segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Duque de Coimbra – um colóquio



Estou convencido de que, se for perguntado nas ruas da nossa cidade quem foi o Duque de Coimbra, será uma pequena minoria a responder afirmativamente. Mas os que o fizerem certamente mostrarão de imediato um grande entusiasmo por uma personagem que não deixa indiferente quem conhece minimamente o que foi a sua vida e a importância que teve em múltiplos aspectos da nossa História.
Esse grande interesse foi claramente visível num colóquio organizado pelo Tribunal da Relação de Coimbra, no âmbito das comemorações do centésimo aniversário da sua criação. Surpreendentemente, o magnífico salão do Tribunal da Relação esteve cheio desde as dez da manhã até meio da tarde, para ouvir os palestrantes convidados, pelo que é da mais elementar justiça felicitar vivamente o juiz presidente do Tribunal da Relação Dr. Luís Azevedo Mendes pelo sucesso de mais esta iniciativa. O sucesso foi muito para além do elevado nº de pessoas que se deslocaram ao Palácio da Rua da Sofia, dada a qualidade e relevância das apresentações. De salientar que nos claustros do Tribunal está uma interessantíssima exposição sobre Dom Pedro, que se poderá (e deverá) visitar até ao fim de Abril.
Coube ao Dr. Luís Azevedo Mendes demonstrar a importância fundamental das “Ordenações Afonsinas” na História do Direito em Portugal. O Tenente Coronel-Ferreira Gapo da Brigada de Intervenção dissertou sobre os Valores Militares nos dias de hoje em comparação com os do tempo do Duque de Coimbra e de como este os assumiu em alto grau toda a vida, razão para que seja o Patrono da Brigada de Intervenção. O Doutor José Adelino Maltês não deixou os créditos por mãos alheias e foi brilhantíssimo na sua apresentação; Adoptando deliberadamente um tom provocatório, mostrou como D. Pedro foi e é importante em áreas tão diversas como a teoria política, as áreas sociais e a História do Direito em Portugal. O seu entusiasmo mostrou como a figura do Duque de Coimbra lhe é cara, a diversos níveis, não deixando de sustentar como a sua regência foi um tempo de República com Monarca, como aliás já havia sucedido na subida ao trono de D. João I e haveria de acontecer em 1640, razão por que a Democracia tem profundas raízes em Portugal, ao contrário do que muitos julgam. O Doutor Andrade Moniz analisou aprofundadamente a influência das Culturas Clássica e Bíblica em D. Pedro, designadamente na sua “Virtuosa Benfeitoria”, obra seminal da actuação política com total respeito pelo Bem-Comum que, digo eu, os dirigentes políticos dos nossos dias bem poderiam ler para terem um pouco mais de densidade na sua acção. O Doutor Alfredo Pinheiro Marques brindou-nos com uma comunicação que seria sobre a influência de Dom Pedro na História Local e Regional da Beira Litoral e no Desenvolvimento Marítimo Português; na realidade, partiu da abordagem desses temas para uma visão alargada dos Descobrimentos, de como se deverão ter realizado na prática, assim como do papel determinante que neles teve D. Pedro e a sua influência em D. João II, o Príncipe Perfeito. Não esqueceu ainda o papel dos historiadores na busca da Verdade libertadora.
Coube ao Almirante Silva Ribeiro apresentar a sua visão sobre a “Estratégia Nacional no tempo de D. Pedro”, o que fez com a sua proverbial simpatia, mas com uma profundidade de conhecimentos sobre a matéria só possível em alguém que, não por acaso, ocupa o mais alto posto militar das Forças Armadas portuguesas, com a curiosidade de o Sr. Almirante ter feito parte dos seus estudos liceais em Coimbra, no Liceu D. João III. Oportunidade rara proporcionada pela Relação de Coimbra para ouvir um especialista falar sobre estratégia e deixar em todos os assistentes a vontade de conhecer ainda mais e melhor aquele tempo e as relações político-militares de Portugal com o resto do mundo de então,
Esta crónica tem como motivo principal uma acção cultural ocorrida na nossa cidade sobre Dom Pedro, Duque de Coimbra, não sendo sobre a sua figura. Não posso, contudo, deixar de dizer que Dom Pedro é uma personagem fascinante da nossa História que a Cidade não pode esquecer, muito antes pelo contrário deve recordar e celebrar como sendo mesmo identitária, pese embora todos os esforços que alguns historiadores ao longo dos tempos têm feito para o esconder. Foi também por essa razão que muitos dos assistentes ao Colóquio estranharam que não tivessem estado presentes representantes da Câmara Municipal de Coimbra nem da Universidade de Coimbra, embora o presidente da Câmara da Figueira da Foz e presidente da CIM Coimbra o tivesse feito. Será que a sombra negra de Alfarrobeira ainda se fará sentir no nosso tempo?

Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 25 de Fevereiro de 2019

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