Há uma semana celebrou-se o dia internacional da Mulher. Marca histórica da afirmação das mulheres cujas obras, durante séculos, e em particular no domínio artístico, foram desconsideradas de uma forma inadmissível havendo, por exemplo, muitas mulheres compositoras e pintoras que ainda hoje são pouco conhecidas da população em geral. Mais do que andar para aí a obrigar a alterar linguagens, parece-me muito mais importante relevar a obra de mulheres que marcaram a sociedade e a tornaram melhor, pela sua Arte. Ao longo dos anos tenho abordado nestas linhas a vida e obra de algumas grandes artistas que se dedicaram à pintura de uma forma excepcional. Recordo, nomeadamente, as crónicas dedicadas a duas artistas excepcionais no domínio da pintura: Josefa de Óbidos e Artemisia Gentileschi, a primeira nascida em Espanha, tendo vivido quase toda a sua vida em Portugal e a última italiana, ambas do Sec. XVII.
De entre as mulheres portuguesas pintoras do nosso tempo, algumas há que se tornaram figuras incontornáveis da Cultura portuguesa. Cito apenas algumas dessas grandes pintoras, todas elas personagens fascinantes, sabendo que de fora desta lista ficarão injustamente muitas outras.
Maluda, nascida na antiga Índia portuguesa e que nos deixou com o final do Sec. XX, abordou nas suas pinturas retratos, paisagens urbanas e elementos arquitectónicos, de que as suas janelas são justamente famosas. O trabalho artístico de Maluda é grandemente admirado, havendo reproduções das suas «janelas» pelo mundo inteiro, e foi também reconhecido pelo Estado português, que lhe atribuiu a Ordem do Infante Henrique.
Sarah Affonso foi aluna de Columbano na Escola de Belas Artes de Lisboa e, na década de 1920, esteve por duas vezes em Paris onde expôs, tendo regressado a Lisboa integrando-se com êxito no movimento modernista, de que foi figura de proa. Em 1934 casou com Almada Negreiros e, se nos primeiros anos de casamento produziu alguma da sua obra mais importante, a partir de certa altura praticamente abandonou a pintura. Em 1981 recebeu a Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Maria Helena Vieira da Silva foi, muito justamente, considerada uma das maiores pintoras do sec. XX, a nível mundial. Nascida em Lisboa em 1908, estudou na Academia de Belas Artes de Lisboa tendo, a partir dos anos 20, partido para Paris onde continuou os seus estudos artísticos integrando-se nos meios modernistas da capital francesa onde passou a viver permanentemente após o seu casamento com o pintor húngaro Árpád Szenes. Após o final da II Grande Guerra, regressaram a Paris, de onde tinham saído com o advento do Nazismo, onde desenvolveram as suas actividades artísticas. Vieira da Silva teve uma carreira artística notabilíssima reconhecida, em França onde se tornou Dama da Ordem Nacional da Legião de Honra em 1979, e depois do 25 de Abril em Portugal, tendo-lhe sido atribuídas as condecorações da Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.Tendo falecido em 1992, em Lisboa merece ser visitado o Museu da Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva às Amoreiras.
Graça Morais é uma pintora nascida em 1948 em Trás-os-Montes, tendo estudado pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto. Entre 1976 e 78 viveu em Paris, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. A sua produção artística tem sido muito intensa e de uma qualidade reconhecida em Portugal e no estrangeiro – Brasil, Estados Unidos, Espanha. França, China/Macau, entre outros países, tendo participado em inúmeras mostras e exposições colectivas e individuais. Em 1997 foi editado o livro «Graça Morais», com textos de Vasco Graça Moura e Sílvia Chico. Foi distinguida com o grau Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Paula Rego dispensa apresentações sendo, desde há bastantes anos, considerada como uma das maiores pintoras da actualidade. Nascida em Lisboa em 1935, em 1952 partiu para Londres, onde estudou na Slade School of Fine Art escola onde, na década de 80, passou a ser professora convidada. A sua entrada para as colecções do Tate Museum marcou decisivamente o seu lugar na pintura, tornando as suas obras que nunca deixam de provocar emoções fortes em quem as vê, famosas e consideradas em todo o mundo. Paula Rego viu a ser obra ser homenageada um pouco por todo o lado, salientando-se a Grã-Cruz da Ordem de Sant'Iago da Espada e a nomeação «Dame Commander of the Order of the British Empire» pela sua contribuição para as Artes pela Rainha Isabel II. Em Cascais foi construída a Casa das História para albergar parte da sua obra e ali poder ser apreciada por todos.
Muitas outras pintoras portuguesas merecem lugar de destaque, devendo-se nomear Joana do Salitre no sec. XVIII, Josefa Greno no sec. XIX, Mily Possoz, Ilda David ou Ana Vidigal na actualidade.
Há, no entanto, outra grande pintora portuguesa que não posso deixar de aqui salientar. Aurélia de Sousa estudou na Academia de Belas Artes do Porto, tendo participado em numerosas exposições. Estudou seguidamente em Paris e desenvolveu um estilo próprio, naturalista e realista, mas com influências impressionistas que a colocam entre os melhores artistas da pintura portugueses do seu tempo. Faleceu em 1922 apenas com 55 anos de idade. O seu auto-retrato com capa vermelha, em exposição no Museu Nacional Soares dos Reis, é razão mais do que suficiente para uma viagem ao Porto
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 22 de Março de 2021
Fotos retiradas da Internet
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