"Para
evitar a repetição da I Guerra e das cenas de 1940, Mitterrand resolveu
exigir o euro, que teoricamente evitaria uma nova hegemonia de Berlim.
Mal preparado e mal pensado, o euro levou em pouco tempo ao resultado
contrário: ao empobrecimento dos países mais fracos, da própria França
ao nosso pindérico Portugal, e estabeleceu a Alemanha como a única
potência económica e financeira da região – o que não deixa de a
consolar e satisfazer e a conduziu a um isolamento pacato e certamente
feliz, que não quer ver perturbado pelas raças inferiores do Sul e os
seus sarilhos. O acordo entre os socialistas do SPD e as tropas de
Merkel revela bem o estado da Alemanha em 2013. O SPD conseguiu alguns
limitados gestos a benefício da populaça mais pobre. Merkel conseguiu
que não se mexesse no resto, nomeadamente na política europeia: nada de
dívidas soberanas, nada de défices para esconder a miséria de cada um e,
principalmente, nada de eurobonds para obrigar o contribuinte alemão a
pagar a irresponsabilidade e a incúria de estranhos. O contribuinte
alemão usará as suas poupanças para viver bem, embora modestamente, e
para se passear no Verão por climas quentes, como de resto inteiramente
merece. Do que Merkel mais gosta na Alemanha são janelas bem
calafetadas. Chegou agora a altura de calafetar a Alemanha. Por aqui,
nem a esquerda, nem a direita falaram disso. Continuam ainda em 1988."
Vasco Pulido Valente, Público
Sem comentários:
Enviar um comentário