quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Novos boicotes para os indignados

Novos boicotes para os indignados:

Quando é que o grupinho dos indignados se lembra que há outras empresas que fizeram o mesmo que Jerónimo Martins? Quando é que começa o boicote a empresas como a Mota Engil (este até concordava se fosse o estado a decretá-lo), a Galp, a SONAECOM - quem tem Optimus é já deitar o cartão fora - ou a Caixa Geral de Depósitos (esta não era do Estado?). Apenas peço que não façam boicote à PT, porque isso iria prejudicar o Canal Benfica ou os blogues da Sapo. De resto, não tenham receio. Boicotem todas as empresas que fizeram operações financeiras semelhantes às da Jerónimo Martins.


 


PS: E não se esqueçam de boicotar também o Continente. 

Análise interessante e com substrato

Lobbies em Portugal – 5.:

Algum tempo atrás, um conhecido político explicava que qualquer partido político necessitaria, na sua perspectiva, de manter boas relações com os principais lobbies – referindo-se expressamente a entidades mencionadas no “Breve manifesto” de 1995, da autoria do Dr. Carlos Candal. De outra forma, na mesma perspectiva, a influência que os lobbies têm na comunicação social tornaria inútil qualquer ação por parte do partido em questão – gerar-se-ia de imediato um coro de criticas, orquestradas por vários maestros.



Trata-se de uma variação importante relativamente ao texto de 1995 acima citado. Naquele texto, é dito que os lobbies infiltraram os partidos políticos e a comunicação social. Mas na perspectiva em análise, são os partidos que procuram ativamente o apoio dos lobbies. Tal apoio poderia ser conseguido, por exemplo, nomeando para a direção de um dado partido membros dos lobbies – permitindo assim que cada lobby tenha uma noção exata do que se passa “lá dentro”, e possa exercer influência. Igualmente importante poderá ser, na mesma perspetiva, a nomeação para cargos importantes de conhecidos membros dos lobbies. Esse tipo de medidas poderia, na perspectiva acima indicada, gerar a “boa imprensa” de que os partidos carecem para obter resultados políticos favoráveis.


Numa perspectiva de “Darwinismo político” (que me perdoe C. Darwin), a presença dos lobbies dentro dos partidos e mesmo apoiados pelos partidos, numa simbiose harmoniosa em que “uma mão lava a outra” seria vantajosa, ou mesmo indispensável, para os partidos  obterem resultados eleitorais.


Como já vimos em textos anteriores, nem todos os membros dos lobbies são indivíduos medianos. Contudo, quando um indivíduo mediano aparece nomeado para uma posição de destaque, ainda que com estatuto de “independente” (no sentido de não-filiado) devemos pensar na possibilidade de ser membro de um qualquer lobby. O velho conceito “cherchez la femme” ou ainda a sua variante “cherchez l’argent” poderá agora ser substituído por um “cherchez le lobby” (se me for permitida uma expressão galo-britânica). Parte significativa dos “independentes” da nossa praça seriam, na verdade, membros de lobbies.


Pelo caminho, fica a noção de igualdade de oportunidades no acesso à res publica. Devemos satisfazer-nos com este estado de coisas? Ou devemos, pelo contrário, defender a transparência como forma de controlar os lobbies? A escolha é, para mim, bastante clara.


José Pedro Lopes Nunes

Análise interessante e com substrato

Lobbies em Portugal – 5.:

Algum tempo atrás, um conhecido político explicava que qualquer partido político necessitaria, na sua perspectiva, de manter boas relações com os principais lobbies – referindo-se expressamente a entidades mencionadas no “Breve manifesto” de 1995, da autoria do Dr. Carlos Candal. De outra forma, na mesma perspectiva, a influência que os lobbies têm na comunicação social tornaria inútil qualquer ação por parte do partido em questão – gerar-se-ia de imediato um coro de criticas, orquestradas por vários maestros.



Trata-se de uma variação importante relativamente ao texto de 1995 acima citado. Naquele texto, é dito que os lobbies infiltraram os partidos políticos e a comunicação social. Mas na perspectiva em análise, são os partidos que procuram ativamente o apoio dos lobbies. Tal apoio poderia ser conseguido, por exemplo, nomeando para a direção de um dado partido membros dos lobbies – permitindo assim que cada lobby tenha uma noção exata do que se passa “lá dentro”, e possa exercer influência. Igualmente importante poderá ser, na mesma perspetiva, a nomeação para cargos importantes de conhecidos membros dos lobbies. Esse tipo de medidas poderia, na perspectiva acima indicada, gerar a “boa imprensa” de que os partidos carecem para obter resultados políticos favoráveis.


