jpaulocraveiro@ gmail.com "Por decisão do autor, o presente blogue não segue o novo Acordo Ortográfico"
terça-feira, 5 de maio de 2020
segunda-feira, 4 de maio de 2020
JORNAIS
Não ligamos
muito a cada um deles. De tal forma que, depois de lido, vai para a reciclagem.
Muitas vezes, irritamo-nos com o que lá vem escrito. Mas é como se passa com os
velhos amigos: discute-se, anima-se a conversa e, no fim, venha de lá aquele
abraço. Na realidade, a vida seria diferente, para pior, se não existissem.
A existência dos
jornais tem passado pelas mais diversas dificuldades, desde que surgiu o
primeiro jornal em papel, na China, há mais de mil anos, desde censuras a
concorrência de outros meios como sucede hoje com a internet.
Jornal é
sinónimo de Liberdade. Liberdade de opinião, desde logo. Mas também liberdade
de associação e económica. Em conjunto, é a Liberdade de Imprensa, cujo dia
mundial se celebrou precisamente no dia de ontem.
A presente crise
constitui também uma ameaça aos jornais. Desde logo, pela queda abrupta da
actividade económica que dita uma diminuição equivalente de receitas de
publicidade, essenciais para a sua sobrevivência económica. Depois, porque a
prevalência de um assunto de notícias durante um prolongado período de tempo,
cansa os leitores, diminuindo o interesse pela leitura dos jornais. Acresce
algo que se está a passar de forma avassaladora, que é a partilha de jornais e
revistas pela internet, essencialmente pelo WhatsApp. Já não é a partilha de
artigos, que todos fazemos de uma ou de outra maneira, que até poderá será
vantajosa para as respectivas publicações ao indicar-se a origem, mas de
publicações inteiras. Sei que grandes publicações estão a ser gravemente
afectadas por este fenómeno que se reflecte de imediato, imagine-se em quê? Em
reduções no que pagam aos seus colaboradores, para além da dispensa de outros.
Estimado leitor, pense nisto antes de partilhar publicações: há alguém que
sofre por causa disso.
Uma das medidas
governamentais de apoio à actividade económica consiste na compra de
publicidade nos jornais no montante de uns 15 milhões de euros. Trata-se,
evidentemente, da maneira mais fácil de fazer chegar o necessário dinheiro às
publicações periódicas, mas será a pior possível. Por duas razões imediatas:
por um lado a publicidade institucional cria dependência política; por outro
lado, é de imediato favorecido o partido governamental do momento que, como é
bem sabido, e seja ele qual for, só por o ser ocupa de imediato uma imensidão
de organismos e dependências do Estado por todo o país, instituições essas
objecto da publicidade paga pelo Governo.
Dentro do
universo dos jornais, há alguns que têm um interesse suplementar por uma
característica muito própria: são os jornais locais ou regionais. Há quase 15
anos que tenho a honra de poder colaborar semanalmente num dos mais notáveis
jornais locais de Portugal, o Diário de Coimbra. O DC está a celebrar o seu 90º
aniversário, já que o seu primeiro número foi para as bancas em 24 de Maio de
1930, tendo o seu número zero saído no anterior mês de Abril. Nesse número se
dava a justificação para o seu surgimento, em defesa da Região das Beiras e da
cidade de Coimbra, «dotando-a de um jornal destinado a pugnar pelos interesses
da “malfadada região”, em cuja extraordinária importância os poderes políticos
nunca atentaram como deviam».
Como todos sabemos, mas não é demais recordar,
foi fundado por Adriano Lucas tendo, a partir de 1950, a sua Direcção sido
assumida pelo filho Eng. Adriano Lucas, até ao seu falecimento em 2011. Durante
o regime autoritário e não-democrático auto-nomeado Estado Novo a sua
publicação esteve suspensa durante um ano por se opor à censura e depois,
restituída a Liberdade em 74, o Eng. Adriano Lucas foi voz activa e
determinante para que a Lei de Imprensa significasse de facto aquilo por que
lutara toda a vida. Caso único entre os jornais diários portugueses, o DC
mantém-se na propriedade da família do seu fundador, garantia de que as suas
preocupações editoriais de sempre se mantêm como farol indicador do seu rumo,
ao contrário de tantos jornais nacionais que foram referência e se
transformaram em algo incaracterístico ao serem comprados por quem nada tinha a
ver com a sua História.
