalizada dos condutores estão bem à vista e só não vê quem não quer. O que se espera por reconhecer o erro e recuperar a unidade nacional de controlo de trânsito, com critérios uniformes de actuação e aproveitando as capacidades profissionais criadas ao longo dos anos, chame-se-lhe Brigada de Trânsito ou outra coisa qualquer, se o problema é o nome? A segurança rodoviária e por extensão, todos nós que diariamente circulamos nas estradas, exigem-no.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 13 de Setembro de 2010
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