Há
cerca de quatro meses exprimi nesta página o voto de que os portugueses pudessem
vir a ter a possibilidade de escolher Marcelo Rebelo de Sousa ou Maria de Belém
de entre os candidatos que viessem a surgir para as eleições para Presidente da
República, que agora já sabemos que ocorrerão em 24 de Janeiro.
Felizmente,
tal veio a suceder. Para além daquelas duas, há as candidaturas de Henrique
Neto e de Sampaio da Nóvoa, como independentes e também de Marisa Matias e de
Edgar Silva surgidas do interior dos seus partidos, respectivamente o Bloco de
Esquerda e o Partido Comunista Português. Todos estes candidatos serão
personalidades certamente respeitáveis, com as suas próprias propostas para o
exercício do mais alto cargo da República. De entre eles destaca-se claramente
Henrique Neto que tem atrás de si uma longa carreira de sucesso na área
empresarial, sendo-lhe familiar uma área importante para o país, que é a
economia, mas que é daquelas que mais claramente compete ao Governo, pelo seu
carácter executivo. Sampaio da Nóvoa aparece com alguns apoios importantes, mas
a sua carreira é exclusivamente académica, notando-se no seu discurso, a meu
ver, um claro distanciamento da realidade de um pequeno país integrado numa
união económica e financeira de que a esmagadora maioria dos portugueses não
quer sair. Os candidatos do BE e do PCP seguem a linha histórica de marcar
terreno numa primeira volta, com o fim de conseguir uma segunda, onde os
respectivos partidos possam vir a ter papel negocial.
Já
Marcelo e Maria de Belém são personalidades há muitos anos ligadas aos seus
partidos, o PSD e o PS, mas que se apresentam individualmente, de certa forma
até, pelo menos inicialmente, à revelia das actuais direcções partidárias. Ambos
tiveram percursos políticos de relevância e, acima de tudo, são políticos
experientes, centristas, que recusam radicalismos e experimentalismos. Pela sua
eleição, qualquer um deles será garantia de que a presidência se exercerá com
respeito por todas as opções políticas, mas sabendo que o futuro dos
portugueses deve ser acautelado, participando activamente na construção de
soluções governativas respeitadoras da vontade da esmagadora maioria dos
portugueses que é europeista, pretendendo integrar-se da melhor maneira na
Europa e não destrui-la por dentro.
Como
se tem visto na sequência dos resultados das últimas eleições legislativas, o
papel do Presidente da República é muito importante, dadas as características
semi-presidencialistas do nosso regime.
De acordo com a Constituição, que
devemos respeitar nas suas diversas orientações, para umas coisas mas para
outras também, cabe ao Presidente da República “nomear o primeiro-ministro,
após ouvir os partidos políticos e tendo em conta os resultados eleitorais”.
Significa isto que o Presidente (que tem a legitimidade própria de,
pessoalmente, ter sido directamente escolhido pela maioria dos votos dos
eleitores) tem aqui uma liberdade de opção que não deve nem pode alienar, dada
a sua escolha pelos portugueses significar também responsabilidade. Entre as
suas competências, o Presidente da República pode ainda, observando algumas
normas, dissolver a Assembleia da República. Pode-se ter menos consideração
pela personalidade que, em cada momento, exerce as funções de Presidente da
República. Não se pode é fingir que no nosso sistema político o Presidente da
República é uma simples figura representativa ou pretender cortar os seus
poderes e, ainda menos desrespeitá-la, dado ser o representante máximo da
República, o único escolhido directamente pelos portugueses.
Pelo
que se vai vendo, os próximos anos irão trazer-nos pela certa uma grande
conflitualidade e, pela quase certa a necessidade de encontrar de novo quem nos
apoie financeiramente para continuarmos no euro, como a maioria dos portugueses
querem, ao contrário dos que defendem o regresso ao escudo e ao “orgulhosamente
sós” da dita “oberania perdida”, sem explicar ao povo o que isso significaria.
A
escolha do Presidente da República em Janeiro de 2016 vai ser crucial para o
nosso caminho colectivo futuro. Marcelo Rebelo de Sousa reúne pessoalmente
todas as características necessárias para esse exercício. Tem uma formação
jurídica sólida, conhece o sistema político por dentro como ninguém, pensando
por si tem ideias políticas claras e possui uma capacidade notória de
comunicação, essencial para obter os necessários consensos. Por tudo isto e
muito mais, estou certo de que não estarei sozinho no apoio a Marcelo, antes
pelo contrário, estarei com a maioria dos portugueses na escolha presidencial a
fazer no dia 24 de Janeiro de 2016.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 23 de Novembro de 2015
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