Na próxima quinta-feira, 12 de
Dezembro, os britânicos vão votar em eleições legislativas antecipadas,
naquelas que serão as terceiras eleições em menos de 5 anos. Desde o referendo
do Brexit de Junho de 2016 que o eleitorado britânico se tornou especializado
em enganar previsões. Por outro lado, o sistema político britânico já não está
dividido apenas em dois grandes partidos, havendo quatro partidos com grande
expressão, a que acresce a questão de ser contra ou a favor do Brexit, que se
sobrepõe às opções político-ideológicas clássicas. Contudo, ao que tudo indica neste
momento, quem sairá vencedor deverá ser o partido Conservador e claro, o seu
líder e actual primeiro-Ministro Boris Jonhson. O Brexit deverá ser, assim, uma
realidade a curto prazo.
Não tenho grandes dúvidas de que,
a ser assim, todos perderemos. Perderá o Reino Unido que rapidamente descobrirá
aquilo que devia ser uma evidência anterior: os países que até agora acenaram
com a vantagem de acordos bilaterais passarão a ser concorrentes ferozes na
arena mundial. Pelo seu lado a União Europeia perderá uma das maiores economias
e, fundamentalmente, verá abrir-se uma brecha pela qual mais países, por uma
razão ou por outra, poderão ceder à tentação de ir atrás de promessas vãs de
reconquista de soberania. Finalmente, e mais importante, perderão os cidadãos
de ambos os lados que verão surgir diversos tipos de novas e antigas fronteiras
dificilmente aceitáveis pelas novas gerações que já nasceram na União.
Por mais difícil que seja de entender o desejo de muitos
britânicos de saída da União Europeia, essa posição não nos deve poder esquecer
o que foi a História da Europa nos últimos cem anos, bem como do papel que nela
aqueles desempenharam. Em Maio de 1940 as tropas nazis de Hitler invadiram os
Países Baixos e a França, entrando em Paris em 14 de Junho. Parecia que nada
podia fazer frente à barbárie alemã e, em Julho, Hitler ordenou que se
preparasse a invasão da Grã-Bretanha. Para tal, era necessário anular
previamente as defesas britânicas, pelo que os aviões alemães procederam a um
bombardeamento massivo do sul de Inglaterra. E foi aí que os britânicos
mostraram uma fibra notável, aguentando com os bombardeamentos, enquanto
milhares de pilotos da RAF se encarniçavam contra os bombardeiros alemães, na
que ficou conhecida por «Batalha de Inglaterra» que decorreu entre Junho e
Outubro de 1940. O seu heroísmo foi tal que Churchill o descreveu como «nunca
tantos deveram tanto a tão poucos» e a invasão das ilhas britânicas pelos
exércitos alemães nunca aconteceu, facto essencial para a futura libertação da
Europa do jugo nazi.
Relembro este momento da História recente da Europa porque,
sem conhecermos o passado não percebemos o presente e não podemos preparar o
futuro. Não por acaso, a paz europeia das últimas sete décadas coincide com uma
união entre os países europeus, seja por motivos meramente económicos como foi
a CEE, seja também com bases políticas como é hoje a União Europeia. A Grécia
clássica é muitas vezes apontada como a casa da democracia mais antiga tendo os
autores gregos estabelecido as bases filosóficas dessa experiência que, embora
de curta duração, ainda hoje é estudada.
Mas a Grécia antiga foi também palco
de experiências que deviam ser sabidas para melhor percebermos como funcionam e
podem acabar as uniões de países. As diversas ligas das cidades-estado funcionaram
umas vezes em volta de uma Cidade proeminente, outras vezes como defesa contra
Cidades hegemónicas. A organização interna dessas ligas adoptou diversas formas
de maior ou menor integração que podia chegar a um governo quase federal. Uma
dessas ligas, a de Epiro (300/170), tinha uma constituição federal, um
conselho, regras tributárias conjuntas, uma divisa comum e liberdade de circulação
individual.
O fim dessas ligas esteve normalmente ligado à sua divisão
interna perante problemas externos. Nós, europeus de 2019, bem poderíamos
estudar e conhecer o nosso passado longínquo, para não repetirmos erros
passados. Mas temo que isso não aconteça, em boa parte por falta de cultura,
mas também porque a política europeia é cada vez mais definida por burocratas e
financeiros que de arte política pouco conhecem e de História muito menos.
Originalmente publicado no Diário de Coimbra em 9 de Dezembro de 2019
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