segunda-feira, 18 de agosto de 2008

ÉTICA E POLÍTICOS

Nestes tempos em que o pragmatismo parece sobrepor-se até mesmo às opções ideológicas, que lugar restará para a Ética na política?
Em termos simplistas, pode colocar-se a questão da Ética na consideração de haver ou não dicotomia entre Felicidade e Virtude na actividade política.
Pode um político ter sucesso (ganhar eleições) e exercer o poder, qualquer que seja o tipo de poder, e ser simultaneamente “boa pessoa”?
Esta questão não é nova, acompanhando desde sempre a história das organizações humanas, e tendo sido claramente documentada pelo menos desde a Grécia Antiga. Nesses tempos, enquanto Pitágoras afirmava que ter sucesso é diferente de ser boa pessoa, Sócrates defendia que “para ser feliz, tenho que ser boa pessoa”.
Todos nós conhecemos igualmente a ideia generalizada de hipocrisia associada à actividade política. Já no século XIX, um célebre caricaturista português apresentava a política como uma porca que amamentava muitos bácoros. E também nos nossos dias encontramos políticos que fogem à verdade, ou não a contam toda, o que acaba por ser o mesmo; outros prometem mundos e fundos sem a mínima intenção de cumprir as promessas e há ainda os que, com métodos mais ou menos sofisticados, mais não fazem do que comprar votos.
Ao contrário de outras actividades, a política não é regida por normas especiais, que apenas existem para regular o exercício de determinados cargos. Por isso, é frequente ouvir políticos de grande responsabilidade dizerem que, para si, a ética é a lei da República. Assim sendo, para estes políticos o que não é ilegal é aceite por eles, pelo menos no que lhes interessa.
No fundo, é a própria consciência dos políticos que determina se a sua acção se desenvolve dentro de regras éticas (que sim, existem e decorrem mesmo da lei natural), ou não. E normalmente essa consciência torna difícil que alguém consiga separar as suas vidas, sendo “boa pessoa” na vida particular e falho de ética na pública, ou vice-versa.
Em resumo, se a política não tem um código de conduta ética, é absolutamente crucial que os políticos disponham, antes de o serem, de uma consciência que os informe sobre o carácter ético das suas acções. Já os eleitores deverão ter em consideração este aspecto nas suas escolhas, para não virem depois a sofrer grandes desilusões.

Publicado no Diário de Coimbra em 18 de Agosto de 2008

domingo, 17 de agosto de 2008

BOTA NO PONTAL

Depois de ler as declarações de Mendes Bota no Pontal, fiquei com a certeza absoluta de que Manuela Ferreira Leite fez muito bem em lá não ter posto os pés. Não é porque o PSD queira ser um "partido de universitários" mas por uma questão de pura higiene mental.

JOGOS OLIMPICOS

Estes Jogos Olímpicos de Pequim não têm corrido bem a Portugal por diversos motivos. Não falo dos resultados dos atletas e da falta de medalhas. O desporto português é o que se sabe e as medalhas que tivemos no passado, à excepção da vela e do hipismo foram excepções que devem ser vistas como tal. No atletismo foram sempre em corridas de fundo que normalmente são aquelas em que os países mais fracos em termos desportivos, como os africanos, ainda têm algumas hipóteses.
Os nossos atletas olímpicos deveriam ser olhados como heróis por lá terem conseguido ir, sendo essa participação o cume das suas carreiras.
Mas não.
Na sequência do orgulho nacional idiota que nos últimos anos foi suscitado na sequência da Expo 98 no tempo do optimismo insensato do guterrismo, toda a gente se convenceu que somos dos melhores do mundo em tudo. O problema é quando surge o confronto directo, sendo a desilusão sem limites.
Por outro lado, quer muitos políticos quer a comunicação social em geral endeusaram os nossos atletas antes da partida, sendo o insucesso ainda mais visível e frustrante para todos, mas acima de tudo para os próprios atletas. Claro que os políticos que andaram com eles ao colo ficaram sem aquelas fotografias ao lado dos vencedores que dão sempre jeito para irem à boleia do sucesso. Quanto à comunicação social, essa então passa todos os limites. Depois de andarem atrás dos atletas por todo o lado, chegamos ao cúmulo de a RTP colocar uma fila com quatro zeros em medalhas para Portugal quando apresenta os três países com mais medalhas. É verdadeiramente chocante e deveriam ser pedidas responsabilidades ao jornalista que resolveu fazer aquilo.
Tudo isto é lamentável.
À hora em que escrevo ainda há alguns atletas portugueses em prova. Desejo-lhes sinceramente o maior sucesso, para que pelo menos alguns consigam escapar a esta frustração colectiva em que estes Jogos se estão a tornar para Portugal.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA

