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terça-feira, 30 de março de 2010
Do Evangelho de hoje
segunda-feira, 29 de março de 2010
A CIGARRA E A FORMIGA
As últimas duas semanas têm sido pródigas em espectáculos verdadeiramente indecorosos na União Europeia, que só vêm demonstrar o que aqui tenho repetidamente escrito sobre a liderança da União e a situação perigosa que pode vir surgir a breve prazo.
A situação calamitosa das contas públicas da Grécia é conhecida, e não vale a pena estar a falar muito nisso. Ainda por cima é relativamente pacífico que os seus responsáveis governamentais andaram durante anos a enganar deliberadamente as instâncias financeiras internacionais sobre a verdadeira situação das suas contas públicas.
Vem agora o Governo Grego, nomeadamente através do vice-primeiro ministro Sr. Theodoros Pangalos, acusar a Alemanha de ser responsável pelo estado das finanças gregas e exigir aos alemães que passem o cheque da estabilização financeira grega. Chegou ao ponto de tentar chantagear os alemães pelo sucedido na Segunda Guerra Mundial, o que, convenhamos, não deverá ser a melhor maneira de os convencer, depois de Konrad Adenauer, Willy Brandt, Helmut Schmidt e Helmut Khol, alguns dos chanceleres que antecederam Angela Merkel, terem trazido a Alemanha para o concerto das nações democráticas, ao mesmo tempo que recuperavam a economia alemã de uma forma espectacular no pós guerra.
Curiosamente, esta posição não é novidade. Há poucos dias, um ministro francês veio igualmente de forma deplorável acusar a Alemanha de ser responsável pelos problemas deficitários de boa parte dos países europeus.
Pelo seu lado, o presidente da Comissão Durão Barroso tem vindo a vincar a necessidade de a Alemanha participar fortemente no plano de ajuda à Grécia, no que não tem tido grande sucesso.
E qual a razão apresentada por tantos responsáveis europeus para esta hostilidade em relação à Alemanha actual? É simultaneamente muito simples e muito complexo: a Alemanha está presentemente com um excedente de balança comercial, isto é, exporta mais do que importa. Os parceiros europeus tentam impor ao Governo alemão políticas que promovam o consumo interno e portanto, que gastem mais. Exactamente o contrário do que os alemães, com grande sacrifício, fizeram nestes últimos dez anos, o que levou à recuperação da economia alemã e à situação que hoje vivem as suas finanças públicas. É bom lembrar que a Alemanha se viu obrigada, no início da década, a rever os sistemas de mercado de trabalho e de segurança social, retirando regalias aos trabalhadores alemães. As próprias empresas e sindicatos acordaram reduções de salários. Enquanto no resto do mundo, designadamente em França e em Inglaterra os custos salariais foram crescendo sempre perto de 1%, na Alemanha esses custos reduziram-se em 1,4% ao ano. O resultado foi que a produtividade alemã se afirmou perante os outros países, permitindo que as suas exportações crescessem, sendo ainda hoje o segundo maior exportador mundial, depois da gigante China.
Não é de espantar, pois, a resistência alemã a ajudar os seus parceiros europeus já que estes, como aconteceu com a Grécia, gastavam à tripa forra, enquanto os alemães passavam por sacrifícios e poupavam. Em suma, a velha história da cigarra e da formiga, que todos conhecemos.
É evidente que a Alemanha se encontra integrada na zona Euro e que sendo a sua economia o motor da Europa pela sua competitividade, qualidade e dimensão dificilmente se poderá alhear dos problemas dos parceiros. Mas não é com atitudes tontas e insensatas como as que temos visto nas últimas semanas por parte de responsáveis europeus que lá vamos. É inteiramente compreensível e até justo que os alemães exijam garantias fortes ao resultado da aplicação do seu dinheiro que tanto trabalho lhes deu a ganhar, e isso deve ser tido em conta.
Publicado no Diário de Coimbra em 29 de Março de 2010
segunda-feira, 22 de março de 2010
AS MULHERES VALEM CADA VEZ MENOS
O leitor desculpará o título deliberadamente provocatório desta crónica. Ainda por cima, duas escassas semanas depois da celebração do “dia internacional da Mulher.
Nas nossas sociedades de matriz judaico-cristã, a Mulher tem sido olhada de uma forma que tem evoluído imenso ao longo dos séculos, no sentido de um respeito cada vez maior pela Igualdade, que se acrescenta, e bem, à tradicional veneração à Mulher enquanto tal. Há hoje, entre nós, um sentimento generalizado de que homens e mulheres devem ser respeitados de forma semelhante, tanto na sociedade em geral, como no mundo do trabalho, em particular. Embora ainda persistam injustas diferenças de pagamento diferenciado por trabalho igual entre homens e mulheres em muitos sectores, a necessitar de correcção, a situação é hoje muito mais equilibrada do que há uns anos. Isto reconhecendo que homens e mulheres são diferentes, residindo na sua complementaridade a riqueza da humanidade.
