segunda-feira, 13 de maio de 2013

Realidades e esperanças



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Estamos todos recordados das razões que levaram o governo anterior a pedir a intervenção exterior, assinando o famoso “Memorando de Entendimento” com a Troika. A situação das contas públicas em 2011 era de tal ordem que não nos conseguíamos já financiar nos mercados normais: ultrapassando a famosa barreira dos 7%, os juros a que os mercados nos emprestavam dinheiro subiam pavorosamente acima dos dez, onze por cento, o que praticamente inviabilizava o financiamento do país. Foi assim que tivemos que prescindir da nossa soberania e nos obrigámos a cumprir as regras impostas pelo exterior para obtermos o financiamento necessário. O último leilão de maturidade ligeiramente acima dos dez anos, antes da vinda da Troika, foi em Setembro de 2010 com uma taxa de 5,97%. Recorda-se que os leilões realizados de dívida a longo prazo em Novembro de 2010 e em Janeiro de 2011 implicaram taxas de juro superiores a 6,7%.
Pela primeira vez desde então, na semana passada Portugal regressou aos mercados para emitir dívida a longo prazo. Colocou três mil milhões de euros a dez anos e meio, a uma taxa de 5,6%, tendo-se registado uma procura superior a 3 vezes o valor colocado. Isto é, pela primeira vez desde o memorando de entendimento, Portugal financiou-se por si próprio, o que revela uma nova confiança dos investidores no nosso país. Claro que a taxa é muito superior aos 3,2 da troika, o que significa que ainda há um longo e árduo caminho a percorrer, mas este valor veio junto com a perda da nossa soberania, estando condicionado às avaliações da troika. Neste momento aguardamos pela aprovação da sétima avaliação que está difícil de surgir, enquanto se discute se as medidas exigidas pela troika ultrapassam mesmo as fronteiras da legitimidade constitucional.
Apesar de tudo, as notícias da colocação da dívida pública são boas porque mostram que os pesados sacrifícios dos portugueses para recuperarem a sua soberania como povo de uma nação independente e poderem livremente escolher o seu caminho, estão a caminho de terem um fim.
Os comentários a esta colocação foram os mais diversos e surpreendentes. Desde aquela velha direita muito inteligente que temos vir acusar o Governo de continuar a endividar o país até à esquerda do quanto pior melhor a garantir que mesmo assim seremos obrigados a segundo resgate, ouvimos de tudo. Nem uns nem outros percebem (ou não querem que se perceba) que são como os corredores de maratona que desistem ao quilómetro 41. Até mesmo um deputado do PSD, por puro oportunismo político, veio garantir que terminou o tempo político do ministro das Finanças, o que aliás diz muito dos critérios de escolha dos deputados.
Após esta ida aos mercados e se a sétima avaliação da Troika for favorável, cumpriremos as condições para aplicação do programa OMT "Outright Monetary Transactions" anunciado em Setembro passado pelo BCE, como já sucede hoje com a Irlanda. Tal possibilitaria uma descida das taxas, dando oportunidade a uma melhoria das condições da dívida pública sem a tão falada renegociação e consequente transformação de Portugal em pária da comunidade internacional. Assim a UE cumpra o seu papel tal como os portugueses estão penosamente a cumprir o seu com os sacrifícios que lhes foram e estão a ser impostos.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 13 de Maio de 2013

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