“É, pois, da confluência destes legados -
social-cristão, social-liberal com afloramentos social-democráticos e
social-tecnocrático – que nasce o PPD!”
Pela caneta insuspeita de Marcelo Rebelo de Sousa no
seu “A REVOLUÇÃO E O NASCIMENTO DO PPD” sabemos tudo o que historicamente se
passou nos primeiros tempos do PSD. Nos primeiros dias de Maio de 1974 os fundadores do PPD,
Sá Carneiro, Pinto Balsemão e Magalhães Mota, disputavam com o PS os membros e
aderentes da SEDES que se distribuíram pelos dois partidos, moldando em grande
medida, o que estes viriam a ser no futuro. Foi assim que, no PSD, desde logo
conflituaram duas grandes linhas programáticas que, se durante a maior parte do
tempo conviveram e até se apoiaram numa visão reformista mais abrangente, por
vezes levaram a lutas e divergências com dissensões graves e abandonos do
partido. Tal foi mais visível nos anos a seguir ao 25 de Abril, tendo Sá
Carneiro tido que travar lutas muito sérias até à sua morte em Dezembro de 1980,
para conduzir o PSD à linha que pensava ser a mais adequada ao desenvolvimento
do país, saído de uma ditadura de mais de quarenta anos e de uma tentativa de
revolução socialista após a libertação de Abril de 74.
Logo em Maio de 74 Sá Carneiro
mostrou a Barbosa de Melo um anteprojecto de bases programáticas para o novo
partido, que de imediato foram consideradas por este como sendo de um partido
liberal e não social-democrático. O grupo de Coimbra foi então encarregado de
elaborar as linhas programáticas do novo partido, aí aparecendo as palavras
“socialismo” e mesmo “projecto socialista”. Era um tempo em que até Mário Soares
definia o PS como um partido “não burguês” e como sendo o partido da classe
operária.
Como sabemos, a realidade da vida
ditaria coisas muito diferentes. Sá Carneiro defrontou sucessivas investidas
esquerdizantes, por vezes com contornos épicos. Primeiro foi Sá Borges e o seu
grupo que acabaram por abandonar o PPD em Dezembro de 1975. Em Junho de 1978 a
luta interna acentuou-se surgindo o chamado “documento dos inadiáveis” a que se
seguiu em Abril de 79 o abandono do partido por parte de 37 deputados, ficando
o grupo parlamentar do PSD com apenas 36 deputados. Contudo, no fim desse ano
Sá Carneiro é eleito primeiro-Ministro ao vencer pela primeira vez as eleições legislativas
com a Aliança Democrática, vitória repetida em Outubro do ano seguinte, dois
meses antes de ser assassinado.
Foi com Cavaco Silva que o PSD
viria a ser governo sozinho em 1987 e 1991, tendo vencido essas eleições com
maioria absoluta, federando as direitas, já que o CDS obteve menos de 5% em
cada uma delas. Em 1985 Cavaco Silva havia chegado ao governo em minoria, pelo
fenómeno anómalo do PRD, depois da experiência do Bloco Central de 83, com
Mário Soares como primeiro-Ministro e Mota Pinto vice primeiro-Ministro, ter
provocado forte contestação dentro do PSD.
Em 1999 seria Marcelo Rebelo de
Sousa a tentar outra aliança à direita, enquanto líder do PSD. A sua liderança
foi então objecto de pesadas críticas internas por parte de sectores liderados
por Durão Barroso que entendiam não poder o PSD aliar-se a um CDS liderado por
Paulo Portas, o que levou mesmo à demissão de Marcelo da presidência do
partido. O líder seguinte, o próprio Durão Barroso, não teve no entanto
quaisquer problemas em formar governo com Paulo Portas a seguir às eleições de
2002, após a desistência de Guterres perante o pântano que ele próprio criou.
O PSD voltou a ganhar as eleições
em 2011, formando governo com o CDS sendo primeiro-Ministro Pedro Passos
Coelho, na sequência da pré-bancarrota que obrigou Sócrates a chamar a troica
com um programa de ajustamento e consequente forte austeridade. Em 2015 a
coligação PSD/CDS foi a mais votada, mas o PS com António Costa conseguiu
negociar o apoio parlamentar da extrema-esquerda - comunistas e bloquistas, e
tornar-se primeiro-Ministro, até hoje.
Todo este histórico ensina várias
coisas. Em primeiro lugar, as veleidades de socialismo democrático do PSD foram
ultrapassadas pelo próprio Sá Carneiro e não passam hoje de curiosidade
histórica de um momento político bem datado do país. Por outro lado, o PSD só
governou quando, sozinho ou coligado com o CDS, se conseguiu afirmar
convictamente como alternativa ao PS.
Texto publicado originalmente no Diário de Coimbra de 11 de Fevereiro de 2019
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