Como escrevi acima, estas considerações referem-se ao nosso mundo e, se os problemas ainda existentes nos parecem graves e complexos, eles serão mínimos se tivermos em consideração o que se passa em outras partes do mundo.
Não me vou referir ao mundo muçulmano com referências às célebres “burkas”, nem às práticas de mutilação genital feminina praticada em algumas partes de África. Não que isso não seja grave e inadmissível, porque o é sob todos os pontos de vista, mas já vai sendo conhecido e motivo de atenção generalizada. Nos últimos dias foi conhecida outra situação de discriminação em relação às mulheres que ultrapassa muito aquelas em gravidade.
O actual crescimento económico em vários países asiáticos, associado a tradições que não se perdem senão em várias gerações está a ter um efeito devastador sobre as mulheres, ainda pouco conhecido e muito menos discutido. O que se trata é de um verdadeiro e infame “generocídio” das mulheres de uma dimensão assustadora.
Em muitos países do oriente, mas mais particularmente na China, houve desde sempre uma valorização maior dos homens do que das mulheres, o que leva a que os bebés do sexo masculino sejam muito mais bem-vindos do que as meninas. A prática de matar meninas recém-nascidas era relativamente frequente e foi mesmo patrocinada pelo Estado, mas, apesar de tudo, não generalizada por motivos óbvios: não há dúvidas para ninguém que um bebé acabado de nascer é uma pessoa real e não um mero “ser humano em potência”.
Ora, hoje em dia a tecnologia permite saber muito cedo se o futuro bebé é do sexo masculino ou do sexo feminino. As ecografias são baratas e, fruto do desenvolvimento económico daqueles áreas, disponíveis para um maior número de pessoas. Por outro lado, mantém-se uma política de filho único. O resultado é que, se o casal só pode ter um filho, prefere que seja rapaz. Para isso, não há qualquer problema em se irem fazendo abortos sucessivos até se conseguir o objectivo de gerar um menino. Se o leitor julga que estou a exagerar e a fazer campanha contra o aborto, desengane-se. Estou antes a defender o fim de uma autêntica mortandade de mulheres, que já se conta em centenas de milhões. Os números não mentem.
No fim dos anos oitenta, a relação entre nascimentos de meninos e meninas na China era de 108 para 100. De acordo com os especialistas esta pequena diferença está pouco acima do que seria de esperar, porque a mortalidade infantil dos rapazes é naturalmente superior à das meninas, por aqueles serem mais frágeis, havendo assim uma compensação natural para esse facto. No princípio da actual década, essa relação era já de 124 para 100, havendo zonas da China em que actualmente atinge os 130 para 100. Se o leitor tem uma ideia da população chinesa, pode facilmente chegar àquele número assustador que justifica a designação de “generocídio”.
E o problema está a alastrar. Esta evolução demográfica destruidora das mulheres já não é exclusivo da China, sendo hoje em dia claramente perceptível em vários países asiáticos como Taiwan e Singapura, mas também começa a chegar perto de nós, a países como a Sérvia e a Bósnia, para além da Índia, da Arménia, do Asserbeijão e da Geórgia, por exemplo.
Trata-se de uma questão até agora escondida, que deveria ser encarada de frente por todos os defensores dos direitos humanos e dos da Mulher em particular.
Publicado no Diário de Coimbra em 22 de Março de 2010
terça-feira, 16 de março de 2010
Saúde
http://www.ionline.pt/conteudo/51244-isabel-vaz-estado-manda-doentes-casa-poupar
segunda-feira, 15 de março de 2010
SHAME ON YOU
ONDE PÁRA A EUROPA?
A crise económica portuguesa que, para falar verdade, já não sei bem se é sistémica ou conjuntural, leva-nos frequentemente a esquecer o ambiente externo. Felizmente para todos nós, Portugal está hoje inserido naquilo a que se poderá chamar com propriedade um clube de ricos, que é a União Europeia. Mas como muitos clubes desse tipo, a União Europeia tem tiques de aristocracia falida com alguma incapacidade de acompanhar as mudanças do mundo e mesmo de as compreender.
A União Europeia tem definido objectivos irrealistas acompanhados por belos slogans, dando a entender que é muito sofisticada e ambiciosa, mas falhando de forma sistemática e completa na sua concretização prática. Relembro, a propósito, a “Agenda de Lisboa”, que apontava para que a economia europeia fosse a mais competitiva do mundo em apenas dez anos, através do conhecimento. Os resultados são hoje evidentes: a Agenda falhou, clamorosamente.
