E
de súbito voltou a política, ou melhor a discussão política, já que na política
estamos e estaremos permanentemente mergulhados, pelo menos enquanto o sentir
colectivo não estiver suficientemente pacificado por um bem-estar aceitável e
distribuido com um mínimo de justiça.
E,
nestas alturas de debates mais intensos o que não significa mais aprofundados,
muito longe disso, há termos e frases que parecem servir para nos por bem
dispostos, de tal forma os políticos as usam e delas abusam, pensando que estão
a convencer alguém, quando na verdade os cidadãos apenas acham que estão a ser
espirituosos.
É
assim que muitos descobrem essa verdade lapalissiana de que são as pessoas que
interessam, ou que estão primeiro. Como se a política não fosse exactamente
isso, cuidar das pessoas, do seu bem estar e do seu futuro, não esquecendo os
que hão-de vir. A questão não está em dizer que se tem as pessoas como
preocupação, mas em como trabalhar de forma mais capaz porque, no fim, quer
fale delas quer não, serão as pessoas que recolherão os frutos da sua
actividade.
Porquê,
então, haver tantos políticos a falar nas “pessoas”? É evidente que a classe
políica sofre actualmente de um afastamento dos problemas reais da população.
Quem está mais do lado do Governo adopta uma posição de fugir às consequências
reais da política seguida na sequência do Pacto de Estabilidade que, para o bem
e para o mal, foi levada a cabo por este Governo. Quem se opõe não percebe bem
como é que com toda a austeridade o desemprego desce como em nenhum outro país
do sul da Europa, há retoma económica diminuta mas há, ao contrário até da
própria Alemanha e principalmente, não consegue justificar os restaurantes
cheios ao fim de semana. Toca então a falar das “pessoas”, com a esperança de
assim se chegar ao coração dos portugueses, mesmo usando o termo com se de um
biombo se tratasse.
A
verdade. Quando se chega à altura dos debates, principalmente os televisivos, é
certo e sabido que algum dos intervenientes irá a certa altura levantar a mão
direita, levá-la ao peito e dizer com ar compungido: deixe-me ser completamente
verdadeiro. Eles não sabem, mas deve ser o momento mais divertido do debate,
aquele pelo qual todos os espectadores esperavam para saberem à partida que seguramente
se vai seguir uma mentira. Depois, todos aprendemos já que a verdade não tem só
uma face, pelo que não vale a pena aos políticos virem defender a verdade como
programa político, porque isso não significa nada. A única verdade que os
portugueses querem ouvir é sobre os números certos dos mais diversos parâmetros
das vida colectiva. Sobre se esses números significam que o copo está meio
vazio ou meio cheio isso já eles sabem discernir hoje em dia, depois de tantos
artistas a inventar sobre esses mesmos números.
Defender
o bem comum. Eis outra frase que parece ter mel, tal o uso que muitos políticos
fazem dela. É talvez aquela que mais exigência coloca sobre os políticos que a
usam, já que corresponde ao que há de mais nobre na actividade política e
remete para a ética na acção política, algo que todos os cidadãos percebem ser
uma necessidade crucial para o seu viver colectivo. Mesmo muitos dos que no seu
discurso político elegem a defesa do bem comum como objectivo último, vêm a
falhar nas mais pequenas coisas.Um exemplo generalizado é a persistência na
atitude de limpar secretárias, computadores, etc. quando as eleições ditam a
substituição dos governantes por outros de partido diferente. Como se a alternância
democrática fosse equivalente a uma sucessão de revoluções. Percebe-se que os
que saem achem necessário documentar-se para futuro, não podem é limpar documentação
que pertence às instituições que as pagaram com o dinheiro dos impostos.
Defender o bem comum é mais fácil de dizer do que praticar do princípio ao fim.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 15 de Setembro 2014