Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades. O Governo mandou embora o responsável pela «linha 24». O homem resolveu mostrar as contas, que dão origem ao gráfico abaixo. Vergonha para os responsáveis governamentais, para os que no Parlamento sustentaram isto como o fim da austeridade, vergonha para quem cala para o povo sofrer. A começar pelo Presidente da República.
Nota: agora soube-se disto. Esperem pelo resto.
jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
sexta-feira, 6 de março de 2020
quarta-feira, 4 de março de 2020
terça-feira, 3 de março de 2020
Cem anos depois, relembrar Weimar, república e cultura
Do Tratado de Versalhes que a Alemanha foi obrigada a assinar
em Junho de 1919, fechando-se assim a chamada Primeira Guerra Mundial terminada
em 1918 muito se tem dito, designadamente sobre as consequências pesadas para a
Alemanha defendendo-se, com muitas razões, que a Grande Guerra que se lhe
seguiu vintes anos depois, não foi mais que a continuação daquela. É mesmo
possível detectar, aqui e ali, comentários que, de certa forma, parecem
desculpabilizar o que se lhe seguiu, Hitler e o Nacional-Socialismo, como uma
sequência histórica quase normal, por uma sua inevitabilidade.
Nada de mais errado. À derrota alemã, seguiu-se a queda da
monarquia e eleição da Assembleia Constituinte alemã, logo em Janeiro de 1919,
a que se seguiu a primeira experiência democrática alemã, a República de
Weimar, declarada ainda nesse ano. Esta cidade da Turíngia tinha um passado
cultural a que se podem associar nomes como Goethe, Schiller, Bach ou Liszt e
havia-se tornado um pólo cultural de grande intensidade, em grande parte pelo
classicismo que se deve àqueles e muitos outros artistas.
A partir de 1911 o arquitecto Walter Gropius reuniu uma plêiade
de técnicos e artistas das mais variadas áreas na Escola de Artes e Ofícios de
Weimar. Assim se desenvolveu um novo tipo de arquitectura que, à função
restrita dos edifícios, associava conceitos de simplicidade e de depuração de
formas, além da utilização de materiais que permitissem produção em larga
escala, como o betão e o vidro para fachadas. De entre os muitos professores
convidados podem citar-se Kandisky, Paul Llee ou Laszló Nagy, pelo que se
percebe o nível e a sofisticação da investigação e do ensino da Escola. Em
Abril de 1919 Walter Gropius publicou um manifesto que se considera como o
início da Bauhaus, termo que inverte a palavra que, em alemão, significa
«construção de casa» - «hausbau» e que só por si indica o que lá se praticava
como inovação. Em 1925 a Escola foi transferida para Dessau e, por fim, para
Berlim em 1930, tendo fechado definitivamente as portas em 1933, com a chegada
dos nacional-socialistas de Hitler ao poder. Muitos professores e antigos
alunos da Bauhaus espalharam-se pelo mundo inteiro, influenciando de forma
radical a arquitectura e o design como fusão da arte e da função até aos nossos
dias e vários edifícios nas cidades de Weimar e Dessau inspirados na Bauhaus
são hoje classificados património mundial pela Unesco.
Enquanto toda esta actividade de vanguarda sucedia na Alemanha,
no mesmo país nascia e crescia a verdadeira serpente do mal, o
nacional-socialismo. A inflação dos anos vinte, associada ao peso dos castigos
de guerra, a que se juntaram as trágicas consequências da «grande depressão» de
1929 criaram nas classes médias-baixas alemãs um sentimento de revolta
receptivo aos populismos mais desenfreados A tudo isto Hitler e os seus
apaniguados acrescentaram a invenção de um «culpado» genérico por tudo o que de
mau acontecia, os judeus. Se nas eleições de 1928 o partido nazi conseguia
apenas 2,6% dos votos, em Setembro de 1930 obteve já 18,3% dos votos
tornando-se o segundo maior partido no Reichstag, depois do partido social-democrata
SPD. Após um governo minoritário fraco e pressões de luta nas ruas, em novas
eleições realizadas em Julho de 1932 o partido nazi obteve 37,4%, tornando-se
no maior partido do parlamento. Em Janeiro de 1933 Hitler tomou posse como
chanceler da Alemanha e, logo em 27 de Fevereiro seguinte dá-se o incêndio no
Reichstag, oportunidade para Hitler suspender as liberdades civis e instaurar a
ditadura, ditando assim o fim da República de Weimar que durou, portanto,
escassos 11 anos
O que se passou a seguir é, infelizmente, bem conhecido de
todos nós. Podia não ter acontecido assim, se a falta de coragem, a inércia e o
oportunismo de muitos, da esquerda à direita, não tivessem deixado o campo
livre à barbárie de um dos piores grupos de assassinos que o mundo já conheceu.