Numa perspectiva de “Darwinismo político” (que me perdoe C. Darwin), a presença dos lobbies dentro dos partidos e mesmo apoiados pelos partidos, numa simbiose harmoniosa em que “uma mão lava a outra” seria vantajosa, ou mesmo indispensável, para os partidos  obterem resultados eleitorais.


Como já vimos em textos anteriores, nem todos os membros dos lobbies são indivíduos medianos. Contudo, quando um indivíduo mediano aparece nomeado para uma posição de destaque, ainda que com estatuto de “independente” (no sentido de não-filiado) devemos pensar na possibilidade de ser membro de um qualquer lobby. O velho conceito “cherchez la femme” ou ainda a sua variante “cherchez l’argent” poderá agora ser substituído por um “cherchez le lobby” (se me for permitida uma expressão galo-britânica). Parte significativa dos “independentes” da nossa praça seriam, na verdade, membros de lobbies.


Pelo caminho, fica a noção de igualdade de oportunidades no acesso à res publica. Devemos satisfazer-nos com este estado de coisas? Ou devemos, pelo contrário, defender a transparência como forma de controlar os lobbies? A escolha é, para mim, bastante clara.


José Pedro Lopes Nunes

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

BOM ANO


A tradição recomenda que no início de um novo ano se deseje aos amigos que seja um bom ano. É isso que hoje faço com gosto aos leitores do Diário de Coimbra.
A passagem dos anos pode parecer uma simples convenção, mas na realidade reflecte uma íntima ligação do Homem à Natureza, já que um ano ou aproximadamente 365 dias é a duração de uma translação do nosso planeta Terra à volta da nossa estrela, o Sol. E o início do ano muito próximo do solistício de Inverno é também muito significativo, porque a partir daqui os dias começam a crescer, criando a sensação de renascimento. Nos nossos dias, o progresso tecnológico e social parece afastar-nos daquilo que verdadeiramente somos, mais parecendo que muitos de nós nos consideramos quase como deuses, quando na verdade todos fazemos parte de um sistema complexo que dominamos muito menos do que julgamos.
O início deste ano de 2012 vem encontrar os portugueses numa situação muito difícil e causadora de perplexidades, ansiedades e sacrifícios pesados para muitos.
Muitas vezes caímos na tentação de falar daquilo que, por demasiado afastado de nós, pouco podemos mudar. Claro que a opinião pública conta e muito, mas na realidade as eurobonds, as taxas do BCE, o comportamento dos mercados, a própria actividade dos bancos, estão muito longe de serem infuenciados pelo que localmente se diz ou escreve.
Já o mesmo não se dirá de tudo aquilo que está mais perto de nós e é por isso que a chamada administração local é tão importante.
Coimbra é uma cidade muito especial e não só por ser a nossa Cidade. É-o pela sua História riquíssima, intimamente ligada à História de Portugal desde o seu início, mas também pelo seu presente que é o que existe na realidade e prepara o futuro que assim dependerá dos que cá estão hoje, isto é, nós mesmos, o que nos responsabiliza perante as gerações futuras. É comum dizer-se, principalmente nos salões do poder em Lisboa, que de cada vez que se fala bem de alguém de Coimbra aparecem logo não sei quantos conimbricenses a criticar e dizer mal. Provavelmente, há razão nisto e é pena. Coimbra está numa encruzilhada da História. O país chama-se cada vez mais Lisboa, Porto e província. A desertificação do interior e mesmo de boa parte do litoral acompanha a metropolização crescente das áreas de Lisboa e do Porto, triste sinal de terceiro-mundismo.
Coimbra é a única cidade média da nossa Região que pode sobreviver a esta desagregação territorial do país. Para isso precisa de todos nós, sejamos de esquerda, de direita, professores, operários, empresários, médicos, enfermeiros ou engenheiros.
Há projectos em andamento, em preparação ou em estudo, cruciais para o futuro de Coimbra e da sua identidade. O Convento de S. Francisco trará vantagens comparativas à Cidade, mas precisa urgentemente de “software” para além do “hardware” que é o edificado: a definição de um modelo de exploração que não seja oneroso ao município é urgente. O Metro Mondego traduz-se hoje numa indefinição que dura já há mais de uma ano e se traduz em transportes rodoviários insuportáveis para os cidadãos de Miranda e da Lousã que os utilizam diariamente, para além das consequências no trânsito urbano de Coimbra; acresce a “ferida” aberta na Baixa que carece de solução urgente, sendo que Coimbra já propôs solução, ainda sem resposta. A Estação Velha continua a ser uma vergonha para a Cidade. Se toda a gente reconhece que Coimbra é uma “marca” turística com um valor enorme, que se promova o turismo cultural que hoje em dia tem tanta pujança e importância económica por essa Europa fora. O parque tecnológico “Coimbra i Parque” está aí em andamento, potenciando uma ligação crucial entre o conhecimento, a inovação e a economia real. A candidatura a Património Mundial da Unesco é uma oportunidade para unir os conimbricenses em torno de algo que pode, não só reconhecer Coimbra e a sua Universidade como um valor a nível mundial, mas também potenciar a renovação urbana de todo um Centro Histórico valiosíssimo e abandonado durante tantas décadas a políticas urbanísticas erradas ditas “de crescimento”.
Tanto mas tanto, tanto a fazer.
Estimado leitor conimbricense: votos de que a crise que atravessamos sirva para nos unir no essencial como cidadãos e, como se costuma dizer, constitua uma oportunidade para definir uma Coimbra que se afirme como a capital regional que sempre foi, pela sua Cultura, Economia, capacidade de atracção dos melhores e de produção do melhor.
Bom ano.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

