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terça-feira, 5 de outubro de 2021
FRACO CRESCIMENTO
Teodora Cardoso, que não é propriamente de direita, mostra hoje no Público como o nosso marasmo económico, que na prática começou em 1995 isto é, com o fim do cavaquismo e com o início das políticas socialistas, é consequência dessas políticas e não de outra coisa qualquer.
segunda-feira, 4 de outubro de 2021
A VIDA É MARAVILHOSA
Escrevo esta crónica a 1 de Outubro. Crónica que se me impôs e obrigou a guardar para outra oportunidade aquilo que contava escrever esta semana. Ao dar hoje o passeio matinal com o fiel companheiro de quatro patas, passei por uma senhora jovem que levava o seu menino para a escola pela mão. O garoto ia contente e seguro, mas o que me chamou a atenção foi que a mãe trazia outra criança na barriga, embora a gravidez ainda não fosse muito avançada. Lembrei-me de quando eu próprio ia para a escola em criança, lembrei-me dos meus filhos e também das netas e neto de quem, graças à internet, quase todos os dias tenho a felicidade de receber fotografias das suas idas para a escola. Poucos metros depois, passei por outra senhora grávida, duas heróicas mulheres que contribuem para anular a dramática falta de nascimentos dos dias de hoje.
E foi aqui que esta crónica se me impôs. Sem qualquer razão, apercebi-me que o tempo estava fresco, mas agradável. À minha volta, pessoas e muitos jovens entre elas, deslocavam-se para o trabalho ou para as aulas. De repente parecia haver algo no ar que transpirava felicidade, a pandemia aparentemente esquecida. E, sem que possa imaginar a razão, dei por mim a cantar interiormente uma música. E a música era «Gracias a la vida» da Violeta Parra que, apesar do seu destino triste, nos deixou esta mensagem maravilhosa: «Gracias a la vida que me ha dado tanto - Me ha dado la risa y me ha dado el llanto - Así yo distingo dicha de quebranto».
E dei por mim a tomar consciência de que o primeiro de Outubro é o Dia Mundial da Música que, por tantas cidades do mundo é motivo de celebrações festivas em concertos de salas, mas também pelas ruas, quem dera que por cá acontecesse o mesmo.
E tive vontade de partilhar aqui a particular felicidade que foi assistir ao concerto fantástico que teve lugar, há dois dias, no cenário espectacular das ruínas de Conimbriga, contextualizado de forma brilhante pelo Físico Carlos Fiolhais que também apresentou os compositores e as obras que se iam ouvir. O programa, pelo menos no que me diz respeito, dificilmente poderia ser melhor, já que todas e cada uma das peças apresentadas me diz intimamente qualquer coisa. Não tendo eu, com grande pena, formação musical, não deixa de ser surpreendente como o cérebro guarda por completo obras musicais de forma a ir reconhecendo todas as passagens, mas também os contextos e situações em que anteriormente foram ouvidas. O programa incluiu, e espero não me esquecer de nada, a «Fanfarra para o homem comum» de Aaron Copland, a «Rhapsody in blue» de George Gershwin, as «Polovtsian Dances» do Pince Igor de Borodin, a «Balada de Sacco e Vanzetti» de Enio Morricone e Joan Baez, o «Va pensiero» conhecido como o coro dos escravos hebreus da ópera Nabucco de Verdi e, a fechar, a «Abertura 1812» de Tchaikovsky. O leitor que me perdoe por lhe ter, eventualmente, feito criar água na boca ao expor o programa, mas se não foi ao concerto a responsabilidade é inteiramente sua, já que foi anunciado e o acesso até foi gratuito. E o público apreciou e delirou mesmo com o concerto que foi realizado pela Orquestra Clássica do Centro aqui dirigida pelo Maestro Sérgio Alapont, tendo Miguel Borges Coelho sido o pianista solista interpretando Gershwin, contando ainda com o excelente coro Coimbra Vocal nas obras de Morricone e de Verdi.
Neste recomeço da vida «normal» depois de ano e meio de vivência colectiva estranha devido à pandemia, realço o facto de a Orquestra Clássica do Centro ressurgir com uma qualidade que a coloca seguramente ao lado das melhores orquestras portuguesas, demonstrando ainda capacidade organizativa e logística para montar um espectáculo como o apresentado em Conímbriga. Não sei se Coimbra merece ou não albergar em si tal instituição, o facto é que desta forma se coloca ao nível das cidades europeias que não prescindem dessa oferta cultural. Vantagem enorme em termos de candidatura a Capital Europeia da Cultura, disso me parece não haver qualquer dúvida.
E é por a vida ser maravilhosa e merecer ser vivida na sua plenitude que a cultura, abrangendo música e poesia, pode e deve ser uma arma poderosa contra a apatia e mesmo desesperança que tanto tempo de confinamento e esfriamento de relacionamentos provocou. Basta lembrar Manuel Alegre cantado por Adriano:
Mas há sempre uma candeia dentro da própria desgraça
Há sempre alguém que semeia canções no vento que passa
Mesmo na noite mais triste em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 4 de Outubro de 2021
sexta-feira, 1 de outubro de 2021
quarta-feira, 29 de setembro de 2021
terça-feira, 28 de setembro de 2021
segunda-feira, 27 de setembro de 2021
Somos todos Naval Group?
