terça-feira, 19 de novembro de 2024

Política e Economia

 Um dos meus “livros de cabeceira” é, desde há vários anos, a obra de James A. Robinson e Daron Acemoglu com o título PORQUE FALHAM AS NAÇÕES que tem como sub-título “as origens do poder, da prosperidade e da pobreza”, editado pelo Círculo de Leitores – Temas e Debates. Na página 475 surge a resposta simples à pergunta essencial: “os países fracassam economicamente devido às instituições extrativas”.

A explicação pode parecer simples na sua formulação, mas não o é de todo. Resulta de um longo trabalho de investigação das relações entre o poder político, as instituições e a prosperidade em variados países.

Todos nós verificamos que há países que conseguem, parece que com naturalidade, serem prósperos através da criação de riqueza que também conseguem distribuir pela sua população. Enquanto isso, outros há que parece estrem fadados a serem pobres, sem conseguirem tirar a maioria da sua população da pobreza mais extrema. Porque é que o Botsuana prospera e a Serra Leoa não? De facto, como Niall Ferguson salientou, este livro mostra que, ao contrário do que vulgarmente se pensa, “o destino económico de uma nação não é determinado pela geografia ou pela cultura. São as instituições criadas pelos homens que determinam se um país será rico ou pobre”.

Não é por acaso que os EUA e as nações das América Central e do Sul apresentam diferenças de índices de desenvolvimento e riqueza tão acentuadas. A consequência de, logo no início do sec. XVIII os colonos ingleses terem desenvolvido sistemas de representação democrática nas treze colónias que deram origem aos EUA, foi de se terem desenvolvido instituições que, à maneira da época, respeitavam direitos políticos e liberdade económica. Ao contrário da colonização espanhola que estabeleceu sociedades rigidamente hierarquizadas. Enquanto nos EUA surgiu em 1787 a Constituição americana, a independência mexicana em 1822 levou a um regime ditatorial que se foi repetindo sucessivamente no século seguinte. A cidade de Nogales que se situa sobre a fronteira entre os EUA e o México é, ainda hoje, a imagem da chocante diferença entre a existência de instituições democráticas e instituições extrativas que apenas visam o enriquecimento dos que detêm o poder (político, económico, ou os dois).

Esta visão das razões das desigualdades entre países é muito diferente do que nos tem sido repetidamente apresentado, nas diversas versões marxistas que, mais ou menos extremas, têm dominado as nossas academias e a comunicação social.

Curiosamente, o Prémio Nobel da Economia deste ano de 2024 foi entregue aos dois autores do livro que aqui refiro, juntamente com Simon Jonhson. E, certamente não por acaso, o facto não passou entre nós de mais uma notícia relativamente irrelevante no meio de tudo o resto e logo esquecida, não merecendo análise minimamente atenta.

Embora a democracia não seja uma solução mágica, é um facto que os países que se democratizam crescem mais rapidamente do que os regimes que permanecem não democráticos.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 18 de Novembro de 2024

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