segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Brexit: O Reino Unido vai pagar a conta?



Há mais de meio ano que o Reino Unido e a União Europeia andam a brincar ao rato e ao gato acerca do Brexit. Esta situação está prestes a terminar. Por um lado, no Reino Unido, quer a Câmara de Lordes quer o Parlamento procederam a votações favoráveis à saída da UE e do lado desta, as condicionantes da saída surgem cada vez mais claras. Assim, tudo indica que o desencadear do Art. 50 do Tratado da UE por parte do ocorrerá no próximo mês de Março.
As negociações servirão de pano de fundo para as eleições presidenciais francesas, e as legislativas na Holanda e na Alemanha, o que evidentemente terá implicações em ambos os sentidos. Enquanto os eleitores destes países estarão atentos à forma como decorrerão essas negociações, os próprios negociadores europeus estarão de alguma forma limitados nas posições a tomar. É a primeira vez que um membro da União Europeia decide sair da União. Como é sabido, o Tratado da União contempla essa possibilidade no agora famoso Artigo 50, que na realidade teria sempre de existir, mas terá sido escrito no convencimento de que nunca seria utilizado, sendo o caminho a percorrer ainda desconhecido.
O Reino Unido pretende que a negociação se faça de forma global, isto é, discutindo as compensações financeiras em simultâneo com as questões mais duradouras e importantes, tais como futuras relações comerciais, circulação de pessoas, etc. A União pretende, já hoje de forma clara, discutir e fechar o pacote financeiro antes de partir para as negociações de todas as outras matérias. Esta questão faz toda a diferença. Existe uma probabilidade clara de que, perante a conta a pagar, se levante no reino Unido uma onda contra o Brexit que leve a um volte-face de todo o processo, através de novo referendo. Os vencedores do referendo de Junho de 2016 acenaram aos eleitores com números enganadores sobre a permanência do Reino Unido na UE, designadamente com um diferencial de fluxos de quase 500 milhões de euros desfavorável ao Reino Unido, por semana. Terá sido este número, que de resto nem é verdadeiro, o motivo principal que levou muitos britânicos a irem atrás da conversa dos populistas com Nigel Farage à cabeça: a velha questão de decidir com a mão na carteira.
Contudo, a factura que a União pretende apresentar ao Reino Unido irá cobrir os supostos custos de permanência na UE por muitos anos. Mesmo que os britânicos venham a argumentar que não é por saírem que têm que compensar a União Europeia por despesas futuras, a verdade é que todas essas despesas foram aprovadas também por eles.
O valor total da factura tem sido estimado por diversas entidades e deverá situar-se entre um mínimo de 24,5 mil milhões de euros e um máximo de 72,8 mil milhões.
Se os britânicos se recusarem a pagar, a questão seguirá para o Tribunal de Justiça e todo o processo parará, sendo que, neste caso, quem ficará a perder será o Reino Unido.
Aqueles que convenceram os britânicos de que ficariam a poupar se saíssem da União, nunca os avisaram dos custos da saída. Aliás, nem o governo britânico de Theresa May algum dia preparou os cidadãos para essa factura e o prazo de dois anos para a saída efectiva da União após a chamada do Artigo 50 é na realidade muito curto para preparar uma saída que possa minimizar todos os custos directos e indirectos. A realidade do Tratado implica que de um lado está apenas o país que quer sair e do outro os 27 que têm todos de acordar nos termos da saída e são esses que aprovam esses termos e não o que sai.
Os mais de seis meses que já decorreram desde o referendo do Brexit estão a permitir a todos os cidadãos europeus tomar consciência real dos custos da saída da União que serão para qualquer país muito superiores à manutenção. Os populistas de esquerda e de direita que conseguem os seus intentos pela defesa de um nacionalismo serôdio, pela ameaça, pelo medo e pela mentira tenderão a ficar cada vez mais expostos na sua argumentação. E certamente que as camadas da população mais jovens, já nascidas ou tornadas adultas numa Europa sem fronteiras, com livre circulação de pessoas e bens, não se conformarão em viver com fronteiras de novo instaladas que aliás nunca conheceram, incluindo os jovens britânicos.

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