Num dia destes, estava a olhar distraidamente para uma montra de uma loja de artigos electrónicos, quando a minha atenção foi atraída para uma circunstância curiosa: havia uma série de bancadas de marcas de telemóveis e as marcas tinham nomes como XIAOMI, HUAWEI, OPPO, LG, SAMSUNG. São marcas de fabricantes gigantescos de electrónica sofisticada, com algo comum: todas elas são originárias do indo-pacífico. Em consequência, não são americanas nem europeias. Por outro lado, ao andarmos nas ruas, verificamos que automóveis de marcas com nomes coreanos que ainda há poucos anos se distinguiam por um design no mínimo estranho, para ser simpático, são hoje em dia confundidos com facilidade com qualquer carro fabricado em França ou na Alemanha. Terá ajudado que o responsável principal de design da BMW tenha ido trabalhar para a KIA. Quanto à tecnologia, como hoje em dia está completamente difundida, o que dita é o preço de cada classe, não havendo praticamente diferenças entre as marcas tendo o próprio Eng. chefe da secção M da BMW sido contratado pela Hyundai. No que respeita às marcas japonesas nem se fala, já que se fazem notar pela qualidade de construção e design desde há décadas, nada ficando a dever aos carros europeus ou americanos.
Utilizei os exemplos de dois produtos importantíssimos a nível da indústria e comércio mundiais, para mostrar como o mundo está a mudar com grande rapidez, a caminho de a zona do mundo com maior importância económica ser o indo-pacífico. Aliás já o é, se contarmos com os EUA que também têm costa para o oceano Pacífico. A evolução vertiginosa da China vem acrescentar mais um player económico mas que poderá não demorar muitas décadas a ser a maior economia mundial dada a sua dimensão geográfica e populacional. Infelizmente, esta evolução é acompanhada por uma perda pela Europa do seu antigo lugar de centro económico e político do mundo.
Acontece que a importância económica nunca anda longe do poderio militar, qualquer que seja a base ideológica que sustenta as potências. A China não é excepção, nunca o foi ao longo da sua história, longa de milhares de anos. A sua actual expansão económica, quer através das exportações, quer através da aplicação dos resultados dessas actividades nos mais diversos sectores por todo o mundo, designadamente em redes estratégicas de infra-estruturas condicionadoras de toda a sociedade de que Portugal é um exemplo, tem-se feito acompanhar por um crescimento gigantesco da sua capacidade militar. Um dos vectores fundamentais da sua afirmação militar é através dos mares, nomeadamente Índico e Pacífico, o que se reflecte no desenvolvimento da sua marinha de guerra e mesmo na construção de pontos de apoio, nas contestadas ilhas artificiais.
Os possíveis conflitos com as outras potências regionais são evidentes, bastando recordar as antigas guerras com o Japão, mas também as guerras do Vietname e da Coreia, para além da disputa com Taiwan que será aniquilada no dia em perder o apoio americano. É neste contexto, num novo clima de guerra fria, que os EUA, a Austrália e o Reino Unido constituíram um embrião do que poderá vir a ser a «NATO» do Indo-Pacífico, o AUKUS, acrónimo de «Australia, United Kingdom and United States». Recorde-se que o Reino Unido possui as únicas Forças Armadas sedeadas na Europa com capacidade global, capazes de projectar força em qualquer ponto do Mundo, em particular através da sua Marinha. A aliança AUKUS perspectiva colaboração diplomática e tecnológica, desde a cibersegurança à inteligência artificial, para além da colaboração militar.
Na sequência imediata deste acordo, a Austrália abandonou uma encomenda aos estaleiros franceses da Naval Group de doze submarinos convencionais de propulsão diesel-eléctrica, no valor de várias dezenas de milhares de milhões de euros. Em vez disso, a Austrália comprará novos submarinos, mas de propulsão nuclear, ao Reino Unido, o que implica uma transferência inédita de conhecimento reservado aos utentes de energia nuclear.
Como era de esperar a França reagiu com veemência à notícia, no que foi seguida por posições da União Europeia e países europeus, como aconteceu também com Portugal. No que respeita à França, a reacção é compreensível, já que foi uma empresa francesa, a Naval Group, que perdeu um contrato gigantesco. Já no que respeita à União Europeia, o que se trata é de uma fuga à realidade: os europeus vivem em segurança à sombra da protecção militar americana desde o fim da II Grande Guerra. A União Europeia não tem capacidade militar de resposta seja a que ameaça for, principalmente depois da saída do Reino Unido. Com uma sociedade envelhecida, imersa em políticas financeiras e monetárias de curto prazo, energicamente cada vez mais dependente da vizinha Rússia, este acontecimento veio mostrar que tem de mudar de vida. Assim os seus responsáveis políticos o vejam, em vez de fazerem figuras de Calimeros coitadinhos a nível internacional.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Setembro de 2021
Imagens recolhidas na Internet