No dia 17 de Junho deste
ano, ainda o Verão não tinha começado, ocorreu a grande tragédia de Pedrógão
Grande, provocando a morte de 64 mortos, nas condições de que todos estamos
recordados. Naquele dia, o Estado falhou numa das suas funções mais básicas,
que é garantir a segurança dos cidadãos.
O tempo foi passando, o
Verão decorreu sem incidentes de maior no que toca a incêndios, veio Outubro, o
Governo como habitualmente entregou a sua proposta de Orçamento Geral de Estado
para 2018 no último momento legal e a Comissão Técnica Independente entregou o
seu relatório dentro do prazo estabelecido o qual, por uma vez, foi
imediatamente tido como sendo de excepcional qualidade.
No que respeita aos
incêndios, a proposta de OGE para 2018 pouco alterava em relação ao anterior
mostrando que, apesar do sucedido em Pedrógão, os incêndios não constituíam uma
prioridade governamental. Quanto relatório da CTI, o Governo informou o país que
iria promover alterações na organização da prevenção e combate aos incêndios de
acordo com o aí proposto. Numa completa modorra governativa, esquecia-se
deliberadamente a gravidade do que no relatório se escreveu sobre as causas do
sucedido em Junho. Nada na actuação do Governo indiciava que reconhecesse
responsabilidades das suas estruturas de combate aos incêndios no sucedido em
Pedrógão.
Estava tudo na paz dos
anjos como se costuma dizer, quando surgiu o fim de semana de 15 de Outubro. Já
se tinha ultrapassado a fase crítica designada por “charlie” no que toca a
incêndios e passado à fase “delta” no dia 1 de Outubro. Em consequência, os
meios de combate aos fogos tinham sido drasticamente reduzidos. A definição
burocrática da época de incêndios desenhada pela ANPC assim o mandava fazer. E
a tragédia aconteceu. Um incêndio iniciado na Serra da Lousã encontrou as
condições climatéricas óptimas para se desenvolver e quase toda a Beira ardeu,
deixando novamente dezenas de pessoas mortas, centenas de casas ardidas,
inúmeras fábricas destruídas, mais de duzentos mil hectares ardidos numa
devastação inaudita incomparável a qualquer situação desse tipo acontecida
antes.
O mais grave e mesmo
aflitivo em toda esta situação é constatar que, entre 18 de Junho e 15 de
Outubro nada, mas mesmo nada, foi feito para prevenir uma nova tragédia que globalmente
contabiliza mais de cem mortos, pessoas que viviam entre nós e que
desapareceram, vítimas da falência do Estado em todas as suas dimensões. A
coberto de aguardar por um relatório o Governo ficou burocraticamente à espera
que o tempo passasse e eventualmente fosse esquecido Pedrógão como um azar
pontual mostrando que o Governo, no seu conjunto, não tinha aprendido nada com
a tragédia de Junho.
As atitudes pessoais dos
governantes durante os incêndios de Outubro, com o Primeiro Ministro à cabeça,
vieram sobrepor-se à manifesta incapacidade do governo lidar com esta crise. A
arrogância patenteada evidenciou a soberba e falta humildade de uma determinada
classe política cujo poder ofusca a visão do país real que é Portugal.
Salvou-se o Presidente
da República que, ao contrário daqueles, se juntou aos portugueses no seu
imenso sofrimento e, a partir de Oliveira do Hospital, resolveu dar um murro na
mesa da insensibilidade e incapacidade de tomada de decisões. Obrigado,
Presidente Marcelo.
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