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segunda-feira, 23 de novembro de 2009
PÚBLICO
É este, de facto, o significado que geralmente é atribuído à palavra “público”, o que não significa que seja tido em conta por todos.
Existe mesmo a sensação de que os portugueses têm um convívio difícil com este conceito, parecendo mais estarem convencidos de que o que é público é para ser tomado pelo primeiro que de tal for capaz.
Deverão existir razões históricas para que tantos portugueses tenham esta estranha relação com o bem público, e, em geral, com o Estado. A nossa História é muito antiga de séculos, mas é fértil em levas sucessivas de emigrações que alteraram profundamente a constituição na nossa sociedade e a deixaram quase sempre mais pobre. O poder central sempre foi exercido de uma forma que levava os portugueses a serem desconfiados de quem os governava e lhes levava os impostos para pagar despesas que não se reflectiam em melhorias da sua vida. Há duzentos anos, o país foi varrido por invasões francesas que deixaram o povo arrasado e faminto. Logo a seguir, as lutas da Guerra Civil, em vez de permitirem recuperação económica, atrasaram ainda mais a nossa pobre economia. A revolução industrial veio fraca e a más horas. O fim da Monarquia e a Primeira República afastaram ainda mais o povo dos políticos que nos desgovernavam. Por exemplo, Rafael Bordalo Pinheiro caricaturava nesse tempo a política como uma porca a alimentar muitos bácoros. A seguir vieram quase cinquenta anos de um regime autoritário e anti-liberal, em que os “ungidos” do regime sabiam o que era bom para todos, restando ao povo obedecer.
Todas estas razões, e certamente muitas mais, criaram entre os portugueses uma desconfiança perante o Estado, nas suas diversas formas, que se traduz no termo com designa vulgarmente os governantes: “ELES”.
Esta atitude generalizada traduz-se igualmente na visão do que é público e que leva muitos a tomar para si o que é ou devia ser de todos.
Fazem-no, aliás, todos os dias e das mais diversas formas.
A corrupção é talvez o traço mais grave dessa atitude, porque se traduz num pesado imposto que todos temos que pagar. O Código Penal coloca hoje nesta categoria muitas atitudes a que os portugueses estão habituados desde sempre, e que ainda não estão interiorizadas como crimes. Veja-o o caso do tráfico de influências, tido como simples ajuda entre amigos, tão “natural”.
Mas há muitas outras atitudes do dia-a-dia que denunciam este nosso comportamento e que, eventualmente por lidarmos quotidianamente com elas, quase não damos pela sua existência.
Quando vemos ruas em que os passeios estão ocupados por carros estacionados, estamos perante um exemplo dessa atitude. O passeio é de todos e destina-se aos peões. Não faz sentido que estes tenham que ir pelo meio da rua a fugir dos automóveis e muitas vezes a levar com água e lama, só porque o comodismo de uns tantos automobilistas os leva a apropriar-se do que é de todos.
A noção de que o dinheiro com que lidam é sagrado, porque vem dos impostos (um sacrifício de todos os cidadãos), também é demasiadas vezes ignorada por quem, pelas suas funções, tem que gerir dinheiros públicos e acha que eles estão ali para gastar como entende.
O grande problema (de carácter quase esquizofrénico) dos dias de hoje é que os portugueses continuam a referir-se aos representantes eleitos como “eles”, tendo-se disseminado a ideia de que existe uma justiça para poderosos e outra para pobres. Em consequência, “eles” que são todos iguais que se arranjem, enquanto nós por cá tratamos da nossa vidinha como pudermos.
Aprender a ter respeito por aquilo que é público, como sendo de todos, é muito mais do que uma atitude cívica; é essencial para a saúde da sociedade e mesmo para a efectiva consolidação do regime.
Publicado no Diário de Coimbra em 23 de Novembro de 2009
sábado, 21 de novembro de 2009
Juiz de Aveiro recusa ordem para destruir escutas - Portugal - DN
Nota: reparem bem, o Supremo tem uma agência de comunicação (a LPM). Agora pergunto, a que propósito?
