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terça-feira, 14 de outubro de 2008
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
ESTA CRISE É DE TODOS NÓS
A semana passada terminou tal com havia começado. Se na segunda-feira as bolsas de todo o mundo haviam conhecido quedas como não se via há muitos anos, a sexta-feira levou verdadeiramente as bolsas aos infernos.
Mais grave, tal sucedeu dois dias depois de finalmente os principais bancos centrais de todo o mundo se terem conseguido entender para descer as taxas de juro em 0,5%.
A actual crise que começou por ser financeira passou já para as outras áreas da economia, começando a ver-se grandes empresas a baixar as suas produções, outras a fechar algumas fábricas e outras a falir.
Até há pouco, o cidadão comum sentia o reflexo da crise através dos aumentos constantes na prestação a pagar ao banco para amortização da casa. Neste momento, é a chamada economia real que se começa a ressentir de forma violenta, o que já está a ter consequências na vida de todos nós.
Os institutos internacionais como o FMI já reduziram as previsões de crescimento dos países europeus para este ano. Para 2009 prevê-se recessão para vários desses países, enquanto outros deverão estagnar, o que é pouco melhor.
Estamos todos a testemunhar uma das maiores e mais repentinas alterações na ordem económica mundial de que há memória.
No nosso léxico diário entraram já termos até agora relativamente desconhecidos como “produtos financeiros contaminados”, “risco sistémico”, “risco específico”, etc.
Entretanto, muito boa gente entretém-se a discutir se as intervenções dos Governos nos bancos e na actividade financeira em geral significa o fim do sistema capitalista e o triunfo final do Estado como orientador e planificador de toda a nossa vida isto é, a prova final das vantagens do socialismo. Entre nós, chegou-se mesmo a ouvir dizer que esta crise corresponde ao “cair do muro de Berlim” do capitalismo. Há ainda quem apresente ao povo as bolsas como sendo casinos em vez de forma de regular os preços e financiar a actividade económica. Os tempos conturbados sempre foram oportunidade para se proferir os maiores disparates.
Esta crise serviu ainda, infelizmente, para colocar a nu a incapacidade de os países da União Europeia se entenderem. Durante mais de uma semana foi possível assistir às mais desencontradas posições e manifestações de hipocrisia entre os líderes dos principais países europeus. Se em relação a muitos deles, sinceramente não se esperaria outra coisa dada a sua manifesta falta de qualidade e substância, outros houve que foram uma triste novidade como é o caso da chanceler alemã, Ângela Merkel.
Uma última nota, relativamente às causas profundas desta crise financeira global.
Se houve muitas falhas, a nível de regulação e de ganância generalizada no sistema financeiro em todo o mundo, uma falha gravíssima ressalta sobre todas as outras e que é a demonstração do desaparecimento da Ética da actividade financeira. É notório que as questões éticas foram completamente afastadas das preocupações de grande parte das elites que dominam os instrumentos financeiros.
Dir-se-à que essas preocupações éticas já não fazem falta no mundo de hoje em que o homem desenvolveu sistemas complexos e poderosos de regulação.
Pois a actual crise é bem a prova de que no início e no fim das actividades económicas deverá estar a pessoa humana e a sua dignidade, razão única da existência dessas actividades. Perdendo-se esta perspectiva, isto é, eliminando a Ética da nossa actividade, os mais poderosos e magníficos sistemas ficam a trabalhar no vazio e mais cedo ou mais tarde desabam fragorosamente.
Publicado no Diário de Coimbra em 13 de Outubro de 2008
domingo, 12 de outubro de 2008
TRATADO DE LISBOA
Claro está que a resolução da actual crise económica e financeira se sobrepõe aos problemas organizativos (bom, isto não é verdade para todos, já que em Portugal a AR achou mais importante discutir o "casamento" dos homossexuais, mas enfim...)
Por outro lado, o tratamento dado à Irlanda por alguns líderes, nomeadamente a Sra. Angela Merkel não deverá ser esquecido pelos irlandeses na hora de votar, pelo que o resultado do referendo poderá ser contrário aos desejos de Bruxelas.
No entanto, convinha não esquecer esta questão. Provavelmente, deveria ser dado um passo em frente, deitar para o caixote do lixo aquela proposta e avançar decididamente para o federalismo europeu.
A falta de capacidade europeia em responder a uma voz a um problema grave e concreto para todos, mostra que a orgânica interna da União tem que ser repensada e modificada urgentemente.
Receio é que os actuais líderes europeus não sejam capazes de dar esse passo.
sábado, 11 de outubro de 2008
A OUTRA NOIVA, FALSAMENTE GRÁVIDA...
"Pode beijar o noivo. Pode beijar a noiva", declarou a "conservadora". E beijaram-se, sob uma chuva de papelinhos e de arroz. Os dois casais, um feminino, outro masculino, encenaram um casamento (repetido ao longo da manhã ao ritmo das necessidades jornalísticas) frente à Assembleia da República como forma de protesto contra o "casamento de conveniência" entre o PS e a "direita conservadora" para chumbar a legalização das uniões entre pessoas do mesmo sexo.
De vestido branco e um véu improvisado, a cineasta Raquel Freire explica por que assumiu o papel de uma das noivas, num acto simbólico a favor da igualdade de direitos. "A humanidade está cheia de histórias assim. Os negros só podiam entrar na parte de trás do autocarro. Portugal também só permite que os homossexuais tenham relações escondidos como se fosse na parte de trás do autocarro."
