Uma das primeiras obrigações de qualquer autarquia é cuidar do espaço público. Quando tal não acontece, as implicações no bem-estar das populações e consequente qualidade de vida são graves. A qualidade do espaço público urbano é essencial para a sustentabilidade das cidades, a nível ambiental, mas não só. Quando se fala de espaço público é frequente considerar apenas as ruas, com os seus passeios e vias rodoviárias, importantes para a mobilidade, mas os parques verdes e jardins têm uma importância semelhante.
Felizmente, Coimbra tem diversos parques urbanos que transmitem à cidade uma vivência muito própria. À cabeça surge, naturalmente, o Jardim Botânico com a sua mata anexa. Trata-se de um parque de excelente qualidade, muito bem cuidado, talvez por pertencer à Universidade de Coimbra e servir de base a estudos e trabalhos científicos. Está aberto à comunidade de forma gratuita e tem características únicas que lhe conferem uma apetência grande para adultos, mas também crianças. Talvez por encerrar ao fim do dia, é um parque seguro e de muito agradável fruição.
O mesmo não sucede com o parque de Sta Cruz, a Sereia como é mais conhecido, com um valioso património arquitectónico e artístico permanentemente alvo de um vandalismo inaceitável. Há muitos anos que a Autarquia não consegue acertar com uma solução que resolva o problema da falta de segurança quase permanente, mas acentuada a partir do meio da tarde. É igualmente notória a falta de cuidado com a manutenção de equipamentos e limpeza, o que evidentemente diminui ou anula mesmo a capacidade de atracção deste belíssimo parque situado mesmo no interior da Cidade. Não seria altura de dotar a Sereia de estruturas de utilização colectiva aberta e atraente que chamem os moradores vizinhos, mas não só, de forma a trazer para dentro dela cidadãos das mais diversas faixas etárias?
A Cidade sofreu uma mudança radical, para melhor, com a construção dos dois parques verdes nas duas margens do Mondego. Se, até então, Coimbra tinha o Mondego nas canções e pouco mais, a Cidade passou a estar virada para o seu rio com permanentes multidões a usufruir dos novos equipamentos. Curiosamente, o primeiro a ser feito, na margem direita, parece ter servido de teste para os projectistas que emendaram a mão no projecto da margem esquerda. Se aquele carece notoriamente de árvores e respectivas sombras, bem como de bancos para os utentes, o da margem esquerda tem tudo isso em quantidade, sendo muito mais agradável de utilizar, principalmente nos quentes meses de Verão. Passados estes anos talvez fosse altura de renovar o parque verde da margem direita, dotando-o de melhores condições de fruição, já que aquele espaço não pode servir para pouco mais que frequentar os restaurantes. E a ponte pedonal de Pedro e Inês com tantos vidros partidos não merece mais cuidado?
Mas logo ali entre o Parque Verde e a Portagem encontra-se o antigo Parque Dr. Manuel Braga. No seu site a Câmara Municipal informa-nos tratar-se de um «parque emblemático da Cidade» e tem razão. Só que…
Este parque foi objecto de uma empreitada de requalificação no montante de quase 4 milhões de euros que durou mais de dois anos tendo terminado há pouco tempo, estando já aberto ao público. Do conjunto de trabalhos aparecia em primeiro lugar a «Requalificação paisagística do parque com a substituição de espécies vegetais, que inclui a elaboração do estudo fitossanitário». Infelizmente, percorrendo-se hoje o parque, o que se vê é de uma tristeza quase indescritível, desde a quase total ausência de canteiros de flores, a um estado péssimo dos pavimentos e à existência de espaços sem qualquer utilização, onde antes existiam canteiros de grande dimensão. Será que este trabalho essencial foi retirado do Caderno de Encargos? Ainda bem que foram construídos novos muros sobre o rio, em substituição dos antigos que ameaçavam ruina. E ainda bem que os antigos azulejos dos bancos foram recuperados. Mas ninguém dos projectistas e do Dono de Obra se lembrou de forrar os muros de betão dando-lhes um aspecto mais consentâneo com as características próprias deste Parque com mais de cem anos? A vista a partir da margem esquerda é deprimente. Coimbra tem mais parques e jardins , embora de menor dimensão, que não de interesse. A placa central da Av. Sá da Bandeira é um deles, estando normalmente, e felizmente, bem cuidado. Neste caso, a pandemia serviu para alterar hábitos, permitindo-se a colocação de esplanadas, e ainda bem. Coimbra sempre teve a característica de ter muitas flores em numerosos jardins. Também nesse aspecto está a ser ultrapassada por outras cidades, vejam-se os exemplos de Braga, ou Guimarães. Recuperemos o tempo perdido e cuidemos do nosso espaço público para bem de todos nós, com competência, mas também com amor pela nossa cidade.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 6 de Fevereiro de 2023
Imagens recolhidas na internet
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