Impressionante e perturbador é que, num país em que a Filosofia, o Direito, mas
também as Artes, atingiram os píncaros das mais elevadas realizações humanas,
tenham surgido as mais baixas pulsões que, a certa altura, tudo devoraram e
destruíram. Isto aconteceu há cem anos. Desde então, têm sido construídas as
mais variadas pontes entre povos com tratados, uniões, etc., com o objectivo de
evitar repetições da História. Mas todos os dias vemos como a Democracia é um
edifício frágil, atacado quer por dentro por oportunistas e corruptos vários,
quer de fora através dos populismos mais descarados.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra, em 2 de Março de 2020
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020
«O TRIBUNAL DE CONTAS DE MENTECAPTOS»
Porventura, já pouca gente se lembrará de uma questão que
encheu os cabeçalhos dos jornais e os telejornais há bem poucas semanas. De
facto, as agendas políticas construídas para despistar os cidadãos incautos
servem para isso mesmo: inundar os media permanentemente com notícias
bombásticas, de preferência escabrosas, cujo fim último é o de provocar
escândalos e correspondentes gritarias de indignação (gatunos, são todos
iguais!) adormecendo consciências e afastando o interesse das pessoas da coisa
comum. A história do Pedro e do lobo é bem conhecida, pelo que se tornam
dispensáveis mais comentários sobre o assunto, a não ser que num dia destes o
ovo da serpente abre-se mesmo e ninguém dará conta disso.
O título desta crónica recupera o comentário de um político
socialista com grande notoriedade, logo também responsabilidades
correspondentes, sobre uma auditoria do Tribunal de Contas que se debruçou
sobre a venda de património imobiliário da Segurança Social à Câmara Municipal
de Lisboa.
A justificação para essa venda deu-a o presidente da Câmara
Municipal de Lisboa, sendo os imóveis em causa destinados a concretizar as suas
políticas de habitação social para o Município de Lisboa.
A primeira questão que se levanta com este negócio tem a ver
com a natureza da entidade pública que vendeu o património e quais os fins a
que se destina. De facto, deve o Instituto de Gestão Financeira da Segurança
Social, ao alienar património, procurar que a receita, que reverte obrigatoriamente
para o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, seja a mais
elevada possível. O facto de os trabalhadores e empresas de todo o país
descontarem dos seus vencimentos para a Segurança Social tendo em vista
garantir as verbas necessárias para as prestações sociais, designadamente as
pensões dos reformados, exige o máximo rigor e cuidado na gestão desses
activos, principalmente num tempo em que a sustentabilidade da Segurança Social
é um problema nacional.
Entre os objectivos da Segurança Social não consta o
apoio à prossecução de uma política habitacional, ainda que nacional, e muito
menos de uma determinada Autarquia, mesmo que seja a capital do país, o que se
traduz, de imediato, num tratamento de favor em prejuízo das restantes
trezentas e tal autarquias.
Por outro lado, o Tribunal de Contas verificou que a venda dos
11 imóveis ficou 3,5 milhões abaixo das avaliações. Para além das próprias
avaliações que não terão sido feitas por entidades externas e sim pelo
comprador e pelo vendedor, a diferença no valor traduz um frete da Segurança
Social à Câmara Municipal de Lisboa.
Tudo isto cheira, a léguas, a compadrio político e política da
mais rasteira que pode haver, ainda por cima à custa da sustentabilidade da
Segurança Social e já seria suficiente mau se tivesse ficado por aqui. Mas não.
Perante a denúncia do Tribunal de Contas que, note-se, é um Tribunal, as
reacções foram demonstrativas de uma arrogância e demonstração de “quero, posso
e mando” inaceitáveis num regime que se quer democrático.
O presidente da Câmara Fernando Medina reagiu de forma violenta
e mesmo algo descontrolada, com acusações ao Tribunal de Contas de estar a
«fazer política», de lhe fazer perseguição política e mesmo de “fazer
relatórios de baixíssima qualidade técnica”. As reacções chegaram ao ponto de o
tal deputado socialista ter escrito na internet: "O relatório do Tribunal
de Contas sobre o negócio entre a Câmara de Lisboa e a Segurança Social deve
ter sido escrito por mentecaptos, lido por mentecaptos e sancionado por
mentecaptos…”. Fica provado que a linguagem própria das discussões
futebolísticas das televisões invadiu já a política, para o pior.
Depois disto, o Governo encontrou uma solução à medida para
resolver este e outros problemas semelhantes no futuro: retirar competências ao
Tribunal de Contas e acrescentar camadas de obscuridade à já pouco transparente
política governativa. Assim, no Orçamento Geral do Estado para 2020, o Governo
isentou de visto prévio do TdC "os contratos e demais instrumentos
jurídicos que tenham por objeto a prestação de serviços de elaboração e revisão
de projeto, fiscalização de obra, empreitada ou concessão destinada à promoção
de habitação acessível ou pública ou alojamento estudantil”. A isto
acrescentou-se ainda «as reabilitações e aquisições de imóveis».
Pode haver quem ache tudo isto muito bem e está no seu direito.
Contudo, direito ainda maior é o de todos sabermos o que se passa com
transparência, de que forma são executadas as políticas e como são utilizados
os dinheiros que não são do governo nem de um presidente de câmara e sim dos
portugueses que pagam isto tudo com os seus impostos.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 24 de Fevereiro de 2020
sábado, 22 de fevereiro de 2020
Vasco Pulido Valente
Já não voltaremos a ter o prazer de ler novas crónicas de Vasco Pulido Valente.
Para recordar, aqui fica a sua análise ao grande livro «Portugal Contemporâneo» de Oliveira Martins que, em muitos aspectos, é bem contemporâneo dos nossos dias,além de o ser do sec. XIX português.
Foto levada do blogue portadaloja.blogspot.com/.
Para recordar, aqui fica a sua análise ao grande livro «Portugal Contemporâneo» de Oliveira Martins que, em muitos aspectos, é bem contemporâneo dos nossos dias,além de o ser do sec. XIX português.
Foto levada do blogue portadaloja.blogspot.com/.
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020
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