Se há uma mudança substancial que se está neste preciso momento a verificar na sociedade portuguesa, e que hoje já é possível mensurar, é o papel das mulheres. Todos sabemos que essa mudança se iniciou com uma primeira consciencialização da sua situação por parte das mulheres no início do Séc. XX tendo o feminismo tido um papel importante na mudança. Nos anos 60 deu-se um passo essencial com a vulgarização da utilização de novos e eficazes métodos contraceptivos, nomeadamente a pílula, que permitiu às mulheres definirem a sua maternidade, escolhendo ter ou não filhos e quando. Abriu-se assim às mulheres o mundo laboral em quase igualdade com os homens, sendo que esse «quase» tem sido objecto de tentativas de anulação através de leis de protecção às mulheres na maternidade. E, com o objectivo de assegurar a igualdade plena, nos nossos dias a legislação laboral já proíbe que haja pagamento diferenciado a homens e mulheres, para o mesmo trabalho.
Fruto dessa evolução, a situação é hoje completamente diferente de há escassas dezenas de anos. Às profissões em que tradicionalmente havia mais mulheres do que homens, como no ensino ou na enfermagem, juntam-se agora outras profissões de grande relevância social: médicas-56%, magistradas-62% e advogadas-55%. Dado que das universidades saem mais mulheres diplomadas (58%) do que homens, é perfeitamente lógico que dentro de pouco tempo os cargos de chefia nos sectores público e privado sejam maioritariamente ocupados por mulheres. Aliás, se formos ver os ganhos médios mensais de homens e mulheres no sector público, verificamos que o das mulheres é de €1.184 e o dos homens de €1.057. Isto significa claramente que as mulheres que trabalham no Estado têm mais formação do que os homens, que ocuparão cargos de menor qualificação e mais braçais. Só por curiosidade, e para comparação, em termos gerais os homens têm em Portugal um ganho médio de €1.039 e as mulheres de €888,60.
Estas mudanças não se deram, nem estão a dar, sem choques na sociedade, em particular com muitos homens ainda culturalmente dominados por um machismo retrógrado ou mesmo por um marialvismo incutido na educação durante séculos que se pode bem sintetizar num conselho que as próprias mães davam aos filhos homens na sua juventude: «namora-as a todas, mas não cases com nenhuma».
Regressando às estatísticas, não posso deixar de referir alguns dados que nos devem fazer pensar e chamar para os caminhos que ainda falta percorrer: a taxa de alcoolismo é maior entre homens, a taxa de suicídio é maior entre homens, há mais sem-abrigo homens que mulheres, a taxa de abandono escolar precoce foi, em Portugal, em 2020, mais do dobro entre rapazes do que entre raparigas. Será difícil não concluir que, pelo menos em parte, as alterações sociais têm muita dificuldade em ser compreendidas ou integradas por parte do lado masculino da sociedade.
E é por isso que chamo «masculinismo» à nova atitude dos homens perante as alterações profundas da sociedade, nomeadamente nas relações entre homens e mulheres. Relação essa que deve ser de igualdade de oportunidades e de deveres, em respeito pelas circunstâncias comuns mas também pelas particularidades que estabelecem as diferenças. Daí que o masculinismo e o feminismo devam caminhar lado a lado e não em sentidos opostos. Como já escrevi anteriormente, homens e mulheres são as duas faces de uma mesma moeda. São o resultado de milhões de anos de desenvolvimento natural e têm diferenças essenciais e inultrapassáveis a nível genético, isto é, no mais íntimo do ser, que se manifestam nos mais diversos aspectos do corpo e mesmo do comportamento, que se conjugam numa complementaridade natural mas complexa. Aspectos sociais que são vulgarmente apontados como importantes não passam disso mesmo: aspectos exteriores herdados de modas e hábitos sem qualquer importância fundamental. Por exemplo, ouço muito dizer que as mulheres progrediram quando puderam passar a usar calças em vez de saias e é verdade, já que é um vestuário que permite maior liberdade de movimentos. Já quando ouço dizer que os homens também progrediriam se usassem saias lembro que nada proíbe que o façam e que há locais onde os homens as usam tradicionalmente, por exemplo na Escócia só que, na realidade, tal uso é mais uma manifestação de virilidade ostensiva, quando não mesmo algo violenta, do que outra coisa. Virilidade que, evidentemente, faz parte da sexualidade masculina e que pode e deve ser salutar e não animalesca porque, lá está, a humanidade é resultado de milhões de anos de evolução, distinguindo-se também aqui do resto do reino animal.
Na realidade os novos papéis da mulher a ser considerada, respeitada e amada pelo homem como completa e inteira, no corpo e personalidade, implicam toda uma nova e diferente construção do relacionamento masculino /feminino numa base de partilha e respeito mútuos. Os homens deverão, contudo, ser defendidos de se cair num extremo que baila já em alguns meios feministas, no qual os homens perderiam a paternidade passando a ser apenas produtores e fornecedores de gâmetas a recolher/comprar num qualquer banco de sémen. Assim se substituiria o amor pelo comércio. Masculinismo, precisa-se mesmo, também.
Fotos recolhidas na internet
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