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Um início auspicioso
Presidente da UE: Herman Van Rompuy
Alta representante para a Política Externa da UE: Catherine Ashton.
Alguém os conhece? Para os altos cargos a UE continua a preferir personalidades que gerem consensos.....porque não existem politicamente.
Depois admirem-se por americanos, chineses e indianos não nos ligarem nenhuma.
Ah! E ainda outro pormenor (ou maior, não sei): foram escolhidos e não eleitos. O Tratado de Lx começa bem, não há dúvida.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
REFERENDOS
JUSTIÇA (??)
Tensão
Evangelho do dia
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
SNS
Na campanha das últimas eleições, o Serviço Nacional de Saúde foi utilizado como arma de arremesso, nas piores maneiras possíveis. Não devia: é uma área demasiado importante e sensível, a precisar de urgentes reformas. O SNS não é só uma sigla, é um sistema que providencia cuidados de saúde a todos os cidadãos. Os seus custos globais ultrapassam hoje 10% do PIB, dos quais mais de 7% são gastos pelo Ministério da Saúde.
A reforma dos últimos anos traduziu-se no encerramento de uma série de equipamentos descentralizados, com base numa tentativa de racionalização da oferta de serviços públicos. Estas mudanças compreendem-se tanto pelas limitações de recursos como pela exigência de qualidade. Evidentemente, reconhecemos que houve exageros, que levaram a situações absurdas como o nascimento de bebés portugueses no país vizinho, por falta de maternidades nacionais.
No entanto, o maior erro da reforma efectuada não foi esse episódio, e sim a falta de reforço dos hospitais que passaram a receber doentes de serviços encerrados. Também nesses imperou a regra de poupar, muitas vezes à custa de reduções de pessoal.
Integrado nos HUC, existe um serviço que é um exemplo para todo o SNS, e que, incompreensivelmente, não é replicado por todo o país. Refiro-me ao Centro de Cirurgia Cardiotorácica, dirigido pelo Prof. Manuel Antunes. Há poucos meses, tive oportunidade de lhe ouvir uma explicação sobre o funcionamento desse “Centro de Responsabilidade Integrada”, numa iniciativa da Acege - Coimbra.
Os resultados obtidos pelo Centro de Cirurgia Cardiotorácica, desde o seu início, são bem a prova de que um serviço de saúde bem dirigido, organizado em regime de autonomia com a necessária responsabilidade, pode conseguir níveis de produtividade e qualidade a níveis de excelência mundial. Naturalmente, os níveis de exigência praticados naquele Centro são também pouco vulgares entre nós, de dedicação e sacrifício ímpares.
Quiseram as circunstâncias da vida que há poucos dias eu tivesse sido operado neste Centro. Felizmente, a garantia da excepcional competência das equipas de cirurgiões é um dado adquirido, e muito ajuda à confiança com que os doentes se submetem aos tratamentos. Mas o que verdadeiramente mais me impressionou foi algo que infelizmente rareia cada vez mais nos hospitais públicos. A dedicação aos doentes por parte de todos os profissionais, o carinho mesmo com que todos são tratados desde que entram até que saem do Centro, é exemplar. Ultrapassa em muito o dever de exercer as funções de cada um com competência e dedicação, desde auxiliares a cirurgiões, passando pela equipa de enfermagem: corresponde a uma atitude que é resultado da escolha adequada de pessoas, de organização e de um espírito colectivo que se constrói. Verifiquei, por exemplo, que não existem naquele serviço períodos em que os doentes se sintam menos acompanhados. O serviço responde sempre às necessidades dos doentes, sem a menor negligência.
Hoje, o Centro de Cirurgia Cardiotorácica de Coimbra prova que, dentro do SNS, é possível obter soluções com produtividade e qualidade, que promovam a humanização do tratamento dos doentes, combatendo ineficiências e desperdícios, que tão caros nos ficam a todos.
Publicado no Diário de Coimbra em 16 de Novembro de 2009