Este artigo do Economist mostra que o motor de combustão interna ainda está aí para as curvas e que há muito boa gente aos pulos com os "choques tecnológicos" e carros eléctricos que ainda vai ter grandes surpresas. A evolução tecnológica não acontece por decreto, como os soviéticos aprenderam à sua custa.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

VERDADES DE SEMPRE

Excerto da Carta a El-Rei D. João III

Homem de um só parecer,
De um só rosto e de uma fé,
De antes quebrar que volver,
Outra coisa pode ser,
Mas da corte homem não é

(Sá de Miranda, séc. XVI)

CANETAS - escritos de Verão

A informatização galopante da nossa vida tem, por vezes, consequências bem inesperadas.
É assim que muitas profissões passaram a ter tarefas diferentes e mais variadas e até mesmo responsabilidades acrescidas às anteriores.
Por outro lado, quem tinha que escrever muitos textos à mão, como minutas e relatórios, passou a fazê-lo quase em exclusivo directamente no computador.
Significa isso que aquilo que se escreve à mão passou a ter normalmente um carácter próprio e especial, abrindo possibilidades para que essa escrita passe a ter um significado e mesmo prazer próprios. Entra aqui o uso de canetas de tinta permanente cujo tempo muitos julgariam terminado face à utilização massiva das esferográficas anónimas. Curiosamente, a utilização de canetas está hoje praticamente interdita em reuniões profissionais, nas quais são vistas como manifestação de ostentação. O seu uso está assim praticamente limitado a uma utilização apenas pessoal.
As canetas permitem uma escrita muito mais suave, com letra mais desenhada, criando uma relação especial com aquilo que se escreve.
No mundo masculino, há dois tipos de objectos pessoais que se usam muitas vezes sem que as outras pessoas se apercebam da sua utilização. São os relógios e as canetas. Sobre os relógios mecânicos já aqui escrevi bastante e voltarei ainda a esse tema, dado estarem sempre a aparecer novidades em termos de precisão e novas complicações.
Os relógios mecânicos de qualidade são quase todos suíços, como é bem conhecido.
As canetas têm origens mais variadas. Muito na moda ultimamente estão as alemãs MontBlanc. Os meus amigos Arquitectos gostam muito delas, particularmente do modelo Meisterstuck grande que tem um aparo verdadeiramente extraordinário.

As americanas Parker são bem conhecidas de todos nós, não devendo haver ninguém da nossa geração que nunca tenha recebido uma delas como prenda, normalmente associada a algum sucesso da vida académica. Nos últimos anos a marca voltou a produzir o modelo Duofold dos anos 20 do século XX que tem uma laca colorida que lhe dá um encanto especial.

Existem muitas outras marcas com modelos característicos como a Sheaffer e a Aurora, tendo ainda desaparecido outras bem famosas como a Conklin.
Mas a Suíça não podia deixar de ter igualmente uma marca de canetas muito especiais.

A Caran d’Ache, que todos conhecemos desde a infância por causa dos lápis de cores e tintas para desenho, fabrica uma série de instrumentos de escrita dignos de nota, embora a marca não esteja muito na moda no que respeita a canetas. A lapiseira de minas em prata tratada com ródio para não escurecer, é uma clássica pela sua beleza intemporal, muito fina e de secção hexagonal. Já a caneta do modelo Léman, embora pesada em comparação com as rivais tem uma precisão de construção e de acabamentos bem suíça. Tendo uma elegância muito discreta, pode usar-se com muito maior à vontade em qualquer circunstância. Por outro lado, a Caran d'Ache desenvolveu uma série de cores de tinta diferentes dos habituais azul e preto e que contribuem para personalizar a escrita.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Apoio Psicológico

