O mundo inteiro
passa por uma fase de acontecimentos excepcionais de cujas notícias tomamos
hoje conhecimento através de numerosos meios de comunicação, desde a internet e
redes sociais até à televisão e os meios mais clássicos como os jornais e as
revistas.
Mas será que aquilo
que chega até nós se pode considerar informação? Isto é, traz a verdade dos
factos depurada das visões e ideologias pessoais de que a trata até chegar ao
destinatário, ou mesmo das opções políticas ou comerciais dos proprietários
desses meios?
A minha visão sobre
o assunto é que não e que o jornalismo está infelizmente em decadência, não
tanto por culpa dos jornalistas, mas pela degradação da independência da
informação.
Todos sabemos que,
em guerra, a primeira vítima é a verdade, enterrada debaixo da propaganda. Mas
nos tempos de paz que hoje vivemos é muito preocupante que os cidadãos
conscientes tenham que sistematicamente colocar em causa a informação que lhes
é fornecida, para que o seu conhecimento da realidade seja o mais possível
conforme com os factos.
Entre nós
pratica-se, quer nos jornais, quer nas estações televisivas, um jornalismo dito
informado, que confunde sistematicamente notícia com opinião, quando estas
áreas deviam ser claramente separadas.
Alguns exemplos da
actualidade. O nosso antigo primeiro-ministro António Guterres é um dos
candidatos ao lugar de Secretário Geral das Nações Unidas. Percebe-se que para
os portugueses haja um interesse particular neste acontecimento, mas tal não
justifica um completo desvirtuar das notícias, sempre dadas em função do
candidato português. Não é dada informação concreta sobre as competências do
Sec. Geral das Nações Unidas, nem sobre as capacidades dos outros candidatos,
nem sequer sobre o procedimento da sua escolha que não é bem uma eleição como é
dito por aí.
Terminou o folhetim
das eventuais sanções a Portugal por parte da União Europeia por incumprimento
do défice. Quem lesse os jornais e visse a televisão nestas últimas semanas pensaria
que estávamos em guerra com o resto da Europa, tais eram os termos em que a
questão era apresentada. Compreende-se que os diversos partidos, apoiantes do
actual governo e do anterior, usassem de factores emotivos para apresentarem as
suas razões porque poderão eventualmente ter consequências eleitorais a curto
ou médio prazo e sabe-se como a emoção, particularmente com recurso a patriotismo
ou mesmo nacionalismo pode ter consequências nas opções dos eleitores. Mas só
se pode lamentar que a dita informação televisiva e escrita tenha ido pelo
mesmo caminho. Porque é que os portugueses não foram informados em concreto
sobre o significado do défice das contas públicas e sobre a sua evolução nos
últimos anos? Porque não foi explicado o conceito de défice estrutural,
fundamental para as decisões europeias depois do Tratado Orçamental? E este
mesmo tratado, voluntariamente subscrito por Portugal, significa o quê e para
que serve? Depois da decisão da União Europeia de não aplicar sanções, o que
significaram os termos usados de que seriam “injustas e injustificadas”? Não
adianta esclarecer nada?
Nas eleições
presidenciais americanas estão finalmente escolhidos os candidatos dos partidos
republicano e democrata que se defrontarão em Novembro. Qualquer um de nós terá
certamente a sua preferência também aqui e eu pessoalmente nunca apoiaria Trump
e penso que Hillary será até muito melhor presidente do que foi o marido. Mas é
deprimente seguir a nossa comunicação social sobre estas eleições. O grau de
informação é praticamente zero, já que Donald Trump é sistematicamente alvo de
ataque, sem que sejamos minimamente informados sobre os motivos concretos da
sua aceitação entre o eleitorado americano; até à escolha de Hillary Clinton
pelo partido democrata na recente convenção, o eleito da nossa comunicação
social era obviamente Bernie Sanders, resumindo-se as notícias sobre H. Clinton
a uns e.mails e à hipótese de ser presa. Será que os portugueses não merecem
uma informação independente sobre estas eleições tão importantes para todo o
mundo?
E os exemplos
podiam seguir por aí fora, não havendo espaço para mais. Além de ser muitas
vezes engajado politicamente e tratar os seus consumidores como mentecaptos
incapazes de distinguir a informação da manipulação, o nosso jornalismo dito
sério está a seguir o caminho da exploração do escandaloso e do
sensacionalismo, tal como antes se praticava apenas na comunicação social dita
tabloide. Quando se apresenta alguma notícia incómoda, ela vem sempre
acompanhada de explicação sociológica ou política, condicionando
automaticamente a sua recepção. Em vez de se informar pratica-se alienação, já
que se apresenta uma realidade desvirtuada e falsa em vez da verdadeira.