Também o Diário de Coimbra está a sofrer com as consequências económicas
da pandemia que atingiu o mundo. A importância da sua subsistência não está na
sua História, certamente importante mas passado, antes no que nos poderá ainda
dar no futuro. É por isso que, hoje, é crucial lermos o Diário de Coimbra e assiná-lo
ou comprá-lo para o efeito.Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Maio de 2020
domingo, 3 de maio de 2020
Gerações
Há várias semanas que uso um relógio em ouro herdado de meu Pai, que eu e as minhas irmãs lhe oferecemos quando fez 50 anos (financiados por nossa Mãe) e sinto uma ligação efectiva e física com ele que já nos deixou há 14 anos.
Hoje resolvi, para o fazer trabalhar, ir buscar o Speedmaster que será (ele ainda não sabe, mas os pais sim) do meu neto aos 18 anos. Não sei porquê, senti esta ligação, também física, com alguém que o irá usar quando eu já cá não estiver.
Há dias assim.
Hoje resolvi, para o fazer trabalhar, ir buscar o Speedmaster que será (ele ainda não sabe, mas os pais sim) do meu neto aos 18 anos. Não sei porquê, senti esta ligação, também física, com alguém que o irá usar quando eu já cá não estiver.
Há dias assim.
PCP nos papéis de patrão e partido político
Há muitos anos que me surpreende a aceitação da atitude do PCP perante os seus eleitos e responsáveis de estrutura/dirigentes. Aparecem todos como funcionários do partido. Embora não encontre explicações para isso, deduzo que os ordenados que recebem do Estado, sejam presidentes de câmara, vereadores, deputados, etc. sejam entregues ao partido que depois lhes pagará o que acertarem, já como seus funcionários. Há aqui um evidente desvirtuar das regras democráticas mas, como se costuma dizer, é lá com eles, se os eleitos aceitam a situação, reduzindo a sua situação de eleitos pelo povo a simples funcionários do partido. Como é evidente, isto não poderia durar para sempre. E agora assiste-se à situação caricata de o partido ser tratado como entidade laboral pelos tribunais, e bem, mas não aceitando o partido a situação como todas as empresas, que têm de cumprir as leis laborais. E, historicamente, a actividade política principal do PCP tem precisamente a ver com as leis do Trabalho, daí o seu papel na Intersindical.
O que eu não percebo é porque é que a questão de fundo, da relação do PCP para com os seus eleitos, não é colocada em lado nenhum. Do que conheço, ninguém dos outros partidos aceitaria aquela situação.
https://expresso.pt/politica/2020-05-02-Caso-Casanova.-Tribunal-lembra-PCP-que-esta-sujeito-a-lei.-Comunistas-acham-intoleravel?fbclid=IwAR3hTjIsAS7thIvNygJyJORyclgcDbz5xVT1TWCYk2YSANVnt_NOJe6ggXY
O que eu não percebo é porque é que a questão de fundo, da relação do PCP para com os seus eleitos, não é colocada em lado nenhum. Do que conheço, ninguém dos outros partidos aceitaria aquela situação.
https://expresso.pt/politica/2020-05-02-Caso-Casanova.-Tribunal-lembra-PCP-que-esta-sujeito-a-lei.-Comunistas-acham-intoleravel?fbclid=IwAR3hTjIsAS7thIvNygJyJORyclgcDbz5xVT1TWCYk2YSANVnt_NOJe6ggXY
quinta-feira, 30 de abril de 2020
segunda-feira, 27 de abril de 2020
CONFINAMENTO
Ao fim de quase
dois meses de confinamento, os sinais de cansaço com a situação surgem para
todos, não há mesmo hipóteses de não surgirem. Começam, talvez, pelo cansaço
que provocam os ecrãs: o do computador e o do televisor. O assunto da pandemia
tornou-se uma constante, os telejornais de todos os canais repetem o mesmo
diariamente, durante horas, até à exaustão. Toda a realidade para além do
COVID-19 parece ter-se evaporado. No que diz respeito a jornais nacionais e
revistas, passa-se exactamente o mesmo. Notícias, investigação jornalística,
comentários, tudo se refere ao virus, de uma forma ou de outra. Como resultado,
os jornais lêem-se tão rápido que nem se dá conta. De uma forma ainda mais
acentuada do que habitualmente. Quando se começa a ler algum comentador ou
mesmo jornalista em concreto, não há qualquer surpresa nos escritos dos
diversos autores; por vezes ficamos com a sensação de que qualquer pessoa
poderia estar na pele deles e escrever por eles exactamente aquilo que
escrevem. A vida normal parece longe, tal como o sol da praia, o som das ondas
do mar e as actividades ao ar livre. Surgem saudades súbitas de vivências
antigas com filhos e até com netos que, de súbito, parecem ainda mais afastadas
no tempo e quase impossíveis de terem sido vividas.
