Nesta época de passagem de ano, cronista que se preze não pode fugir a fazer uma resenha comentada do ano que finda e uma previsão do que deverá acontecer no ano que está prestes a começar.
Fugindo um pouco à regra, dedicarei esta crónica apenas ao ano que vai e a próxima às expectativas para o que novo ano quem vem.
Em 2024 o mundo continuou na sua procura de uma nova ordem que se seguirá inevitavelmente ao caos internacional que se vive desde o fim da chamada Guerra Fria. Na realidade, a herdeira do que restou do império soviético, a Federação Russa, sob a presidência de Putin que tenta organizar a nova ordem mundial à sua maneira, no fundo tentando reconstruir o que desabou em 1991. enquanto tenta destruir a União Europeia seguindo a velha táctica de dividir para reinar. Mimetizando por completo as justificações de Hitler para invadir os países vizinhos, começou por atacar directamente a Ucrânia em Fevereiro de 2022 que, contra todas as expectativas, resistiu e continua heroicamente a resistir. Até quando não se sabe, porque a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA trouxe interrogações sobre a continuação do necessário apoio de armamento à Ucrânia.
Ao ataque terrorista do Hamas em Outubro de 2023 Israel respondeu com a destruição da Faixa de Gaza que continua e já fez dezenas de milhares de vítimas inocentes e muitos mais refugiados. A seguir Israel virou-se para o Hezbollah no Líbano que decapitou enquanto anulava grande parte da sua capacidade ofensiva. Como consequência, o regime Sírio de Bashar al-Assad caiu não se sabendo ainda que rumo irá seguir.
Perto do fim do ano foi a vez de o caos atingir Moçambique, nosso país irmão, onde a realização de eleições por muitos consideradas fraudulentas deu origem a tumultos que ainda continuam havendo já pilhagens generalizadas e centenas de mortos a registar.
Na nossa União Europeia verificaram-se problemas económicos graves, nomeadamente na Alemanha e em França, em paralelo com desinteligências graves entre países, em boa parte consequência das intervenções mais ou menos subterrâneas de Putin.
Entre nós, à maioria absoluta do PS com António Costa sucedeu uma AR sem maioria, com uma vitória mínima da AD que formou governo e um Chega que cresceu até eleger 50 deputados. A discussão sobre o Orçamento de Estado para 2025, em vez de negociação séria, mais pareceu uma encenação de fraca qualidade e mau gosto. Foi notória a inexistência de vontade de ir para eleições por parte de todos os partidos da oposição, por diferentes razões. Portugal passa por uma certa estabilidade que mais parece uma paz (política) podre que, no entanto, corta cerce toda e qualquer vontade que possa existir para introduzir as reformas fundamentais que todos sentem ser necessárias, mas certamente impopulares em termos eleitorais.
Sente-se que 2024 foi um ano de transição, mas não se percebe ainda para onde, quer em Portugal, quer no resto do mundo.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 30 de Dezembro de 2024
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