Nos dias de hoje,
contudo, o populismo tem aberto o caminho para o ressurgimento de algo que se
julgaria afastado pelo racionalismo, pelo crescimento económico generalizado
durante décadas e, fundamentalmente, pelos trágicos resultados que teve na
História, em particular nas primeiras décadas do século XX, ainda não passaram
cem anos.
Há um nacionalismo
que se poderá considerar positivo, dado que permite aos povos conseguir atingir
objectivos através da sua união, o que não conseguiriam se as pessoas não sentissem
que algo as une. Um exemplo dos dias de hoje verifica-se no futebol, que
concita os maiores entusiasmos colectivos seja clubísticos, seja através das
selecções nacionais. E claro, não deve político que se preze que não se junte
às comemorações e não atribua prémios dentro das suas possibilidades
institucionais.
Mas há um outro
nacionalismo, extremamente negativo e perigoso, que pretende unir através da
consideração do outro como diferente e, acima de tudo, inferior. Foi este
nacionalismo a que alguns chamam étnico, que levou à tremenda tragédia da II
Grande Guerra.
A globalização e o
liberalismo económico pode ter muitos defeitos e há certamente muitos erros a
apontar a este processo que se desenvolveu nos últimos anos e que levou milhões
de pessoas a sair da miséria absoluta, por muito que isso custe a muitos
residentes do chamado mundo rico do ocidente e hemisfério norte que perderam um
pouco. A liberdade e a igualdade nunca na História da Humanidade avançaram
tanto como nestes tempos. Mas as nuvens de uma tempestade que poderá colocar em
causa este movimento já não aparecem apenas no horizonte, surgindo cada vez
mais ameaçadoras sobre nós.
A eleição
presidencial americana que deu a vitória constitucional a Donald Trump (que não
a maioria de votos dos americanos) foi o mais recente sinal de que uma espécie
de nacionalismo “mau” está a surgir com força. Mas não é o único e os exemplos
vêm um pouco de todo o mundo e cortando transversalmente a habitual dicotomia
esquerda/direita.
O resultado do
referendo de Junho passado no Reino Unido que deu início ao Brexit foi um claro
indicador disso mesmo. A campanha que levou àquele resultado apelou à
“independência” do Reino Unido face às regras comuns da União Europeia e ainda
à limitação de entrada de determinados imigrantes; Não é por acaso que o
partido do maior defensor do Brexit, Nigel Farage, se chama UKIP (partido da
independência do Reino Unido). Se as eleições francesas do próximo ano
entregarem a presidência a Marine Le Pen da Frente Nacional, tal significará a
vitória das posições contra a globalização e livre troca, para além das afirmações
anti-imigrantes. Significará ainda, com toda a certeza, o início do processo da
saída da França da União Europeia, ditando de imediato o fim desta. A União
Europeia conta já com dois países claramente nacionalistas, a Polónia e a
Hungria, podendo a Áustria seguir-lhes o caminho. Acredita-se que a Holanda
possa dar a vitória ao “partido da liberdade” anti-imigrantes de Geert Wilders.
Na Rússia, o
presidente Putin pretende voltar à Grande Rússia, não só através do poderio
económico, mas também puxando pelo nacionalismo contra vizinhos, como aconteceu
na anexação da Crimeia. Usando do discurso nacionalista, Putin avança ainda com
o poder militar, deslocando mísseis para o enclave de Kalininegrado e para as
proximidades da fronteira com a Polónia. Na China, pelo menos desde que Xi
Jinping atingiu a presidência em 2012 que o partido Comunista incute o espírito
nacionalista da grande China aos estudantes em todos os graus de ensino. As
afirmações nacionalistas do presidente da Coreia do Norte são também bem
conhecidas.
As nuvens que quase
cobrem o céu parecem indicar a formação de uma “tempestade perfeita”. Nós,
portugueses, somos apenas um pequena parte neste complexo jogo. De uma coisa
podemos ter a certeza: acabando a União Europeia, não há espaço atlântico nem
nada semelhante que nos valha. Não nos deixemos enganar por vendedores de feira
caseiros: estaremos sós, com uma fragilidade assustadora.