Alguma sanidade
mental vem da leitura de livros que se rebelam contra a leitura transversal e
que obrigam mesmo, uma e outra vez, a voltar ao início do parágrafo para
entender o que está escrito. Mais ainda do que em qualquer outra altura, ler
livros é passaporte, não só para conhecer melhor o mundo, mas para levar a
trabalhar «as pequenas células cinzentas», como dizia Poirot, havendo muito
mais para ler do que «A Peste» de Camus, embora este livro possa ser um bom
ponto de partida.
Mas nem só quem
está confinado está sujeito ao cansaço da situação. A duração da crise
sanitária vai-se prolongar por uma crise económica que se prevê ainda mais
duradoura. E a capacidade de resposta exige muito de quem tem responsabilidades
políticas. Só esse cansaço pode justificar actuações e afirmações com que os
mais altos responsáveis políticos têm brindado os cidadãos deste país. De outra
forma, como justificar que o Presidente da República se ponha a falar de milagres
portugueses a propósito do estado de emergência, que o Primeiro-Ministro fale
de bazucas e fisgas enquanto ansiosamente pede à União Europeia que nos dê dinheiro
para enfrentar a crise económica, que o Presidente da Assembleia da República
fale em mascarados ou que o Presidente do maior partido da oposição, o PSD, escreva
aos militantes do seu partido ordenando que não fragilizem o Governo com as
suas críticas?
Os sentimentos
de uma sociedade, se se pode considerar que existem, e eu estou convencido de que
existem, não serão a soma dos sentimentos momentaneamente manifestados por cada
um dos cidadãos. Serão algo de muito mais profundo e evoluem de uma forma,
digamos invisível, tal como as vagas marítimas que não se vêem e que só se
manifestam com força brutal quando encontram a costa.
Os portugueses sofreram um doloroso processo de recuperação económica de
2011 a 2014. Terem que passar por outra crise económica tão pouco tempo depois
poderá provocar traumas colectivos com consequências difíceis de imaginar. Acresce
que os portugueses não terão ainda consciência de que, nos últimos 25 anos,
recebemos da União Europeia 9 milhões de euros por dia. Todos esses dias. E,
apesar disso, se a mesma União não nos acudir financeiramente, não
conseguiremos enfrentar a crise que agora está a começar, sem consequências
gravíssimas. Como a nossa dívida pública é enorme, de 118% do PIB, pedimos
dinheiro, se possível mesmo a fundo perdido, e agimos como se alguém tivesse a
obrigação de o fazer. Talvez seja mesmo o receio das consequências sociais de
todo este contexto que leva os nossos responsáveis políticos máximos a adoptarem
linguagens que em tempos normais seriam dificilmente aceitáveis. Mas a verdade
é que não estamos a atravessar tempos normais. E eles, mais do que ninguém, têm
consciência disso.Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Abril de 2020
domingo, 26 de abril de 2020
Pandemia e liberdade
Excerto de um artigo da revista Economist:
«...Informações falsas sobre a doença podem ser perigosas. Muitos regimes estão usando esse truísmo como uma desculpa para proibir "notícias falsas", as quais muitas vezes significam críticas honestas. Os traficantes de “falsidade” no Zimbábue agora enfrentam 20 anos de prisão. O chefe de um comité Covid-19 de Khalifa Haftar, um senhor da guerra da Líbia, diz: "Consideramos quem critica ser um traidor". Jordânia, Omã, Iemen e Emiratos Árabes Unidos proibiram os jornais impressos, alegando que eles poderiam transmitir o vírus...»
Tempos difíceis a exigir atenção redobrada.
«...Informações falsas sobre a doença podem ser perigosas. Muitos regimes estão usando esse truísmo como uma desculpa para proibir "notícias falsas", as quais muitas vezes significam críticas honestas. Os traficantes de “falsidade” no Zimbábue agora enfrentam 20 anos de prisão. O chefe de um comité Covid-19 de Khalifa Haftar, um senhor da guerra da Líbia, diz: "Consideramos quem critica ser um traidor". Jordânia, Omã, Iemen e Emiratos Árabes Unidos proibiram os jornais impressos, alegando que eles poderiam transmitir o vírus...»
Tempos difíceis a exigir atenção redobrada.
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