segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Ai, Portugal, Portugal


 

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar

 

Este o refrão de uma das músicas inesquecíveis do genial Jorge Palma. E não é possível observar o Portugal de hoje, sem que nos venha à cabeça. Não se trata de diminuir Portugal nem de lhe faltar ao respeito, e sim de manifestar uma certa consternação e mesmo desapontamento pelos caminhos que trilhamos.

Claro que, ao longo da nossa longa História, lá fomos encontrando saídas para situações de impasse, umas vezes com brio e coragem, outras com alguma dose de malandrice. Mas nunca como hoje, uma vez que estamos em democracia, o futuro esteve dependente da vontade expressa do povo e não apenas de elites mais ou menos esclarecidas.

O 25 de Abril, já lá vão quase 50 anos, isto é, mais do que durou a ditadura do Estado Novo, veio devolver a palavra a todos os portugueses, um a um, independentemente de sexo, idade, condição social ou riqueza. É seguramente, uma situação que exige muito mais responsabilidade de todos nós. Apesar de tudo, os primeiros anos do regime democrático, ultrapassada a fase revolucionária, vieram mostrar um povo adulto e que sabe muito melhor o que quer do que muitos imaginariam. 


Mas o regime assenta na escolha de partidos para a governação nacional e das autarquias locais, além das duas regiões autónomas. E os partidos, que no início do regime receberam no seu seio as elites sociais que se tinham formado intelectual e profissionalmente durante o antigo regime, à esquerda e à direita, foram evoluindo internamente vendo-se hoje, pela simples passagem do tempo, que são dirigidos por dirigentes políticos que ou eram crianças pequenas em 74 ou já nasceram depois disso. A sua formação política, em grande parte, ou na sua grande maioria fez-se nas juventudes partidárias, de onde passaram para os partidos e daí para as comissões concelhias e distritais, seguindo-se lugares nas autarquias locais e na assembleia da República. E esta formação política sobrepõe-se largamente, e notoriamente, à formação académica e profissional, criando bolhas partidárias estranhas aos verdadeiros problemas dos portugueses e, sobretudo, da economia real das empresas que tudo paga através dos impostos sobre a produção e sobre os empregos.

Aqui estará grande parte da justificação  do estado anémico da nossa economia que se reflecte numa descida de Portugal no ranking europeu do produto per capita sendo ultrapassado já pela maioria dos países, já que o rendimento per capita foi em 2021 de 75% da média europeia, quando era de 78% em 2015, logo depois do governo da troica. Isto apesar da chuva de milhares de milhões da União Europeia.


Os partidos e a sociedade radicalizam-se à esquerda e à direita, enquanto os partidos do centro se mostram incapazes de dar o salto necessário. O PS, embora governando em maioria absoluta, afunda-se na mais completa incapacidade de reformar o país, enredando-se num discurso de pura defesa do poder. O PSD, embora consiga agora criticar a governação no concreto, não mostra ao país um conjunto coerente de propostas alternativas que alterem o rumo do país. A economia precisa essencialmente que a deixem evoluir nas direcções que entender serem as melhores, livrando-se definitivamente do dirigismo socialista que acha que tudo sabe e tudo quer orientar. A carga fiscal portuguesa sobre a economia é uma canga pesada que dificulta a competitividade das nossas empresas somando-se à excentricidade do país relativamente ao centro geográfico europeu. E, muito importante, o PSD não dá uma resposta definitiva sobre a sua relação futura com o partido Chega, num sentido ou no outro, espero eu que clarificando a recusa absoluta de qualquer acordo, seja em que situação for. Já basta o que o país sofre em consequência da Geringonça que colocou o governo do PS alegremente nas mãos chantagistas do BE e do PCP, para que o PSD venha a cair no mesmo erro.

Os principais serviços públicos, com a Saúde e a Educação à cabeça, mas também a Justiça e as forças de Segurança como o SEF, atravessam crises de uma profundidade impressionante. É claro para toda a gente que nenhum deles voltará a ser o que eram há uns vinte anos, porque o dinheiro necessário para os recuperar sem reformas profundas pura e simplesmente não existe.

Nos últimos tempos percebe-se claramente que o presidente da República está angustiado com a consciência da situação. E sabe bem que, apesar da situação de estagnação da governação, é muito provável que eleições antecipadas não fossem alterar a situação, sendo quase certo que o PS se colocaria de novo nas mãos da esquerda mais radical.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 13 Fev 2023

Imagens recolhidas na internet

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