"Joana", a outra noiva, falsamente grávida, dá outro argumento para mudar a lei: "É só trocar duas vírgulas e duas palavras. Não se gasta dinheiro nenhum e não interfere com a vida de ninguém, a não ser dos próprios."
Comentários:
- "A noiva e o noivo": até a linguagem é homofóbica?
- "falsamente grávida": como é evidente, a humanidade entregue a estas pessoas acabaria rapidamente, porque as gravidezes seriam todas falsas
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
O MUNDO ESTÁ PERIGOSO
As razões do complexo problema a nível global não andarão muito longe das opções dos responsáveis dos bancos centrais.
No caso do "nosso" BCE que anda há que tempos a lutar contra uma possível inflação e assim a manter as taxas de juro em níveis elevados, a decisão de descer a taxa em 0,5% mostra a sua incapacidade de perceber o que se passa e de reagir a sério. As bolsas soluçaram um pouco na meia hora seguinte ao anúncio e regressaram à sua queda permanente. A taxa Euribor também não ligou à medida e voltou a subir hoje.
Entretanto, os países europeus entram praticamente todos em recessão ou quase, com as pessoas a discutirem se o capitalismo morreu e se o socialismo regressou.
De facto o mundo está perigoso, mas sobretudo por causa por causa dos "dirigentes" que (des)governam o mundo.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
ACEGE em Coimbra
Informações e inscrições em: acegecoimbra@gmail.com
As ovelhinhas
Já agora, porque é que não vai ao tribunal apresentar queixa da Democracia?
Sempre ia mais directo ao assunto.
DIVÓRCIO FISCAL
Os casais "casados" não podem descontar essas despesas com os filhos, o que cria uma situação que, além de estúpida, é perfeitamente injusta.
Tudo isto tem vindo a ser denunciado desde há vários anos, nomeadamente pela Associação Portuguesa de Famílias Numerosas. O resultado é nulo. Os responsáveis das Finanças continuam a fazer ouvidos de mercador, enquanto se proclamam apoios às famílias.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Intervenções arquitectónicas de vulto
Se há actividade humana cujo exercício afecte a vida quotidiana de todos nós, é a arquitectura. É através dela que a humanidade tem adaptado as condições da natureza às suas necessidades e conforto.
A evolução social e económica tem aberto novas visões e possibilidades para a arquitectura, umas vezes escrevendo-se sobre as pré-existências, outras vezes ocupando novos territórios, mas sempre criando novas condições de habitabilidade e utilização.
Devido à sua longa e rica História, a cidade de Coimbra apresenta exemplos das mais diversas intervenções arquitectónicas ao longo de séculos, mais ou menos felizes. Todas elas contribuem, no entanto, para o conjunto que hoje existe e que serve de base para o futuro que virá. Assim se justifica a sua importância.
É hoje pacífico que a intervenção que ocorreu na Alta da cidade entre os anos 40 e 70 do século passado destruiu de forma irreparável todo um legado histórico rico de vivências e de modos de vida, que desapareceu para sempre.
Em seu lugar, surgiram os grandes edifícios das faculdades, que, com o antigo palácio real ocupado pela Faculdade de Direito e Reitoria, constituem hoje o pólo I da Universidade de Coimbra. Curiosamente, tanto o desenho urbanístico da intervenção como os projectos dos edifícios devem-se não a projectistas desconhecidos, mas a alguns dos maiores nomes do urbanismo e arquitectura em Portugal. Tratou-se de uma intervenção claramente datada, tendo os edifícios, à excepção dos últimos a serem construídos, uma arquitectura neo-clássica, a meu ver de extremo mau gosto. Em matéria de gostos, há sempre quem defenda os opostos, o que aceito de bom grado.
Já as recentes e actuais intervenções nos novos pólos são mais difíceis de aceitar, tendo em conta o conhecimento presente.
Ainda não encontrei nenhum utente que defenda claramente o pólo II, quer quanto à organização do espaço, quer quanto à arquitectura exterior dos edifícios, quer quanto à funcionalidade dos mesmos.
Neste caso, para azar, não há um regime autoritário que sirva de desculpa. As opções tomadas foram-no em regime democrático, e os projectistas foram escolhidos entre os mais conceituados do país. Escuso-me aqui de pormenorizar falhas existentes, mas elas são tantas e tão gritantes que falam por si. De facto, algo correu mal naquele processo que leva a que o pólo II da Universidade de Coimbra também não seja exemplar.
Já o pólo III, que se encontra em fase de conclusão de obras, foi ocupar uma colina com espaço muito limitado, dando a impressão de se querer meter o Rossio na Betesga. Quem observa as novas edificações a partir da circular interna, só se pode espantar com a densidade de construção, que faz prever o pior em termos de acessibilidades quando se encontrar a funcionar em pleno. E o que dizer de um edifício completamente negro num tempo em que o aquecimento global obriga a grandes cuidados em termos de eficácia energética dos edifícios?
A arquitectura é de facto uma actividade tão importante na vida colectiva, pelas consequências das opções tomadas que, a meu ver, só se compara nessa importância à actividade política. Mas esta ainda está sujeita ao escrutínio democrático, ao passo que a arquitectura só depende praticamente de quem a faz e de quem a paga.
Estas intervenções absolutamente decisivas para a Cidade deveriam ser escrutinadas e os processos de decisão que lhes deram origem objecto de análise, para que no futuro não se venham a correr erros semelhantes.
Publicado no Diário de Coimbra em 6 de Outubro de 2008