NO FIM OU NO PRINCÍPIO?

Passadas as festividades do Natal, aproxima-se o fim deste ano de 2011. Ano de grandes perplexidades, de grandes sustos e ansiedades e de maiores expectativas porque, felizmente, a esperança é a última a morrer.
Portugal passou a primeira metade do ano em claro plano inclinado descendente, em todos os aspectos para que se olhe. Depois de dois anos de aflição financeira, chegou-se em Maio de 2011, àquele ponto final em que o Estado não tinha pura e simplesmente dinheiro para pagar aos seus funcionários, pelo que se chamou finalmente a Troika que nos acompanhará inevitavelmente nos próximos anos. Com ela chegou igualmente o dinheiro necessário para Portugal respirar, mas também a obrigação de mudar de vida.
Vieram depois as eleições. Quem nos trouxe até este ponto aflitivo foi evidentemente corrido da governação pelos votos dos portugueses. A seguir começou a aplicação das directivas da Troika, e que duras são elas. Se todos os portugueses estão a pagar mais impostos, todos os que de alguma forma dependem do Estado começaram além disso a sentir redução de rendimentos, com cortes nos subsídios de Natal este ano e anulação de 13º e 14º meses, pelo menos em 2012.
Toda a máquina do Estado está a sofrer uma reavaliação, com redução de benefícios e aumento dos custos de acesso aos serviços proporcionados pelo Estado. Acabaram as SCUTS e chegou o princípio do utilizador-pagador.
Isto é, enquanto aumenta as receitas, o Estado procede igualmente a uma redução das suas despesas. O objectivo é cumprir os objectivos de défice público muito exigentes constantes do memorando de entendimento negociado pelo anterior Governo com a Troika. Em paralelo, o Estado sai da economia, vendendo as suas participações em empresas que se habituaram a ter grandes resultados por operarem em sectores muito protegidos, como a EDP e a REN. O facto de serem empresas chinesas a comprar não nos deve surpreender: estão a fazer isso em todo o mundo. Na verdade é uma forma muito mais correcta de trazer os capitais chineses para cá do que pedinchar vergonhosamente que comprem dívida nossa, como sucedeu no início do ano.
Nada disto vai ser fácil. Os portugueses toleraram durante demasiados anos governantes que lhes diziam o que qualquer pessoa gosta de ouvir, mas que foram paulatinamente afastando o país das médias económicas e financeiras da restante Europa, criando uma situação insustentável que nos colocou à mercê do primeiro abanão internacional que surgisse. Logo por azar, o abanão que surgiu foi um autêntico. Não vale a pena acusar os actuais governantes da situação existente e de serem apaixonados da austeridade. Eles são apenas aqueles a quem o destino encarregou de serem os portadores das más notícias.
Há que pensar no futuro e tratar de que o Portugal dos nossos netos venha a ser melhor do que o que estamos a entregar hoje aos nossos filhos. Assumamos claramente que as últimas dezenas de anos trouxeram um enorme desenvolvimento ao país em muitas áreas; mas em simultâneo cresceu entre nós uma sensação de facilitismo trazida pelo súbito dinheiro barato após a entrada no euro que levou ao abandono de actividades económicas sustentáveis a longo prazo, trocadas pelo lucro fácil e rápido.
É em plena consciência das dificuldades que nos esperam que desejo aos meus leitores um Ano de 2012 que vos traga tudo aquilo de que de facto necessitam.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 26 de Dezembro de 2011

domingo, 25 de dezembro de 2011

O CAPITAL INVISÍVEL

O CAPITAL INVISÍVEL:
«Na nossa vida colectiva a degradação dos laços de confiança ao longo dos anos teve graves consequências na qualidade da nossa democracia, no nosso desempenho económico e na nossa solidariedade comunitária. A confiança é um activo público, é um capital invisível, é um bem comum, determinante para o desenvolvimento social, para a coesão e para a equidade. São os laços de confiança que formam a rede que nos segura a todos numa mesma sociedade.»

Pedro Passos Coelho, 25.12.11