Apesar das
sondagens darem actualmente Donald Trump oito pontos abaixo de Hillary Clinton,
não se pode dar como adquirida a vitória desta última nas eleições
presidenciais americanas que terão lugar já daqui a menos de noventa dias, pelo
que a resposta ao título só será dada em 8 de Novembro.
O interesse
suscitado em todo o mundo pelas presidenciais americanas é sempre inteiramente
justificado, dada a importância política, social e económica dos EUA. Interesse
ainda maior nestas eleições, atendendo aos candidatos em presença, mas
sobretudo por o representante republicano ser Donald Trump. Talvez um dia se
conheçam as verdadeiras razões desta candidatura mas a realidade é que ela está
aí e, apesar de tudo, pode vir a ser ganhadora. As sondagens têm variado o
suficiente durante os últimos meses para que seja certo que a actual margem
vantajosa para a candidata democrata se mantenha até ao fim. Até porque Hillary
Clinton tem sido confrontada com questões de alguma gravidade, que colocam em
causa a sua credibilidade para ser presidente, nomeadamente problemas com a sua
actuação como Secretária de Estado (ministra dos negócios estrangeiros). A
campanha contra a sua candidatura tem tido aspectos escuros, suspeitando-se
mesmo de intervenções secretas de potências estrangeiras. A Wikileaks também
anunciou há poucos dias que se prepara para lançar para a comunicação social
factos que, segundo Assange, destruirão definitivamente as hipóteses
presidenciais de Clinton.
O que seria
verdadeiramente uma tragédia porque, perdendo Clinton, venceria Trump.
A frase que melhor
define Donald Trump é “estás despedido” – “you are fired”, que ele utilizava
sistematicamente e com evidente gosto no programa televisivo em que entrava e
que o tornou famoso. Trump assume um discurso agressivo, atacando tudo aquilo
que ele designa como “o sistema” e que é básicamente toda a construção
democrática americana. Donald Trump assume-se como o paradigma do empresário,
mas na realidade é o herdeiro de uma enorme fortuna no imobiliário e, ao
contrário do que pretende, já abraçou muitos negócios que se revelaram ruinosos
e terá actualmente uma dívida gigantesca de muitas centenas de milhões de
dólares.
Donald Trump é o
representante americano da vaga de populismo que, desgraçadamente, varre todo o
ocidente incluindo a nossa velha Europa. Não foi por acaso que, há poucos dias,
Nigel Farage se lhe juntou num comício eleitoral com o objectivo de explicar o
“brexit” de que foi campeão e um dos principais responsáveis, tendo usado e
abusado da manipulação e mesmo mentira sistemática para atingir o seu
objectivo. Farage foi mais uma vez igual a si próprio, não apelando ao voto em
Donald Trump, mas dizendo, a uma assistência da qual pelo menos 80% não fazia
ideia de quem ele era nem sequer em que consistiu o brexit, que não votaria em
Hillary Clinton, nem que lhe pagassem. Quanto a este acontecimento, pode-se comentar
apenas que os bons espíritos se costumam encontrar.
Sentindo o chão a
fugir debaixo dos pés, o candidato republicano tem ultimamente alterado a sua
estratégia, desdizendo o que afirmara no início da campanha, tentando corrigir
erros óbvios e, pasme-se atendendo à sua personalidade, pedindo mesmo desculpa
por anteriores afirmações suas. Tudo isto enquanto vai substituindo os
responsáveis máximos da sua campanha, utilizando aqui o seu método clássico,
isto é, chamando-os à sede e dizendo-lhes muito simplesmente: estás despedido.
Para quem definiu
força e dureza como a sua imagem de marca para estas eleições, esta alteração
de estratégia a poucos meses da eleição surge aos olhos dos observadores como a
demonstração daquilo que ele próprio costuma afirmar sobre os políticos para
quem, antes de tudo, interessa a estratégia, o posicionamento e a comunicação.
E Donald Trump tem
muito por onde escolher para corrigir o seu tiro anterior contra o que chama
“politicamente correcto”. Desde os ataques racistas manipulando números de
homicídios cometidos por negros, aos ataques a imigrantes propondo a construção
de um muro na fronteira com o México, ao miserável comentário sobre a
heroicidade de John McCain, até mesmo à subliminar ameaça dos defensores da
liberdade de livre posse de armas à sua rival Hillary Clinton ou ao comentário
sobre os pais afegãos de um soldado americano morto ao serviço, a lista de
asneiras ditas e reditas quase não tem fim.
Hilary Clinton pode
não ser, e não é certamente, uma candidata perfeita para o cargo de Presidente
dos Estados Unidos da América. Mas a perfeição não existe nunca, menos ainda em
política, e Clinton tem muitas qualidades para compensar os seus defeitos. Ao
contrário de Donald Trump, em quem será difícil encontrar alguma qualidade.
Publicado no Diário de Coimbra em 29 Agosto de 2016