Porque as questões
verdadeiramente importantes têm uma dimensão que não deixa que se escondam, regresso
hoje a algumas das ideias que tenho abordado nestas linhas com alguma
frequência, incluídas naquilo que penso ser a estratégia para um
desenvolvimento de Coimbra que permita à nossa Cidade afirmar-se no contexto
nacional.
A recuperação
económica do concelho não se fará sem conseguir investimento privado com
dimensão. Já escrevi que a área da Saúde deve ser acarinhada e desenvolvida, a
fim de que não se venha a perder a vantagem competitiva que Coimbra possui, hoje
essencialmente na área dos serviços. Já existe cá alguma indústria de grande
qualidade e com alguma dimensão na produção de medicamentos, mas a extensa e
excelente investigação na área farmacêutica e nas de oftalmologia e
neurociências deverão ser potenciadas na área económica com vantagens para
Coimbra, mas também para o país.
O investimento é
crucial para que Coimbra ultrapasse um impasse económico que já dura há
demasiados anos e cujas causas têm sido escalpelizadas por muitos, havendo que
seguir em frente. A autarquia deverá fazer muito mais do que ter uma “via
verde” para o licenciamento. Tem que ser dado um passo adiante e criar-se uma
estrutura flexível que acompanhe realmente os processos, mas que faça muito
mais do que isso. Têm que ser colocadas “antenas” para atrair investimento,
quer na Comissão de Coordenação onde os investidores que pretendem entrar na
região vão normalmente bater à porta, mas também na AICEP (Agência para o
Investimento e Comércio Externo de Portugal) e mesmo nas entidades financeiras
ligadas ao investimento, para o que se deve adoptar uma linguagem própria
eficaz.
Coimbra tem
desenvolvido um papel polarizador na região como se comprova, por exemplo,
pelas variações de população residente nos últimos censos. Se o concelho de
Coimbra apresenta uma pequena retração, tal é mais do que compensado pelo
aumento populacional nos concelhos envolventes, casos de Condeixa-a-Nova, Montemor-o-Velho,
Miranda do Corvo, Lousã, Vila Nova de Poiares e Mealhada. Há claramente uma
metropolização em marcha, também visível no número de movimentos pendulares
centrados em Coimbra, que atingem um número total diário superior a 47.000
entradas e 12.000 saídas. Torna-se evidente que as dinâmicas económicas e
sociais de Coimbra não se podem hoje separar da envolvente que apresenta muitas
características de área metropolitana. Este facto tem consequências para
Coimbra, como a de se ver obrigada a dar resposta a uma população presente na
Cidade superior a 200.00o pessoas, com todos os custos inerentes em termos de
infraestruturas. Como todas as áreas metropolitanas estabilizadas ou em
formação, as acessibilidades e os transportes públicos são estruturantes. Daí a
necessidade de estabelecer condições para que as viagens pendulares sejam
rápidas, seguras e económicas, devendo prever-se transportes de massa que
respondam à elevada procura nas horas de ponta da manhã e do fim do dia. Tem
que se ter em conta que as variações de população e os movimentos pendulares referidos
têm muito a ver com os preços da habitação que são evidentemente mais baixos
nos concelhos vizinhos do que na área central de Coimbra, a que, no entanto, se
devem naturalmente adicionar os custos de transporte diário. No caso de
Coimbra, o transporte ferroviário que foi retirado à ligação com Miranda do
Corvo e a Lousã veio, para além dos inconvenientes pessoais de milhares de
pessoas, desestabilizar todo um desenvolvimento urbano e social em marcha que
deve ser reposto, seja com comboio, seja com metro de superfície, com a maior
celeridade.
Mas, além dos transportes,
há toda uma série de infraestruturas que deverão ser tratadas em conjunto por
Coimbra e municípios vizinhos, como sejam a distribuição de águas e o
saneamento, mas também redes escolares e mesmo planeamento do território, já
que a habitação é o primeiro aspecto que os próprios cidadãos tomam nas suas
próprias mãos ao escol
herem concelhos diferentes para morar e para trabalhar.
Coimbra tem vindo a
sofrer de uma diminuição objectiva do seu papel na Região Centro. Em boa parte,
tal deve-se a estratégias erradas de desenvolvimento regional que pretendem
esta região como polinuclear, colocando as diversas capitais de distrito em pé
de igualdade, mais parecendo que se pretende dividir para reinar. Quer a
dimensão populacional relativa das diversas cidades da região, quer a sua
importância em diversas áreas fundamentais como ensino superior ou saúde
colocam Coimbra num patamar completamente diferente. Mas, para além de exigir o
que lhe é devido, Coimbra também deve olhar por si. E não pode ter quaisquer
complexos em assumir um papel polarizador em toda a Região Centro/BEIRAS, no
que deverá ser a única hipótese desta região não se deixar abafar pela intensa
força centrípeta das áreas metropolitanas de lisboa e Porto.
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