O reconhecimento da dificuldade da situação económica do país já saiu dos gabinetes de especialistas e começa a ser do conhecimento generalizado da população, embora ainda nem todos tenham tomado inteira consciência do que nos espera nos próximos anos.
Fala-se muito das dificuldades que surgirão em 2009 porque essas são fáceis de prognosticar, bastando olhar para o que se passa lá fora. Mas não podemos pensar que os sacrifícios durarão um ano. As medidas que no nosso país se estão a preparar, à semelhança dos outros países da União Europeia, consistem muito em atirar com dinheiro para cima dos actuais problemas, dinheiro esse que irá ser reposto a seguir pelos impostos de todos.
Isto é, a acrescer à nossa falta de produtividade e elevadíssimos níveis de endividamento irão somar-se de novo os custos de recuperação do défice que vai de novo disparar pelo lado da despesa, sem qualquer possibilidade de a compensar pelo lado dos impostos cujo nível é já insuportável.
É perfeitamente defensável sustentar que a gravidade da actual situação poderia ser minorada, caso as políticas anteriores tivessem sido diferentes.
Como é um facto assente que esta crise veio lá de fora e, com maior ou menor gravidade, atinge todas as economias ocidentais e mesmo as que estão ou estavam em desenvolvimento.
Em consequência, Governo e Oposição, designadamente o seu principal partido o PSD, têm obrigatoriamente que encontrar uma plataforma comum na definição daquilo que de um ponto de vista patriótico é prioritário fazer de imediato para combater a crise e que deverá ser assumido pelos dois partidos. Em termos mais prosaicos, aquilo que tem que ser feito tem muita força e está a ser feito na UE por governos de direita e de esquerda.
O tronco principal das acções imediatas deve estar fora da luta política partidária. Esta deverá centrar-se na definição dos caminhos futuros da desejável recuperação económica e social que deverá seguir-se a esta crise.
Em termos estritamente políticos, o Governo e o PS deverão estar preparados para assumir esta posição, porque a gravidade da crise poderá descambar facilmente numa situação social totalmente descontrolada.
Por seu turno, o PSD deverá rapidamente trilhar este caminho, que é o único que dará aos portugueses a sensação de confiança e de segurança que, perante as dificuldades e insegurança generalizadas, serão certamente a base da escolha política nas eleições do próximo ano.
A incapacidade de os nossos líderes se entenderem minimamente numa crise com estas dimensões levará certamente a que os portugueses se entreguem a propostas extremistas, que pouco de bom trarão para o nosso futuro.
Publicado no Diário de Coimbra em 15 de Dezembro de 2008