Poucas vezes na
História da Humanidade se poderá dizer que o “Mal Absoluto” tenha andado à
solta no mundo como nos tempos que vão desde os anos em que Hitler iniciou o
caminho para a tomada do poder na Alemanha para o seu “Partido Nacional
Socialista Alemão dos Trabalhadores” até ao fim da Segunda Guerra Mundial. As paradas
gigantescas nem sequer tentavam esconder a verdadeira essência do Partido
Nacional Socialista; antes pelo contrário, acentuavam-na com orgulho. O negro
preponderava, apenas cortado pelas suásticas vermelhas, numa encenação teatral
que elevava o fanatismo cego e acrítico aos limites do intolerável para
qualquer pessoa livre e racional. Cerimónias essas que pretendiam aparecer como
celebrações religiosas dirigidas por alguém com poder mais que humano sobre os
participantes: o próprio Hitler. As atitudes dos nazis alemães para com os
desgraçados eleitos como inimigos, fossem judeus, homossexuais, ciganos ou
simples deficientes mostravam uma frieza e uma falta de princípios e de humanidade
completas. Todos aqueles que pudessem constituir alguma ameaça ao “nacional
socialismo” pela diferença de ideias políticas foram varridos do mapa. Durante
o período de ascensão ao poder, enquanto o velho Presidente Paul von Hindenburg
não o fez chanceler, Hitler constituiu uma milícia para-militar do próprio
partido, as SA, que se encarregaram de andar pelas ruas a fazer o trabalho de
limpeza étnica.
Vale a pena recordar que, quando tomou o poder, Hitler de
imediato colocou a polícia do Estado a trabalhar para si, tirando o poder às SA
e liquidando as suas chefias, com Ernst Röhm à cabeça acusado de bolchevismo,
na célebre noite das facas longas.
O fundamentalismo
islâmico dos nossos dias replica (à sua maneira) todos os aspectos descritos do
nazismo, não lhe faltando mesmo a negritude das indumentárias e das bandeiras.
O auto intitulado estado islâmico, na sua luta para constituir um verdadeiro
Estado, tem seguido todas as técnicas usadas por Hitler nos anos 20 e 30 do
século XX para atingir o mesmo fim.
Todos os que não seguem a lei (sharia) por
eles imposta, baseada numa visão própria do Islão, são procurados nas suas
casas e barbaramente aniquilados, homens, mulheres e crianças, em espectáculos
dantescos. Aos homossexuais, atiram-nos do alto de prédios altos, enquanto
multidões assistem ao acto; acusados de actos não sociais são atados a cruzes e
mortos de forma indescritível; mulheres acusadas de adultério são mortas à
pedrada por essa gente louca; tudo isto, enquanto os clérigos, de livro sagrado
na mão, verificam se tudo é feito de acordo com o prescrito pelo profeta. A
Amnistia Internacional publicou por esses dias um relatório que prova
exaustivamente, com datas e locais, a limpeza étnica sistemática levada a cabo
pelo ISIS no território do Iraque e é assustador.
Na Nigéria, o grupo islâmico
extremista local, o Boko Harum, tem levado a cabo morticínios incontáveis em
aldeias cristãs, mas também muçulmanas, arrasando territórios e cidades
inteiras para tomar conta de um dos países mais prósperos de África.
Só não vê quem
não quer ver. Nada disto tem a ver com actos ou atitudes do restante mundo, por
mais complexos de culpa que possamos ter no ocidente. É novamente o Mal
Absoluto a levantar a cabeça, levando a guerra a todo o mundo que não aceite a
sua lei. O que aconteceu agora em França é para aqui irrelevante. Vem apenas na
sequência do ataque às torres gémeas em Nova Iorque, do ataque na estação de
Atocha em Madrid e de muitos outros atentados a maior parte deles frustrados
pelas forças de segurança. Pode no entanto ser importante, como catalisador
para o acordar para o novo Nazismo que se prepara para dar cabo da nossa sociedade
de tolerância e da nossa civilização. Nos anos vinte e trinta do século passado
também o mundo civilizado de então olhava para os nazis com bonomia, não
imaginando o que se ia seguir. E hoje todos sabemos o esforço mundial que foi
necessário para travar a selvajaria negra e vermelha de então. E as muitas dezenas
de milhões de mortos, as cidades destroçadas e o sofrimento indizível de
milhões de homens e mulheres nos campos de concentração. Tenhamos todos
consciência do que se passa perante os nossos olhos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 19 de Janeiro de 2014