O Natal é certamente o símbolo da cristandade mais adoptado
e aceite em todo o mundo. Há boas razões para isso: junta uma criança inocente
nascida num meio pobre, a sua mãe e o seu pai que o é, porque o aceita como
filho. Um conjunto notável de circunstâncias a que se juntam outras, como o
momento Histórico e o local, que instantaneamente suscitam afectividade e
adesão, antes mesmo do carácter religioso que advém do facto de a criança ser
Jesus Cristo. A representação de Natal de S. Francisco de Assis que lhe juntou
os simpáticos animais, só veio consolidar uma imagem que resiste até aos dias
de hoje.
Na realidade, o dia em que se celebra o Natal não terá a
ver com a verdadeira data do nascimento de Cristo que, através do cruzamento da
análise dos evangelhos e da história do império romano (datas dos recenseamentos)
poderá ter ocorrido no mês de Agosto, alguns anos antes da data fixada no
século IV.
Mas o que interessa é o significado. E a data escolhida pelo
cristianismo faz uma ponte para as antigas culturas que davam um grande
significado ao solstício de Inverno que ocorre a 21 de Dezembro, data em que a
noite tem a maior duração, mas também o momento a partir do qual os dias passam
a ser cada vez maiores, simbolizando a vida que se renova. Por isso mesmo, na
antiguidade, todos os grandes monumentos se orientavam para o Sol no momento do
solstício de Inverno, o que indica a importância que esse momento desde muito
cedo tinha para todas as civilizações.
Na nossa civilização ocidental perdeu-se grande parte da
ligação à Natureza, sendo tudo muito artificial, até mesmo nas culturas que se
tornaram quase independentes do clima de cada estação do ano. No entanto, o
Natal significa essencialmente paz e harmonia, simbolizados na simplicidade do carinho
que uma criança merece, por mais simples que seja o contexto em que nasce. Toda
a exploração comercial que a nossa actual sociedade, estupidamente consumista e
materialista faz associar a esta época surge como uma barbaridade sem nome
perante a existência de tantas crianças que à nossa volta padecem de
sofrimentos a começar pela fome e falta de carinho.
Caro leitor, tenha um feliz natal, mas não deixe que as
luzes, a música e as compras façam esquecer a ternura intrínseca do simples presépio,
de todos os presépios humanos.
Publicado originalmenteno Diário de Coimbra em 23 Dezembro 2013
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