Talvez por razões pessoais, porque me toca também na família directa, se há questão política que penso ser muito sensível em termos nacionais é a emigração de jovens qualificados.
De facto, Portugal continua a ter um lugar pouco invejável no contexto europeu se observarmos os níveis de emigração, principalmente no que respeita aos seus jovens, já que cerca de 30% dos jovens portugueses, entre os 15 e os 39 anos, deixaram o país, vivendo actualmente noutros países. Fugindo de Portugal, vão em busca de melhores oportunidades de emprego e condições de vida. Já são quase 850 mil pessoas, não contando com os seus filhos que, entretanto, nasceram, como é o caso de dois netos meus.
Enquanto na generalidade da Europa ocidental se verifica uma grande imigração com boa parte da população a ter nascido noutro país, Portugal encontra-se acompanhado pela Albânia e pela Bósnia com altas taxas de emigração.
Costuma falar-se, e com razão, da emigração portuguesa nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado como uma das provas do atraso do país na altura e das fracas condições de vida que o país oferecia aos seus cidadãos. Mas…e hoje? Em níveis completamente diferentes, isso é óbvio, continuamos a ter um diferencial desfavorável que justifica esta saída gigantesca de jovens. A piorar a situação, a verdade é que grande parte destes jovens que vão para fora a procurar melhor futuro faz parte daquilo a que os políticos gostam de chamar “a geração mais bem preparada de sempre”.
Três estudos sobre a emigração portuguesa publicados em 2021 pelo Observatório da Emigração elegiam a ciência, informática e matemática; ciências sociais, comércio e direito; engenharia, indústrias transformadoras e construção como as principais áreas de trabalho e formação dos emigrantes nacionais. Não há dados consolidados mais recentes. Segundo o coordenador científico do Observatório, tem havido uma crescente emigração qualificada, nomeadamente para os países do norte da Europa e que acontece nomeadamente no sector terciário. Mas cada vez se torna mais forte a convicção de que estes emigrantes trocam a maior felicidade que poderiam ter em Portugal por uma maior realização profissional e maior oportunidade de progressão na carreira. A economia portuguesa continua com uma percentagem esmagadora de pequenas e micro empresas e com um minoria de grandes empresas, aquela que poderiam alterar aquela situação. A actual escassez de habitação, com a consequente alta de preços, é outra das causas que ajudam
Em consequência, verifica-se uma diminuição da população jovem em Portugal e um aumento da população idosa. Claro que sabemos que a imigração vem minorar este diferencial mas a verdade é que a maior parte dos que chegam têm baixas qualificações, pelo que não puxam pela qualidade do emprego e pela produtividade, antes pelo contrário baixando ainda mais a média geral dos salários.
Portugal adoptou uma legislação que favorece fiscalmente os jovens em sede de IRS. Como se tornou hábito entre nós, mais uma vez se adoptam medidas de fim de linha em vez de encontrar soluções a prazo para os problemas.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 2 de Dezembro de 2024
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