Segundo a imprensa, os tripulantes do veículo do INEM envolvido num acidente do qual resultou a morte de um motociclista estarão a receber apoio psicológico.
Ainda de acordo com a imprensa, o veículo do INEM terá desobedecido a um semáforo vermelho e entrado num cruzamento por onde circulava o motociclista com luz verde.
Não faltaram logo "boas almas" a dizer que o motociclista seguia em excesso de velocidade.
Dois ou três comentários:
1) Os veículos de emergência não podem entrar num cruzamento com luz vermelha, a não ser que verifiquem previamente que não há perigo; nos sinais STOP, nunca podem passar sem parar, mesmo que sigam com sinais de emergência. Todos nós assistimos diariamente ao incumprimento destas regras por parte de viaturas do INEM e outras ambulâncias. Aplicam a chantagem psicológica da pressa que pode vir a ser por qualquer um de nós. Mas há sempre quem já tenha ouvido alguém que conduz viaturas do INEM dizer que gosta da profissão pela adrenalina.
2) A família do motociclista não precisará de mais apoio psicológico do que os tripulantes do carro do INEM? Parece-me que estes vão precisar é de apoio judicial, se houver justiça.
3) A questão da velocidade. Neste país ouve-se constantemente argumentar com a velocidade para a causa de muitos acidentes. Conversa da treta a esconder muita irresponsabilidade. A velocidade em excesso será causa de uma percentagem muito pequena de acidentes. O que acontece é que potencia a gravidade das consequências dos acidentes. Muitas vezes o que provoca acidentes são faltas de atenção, más condições e mesmo perigos não assinalados na via e ainda azelhice pura de muitos condutores que nunca deveriam andar a conduzir.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Pagar a horas: e o Estado?

Desde o início que esta coluna ficou com uma dimensão pré-definida, o que implica não só contenção na escrita, tentando não fugir ao essencial do assunto a que se refere, como exige um esforço de compactação para não deixar escapar algum aspecto importante.
A vantagem é que resultam assim textos curtos, que se esperam de imediata compreensão, e, não o escondo, uma maior facilidade nos temas a tratar, já que cada crónica trata apenas de um determinado assunto. Ainda assim, sempre são 52 semanas por ano e já lá mais de três anos de crónicas semanais.
Mas, como diria o Coronel Odorico Paraguaçu, prefeito de Sucupira, deixemos os preliminares e passemos aos “finalmentes”.
Na semana passada abordei nestas linhas a questão do atraso nos pagamentos, na óptica das relações entre empresas. Referi ainda o programa lançado pela ACEGE chamado “Compromisso Pagamento Pontual”, que desafia os empresários a assumir os pagamentos aos seus fornecedores dentro dos prazos estipulados.
Entretanto fui interpelado sobre o problema dos atrasos de pagamentos por parte do Estado. Claro que a resolução desse problema não está nas mãos dos empresários e sim nas mãos dos políticos que em determinado momento detêm o poder.
Mas a questão existe, e não pode ser escamoteada. Por Estado, qualquer cidadão comum que paga impostos, entende a Administração Central e as Autarquias que funcionam exactamente através desses impostos.
De facto, os prazos de pagamentos por parte do Estado em 2007 foram, em média, mais do dobro da média dos países da UE, o que nos coloca, de acordo com o European Payment Index 2007, no último lugar de entre 25 países europeus no que respeita aos riscos associados aos pagamentos em transacções comerciais.
Em termos de números, em média, em Portugal um fornecedor da Administração Pública demora cerca de 152 dias a receber o seu pagamento, face à média europeia de 69 dias.
Como disse acima, os empresários não são responsáveis por estes atrasos e não os podem alterar. A economia desenvolveu métodos para minorar este problema das empresas através do recurso ao “factoring”, mediante o qual a tesouraria das empresas ultrapassa a questão, embora com um determinado custo. É evidente que este sobrecusto corresponde a uma taxa que diminui a rentabilidade das empresas, e é, aliás, mais importante para as pequenas empresas cujo acesso ao “factoring” é mais difícil e logo mais caro.
Outra estratégia é expor menos as empresas a fornecimentos e empreitadas do Estado, não ficando tão vulneráveis aos seus atrasos nos pagamentos.
Cabe aqui dizer que, no início do corrente ano, o Governo anunciou um programa de redução dos atrasos dos pagamentos da Administração Central em 25%. Sendo esta decisão de saudar, não deixa de ser incompreensível, já que estas despesas já se encontravam cabimentadas, tornando-se assim o processo redundante. Confirma-se assim que o Estado é o pior pagador, porque se atrasa mesmo quando tem o dinheiro disponível para efectuar os pagamentos.

Publicado no Diário de Coimbra em 11 de Agosto de 2008

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

EMPREITADAS DE OBRAS PUBLICAS

"...a GRID (empresa do Prof. Antonio Reis) fica com a responsabilidade de escolher a solucao a adoptar na fase de projecto, o que nao minha perspectiva, tendo em conta as pequenas guerras entre os diversos projectistas, podera resultar na nao escolha da melhor solucao em projecto.

...Na minha perspectiva, parece-me que existe neste processo um misto de ingenuidade e hipocrisia. Por um lado, todos sabemos que os prazos sao sempre curtos e que as grandes empresas, que possuem departamentos para produzir propostas, nao possuem qualidade tecnica para fazer uma proposta enquanto reve tecnicamente o projecto. Por outro lado, os honorarios pagos aos projectistas, estao desactualizados e carecem de justiça, o que leva inevitavelmente a maus (ou pelo menos deficiente) projectos. No geral, julgo que as obras ficarão mais baratas e com menos trabalhos a mais."


Pelo seu interesse chamo a atenção para o comentário colocado por Silva Brito ao post publicado em 29 de Julho sobre as obras da Ponte Rainha Santa Isabel

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

PRÓ, CONTRA OU APENAS INDEPENDENTE?

Há uma onda na blogosfera contra o jornal Público, acusando-o de levar a cabo uma campanha contra o Governo do PS.
Nunca me dei conta de tal campanha. As notícias, à partida, são isso mesmo. Quanto aos artigos de opinião e comentários, encontro de tudo. O que certamente não vislumbro é uma campanha a favor do PSD.
Claro que este jornal é o único dito "de referência" onde se podem ler críticas independentes a acções do Governo em geral e de ministros em particular. Isto é apenas indicador de imprensa independente. Claro que quem não gosta que a opinião pública saiba que os computadores "magalhães" se chamam "classmate" e que a Intel concessiona o seu fabrico por esse mundo gora há dois anos, ou que os automóveis "eléctricos" da Nissan não vão cá ser fabricados e portanto não vão ser portugueses, ou que a fábrica de aviões da Embraer não é assim tão pacífica, etc. etc., acha que o Público faz campanha contra.
Quem gosta de estar informado, acha que a imprensa livre é necessária e que a restante imprensa diária até nem pega nestas questões, a não ser depois de o Público as referir.
O poder político em Portugal nunca se habituou muito bem à liberdade de imprensa e acho que já é tempo de isto mudar.
Recordo aqui que o Público foi pioneiro em 1995 quando, antes das eleições legislativas que deram a vitória ao Eng. Guterres, resolveu apoiar publicamente o partido Socialista nessas eleições e assumi-lo. Eu que nunca fui na música celestial do Eng. Guterres só tive que deixar de comprar o jornal de que era leitor desde o seu aparecimento e passar a comprar outro. Esta posição do Público em 95 teve a vantagem de separar as águas e acalentei a esperança de que os jornais em Portugal seguissem finalmente a linha que há em todos os outros países livres, onde as pessoas conhecem bem a linha política dos jornais que compram, que não tentam passar pelo que não são, isto é, absolutamente independentes. No entanto isso não sucedeu e temos todos que ter o trabalho de conhecer a orientação política dos colunistas e ainda dos redactores, o que é absolutamente ridículo. E as orientações políticas saídas da legislação do ministro Santos Silva, em nome do equilíbrio, continuam a enterrar ainda mais a possibilidade de termos imprensa livre e com opinião.