A Comissão Europeia, consciente do fracasso, ensaia agora uma fuga para a frente, abandonando a estratégia da Agenda de Lisboa e inventando a Estratégia 2020, baseada nas novas condições de governação da União trazidas pelo Tratado de Lisboa. A Comissão Barroso aposta claramente num governo económico comum que trabalhe a par com o Pacto de Estabilidade e Crescimento, o que não parece muito viável, pela oposição da Alemanha pouco interessada em pagar pelos erros dos outros, como se está a verificar com a Grécia. Mais uma vez a União aponta objectivos ambiciosos que ninguém no seu juízo perfeito poderá achar maus: criar 5,6 milhões de empregos, passar o investimento em I&D de 1,9% para 3% do orçamento, reduzir as emissões de CO2 em 20%, reduzir a pobreza em 20 milhões e aumentar a população com estudos universitários de 31% para 40%. Entretanto, enquanto o dirigismo europeu continua alegremente o seu caminho, o “mundo pula e avança” como disse o poeta. E não espera pela ainda rica Europa. À saída da recente crise, prevê-se que este ano os EUA cresçam uns 3%, a China 10% e a Índia 8,5%. Quanto à Europa, a previsão, se a coisa correr bem serão uns somíticos 1,5%, ainda assim bem melhores do que os portugueses 0,5.
A nova governança da Europa na sequência do Tratado de Lisboa tem-se traduzido por falhanços espectaculares, como foi o caso da recente conferência do clima em Copenhaga. Como é hábito, a União Europeia foi para lá armada com grandes objectivos, tentando impor a sua experiência ao resto do mundo. Como resultado, ficou a falar sozinha, tendo-se estado muito perto do falhanço total das negociações. Face ao eminente fracasso, Obama reuniu com os representantes do Brasil, Índia e África do Sul, para dar a volta à situação. O que saiu daquela sala foi a humilhação da União Europeia, que teve que prescindir de tudo o que pretendia e aceitar o que lhe impuseram.
O relacionamento com a América de Obama anda também pelas ruas da amargura, tendo este já adiado a cimeira que chegou a estar prevista para Espanha em Maio. Hoje em dia, um líder mundial não europeu tem ainda mais dificuldade do que antes do Tratado de Lisboa em saber para quem ligar o telefone em nome da União Europeia, usando a famosa imagem de Kissinger. Tem de facto muita gente à escolha: o Presidente da Comissão Durão Barroso, o Presidente do Conselho Van Rompuy, o Presidente rotativo Zapatero, o Presidente do Parlamento Jerzy Buzec ou a Representante para os Assuntos Externos Catherine Ashton. Isto claro, para não falar em quem efectivamente manda, porque paga boa parte da conta, a chanceler alemã Angela Merkel.
Para o resto do mundo, a imagem é a da capa da revista Time de há poucas semanas: um mapa do mundo de onde desapareceu a Europa. Espera-se que os dirigentes europeus sejam capazes de nos surpreender pela positiva mas, sinceramente, não tenho grandes esperanças em que isso aconteça, olhando para aqueles nomes e para o lento e talvez inexorável caminho de descredibilização e falta de competitividade face ao resto do mundo que se tem verificado.
Publicado no Diário de Coimbra em 15 de Março de 2010
sexta-feira, 12 de março de 2010
Evangelho do Dia
(Mc 12, 28b-34) Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» Jesus respondeu-lhe: «O primeiro é este: ‘Escuta, Israel: O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças’. O segundo é este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Não há nenhum mandamento maior que estes». Disse-Lhe o escriba: «Muito bem, Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e não há outro além d’Ele. Amá-l’O com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios». Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente, Jesus disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». E ninguém mais se atrevia a interrogá-l’O.
terça-feira, 9 de março de 2010
Pérolas
"Se uma mulher é capaz de parir um político, por que também não é capaz de parir uma administração mais competente do que o político que ela conseguiu colocar no mundo?"
Lula, preparando o lançamento da candidatura de dona Lindu a presidente do Céu.
"Esse hospital é uma homenagem à vida. Esse hospital é um avanço. Porque esse hospital mostra que a mulher pode ser atendida com qualidade. É impressionante o que tem dentro do hospital, tanto no sentido de equipamento, né? De garantia que tanto a mulher, como a criança ao nascer vão ser atendidas, mas também a delicadeza que tem dentro do hospital no sentido de garantir que ele seja simples. Porém, você está num lugar humano, num ambiente em que tudo foi feito".
Dilma Rousseff, no comício na Baixada Fluminense, explicando que um hospital tem médicos, atende também a mulheres e crianças e, sempre que possível, tenta evitar que os pacientes morram.
"Ainda vi esses dias o que é a subserviência, quando veio a Hillary Clinton… é engraçado que a imprensa queria saber 'se o senhor vai tratar de tal assunto' com a Hillary Clinton. Não, quem vai tratar é o ministro Celso Amorim. Eu vou recebê-la numa deferência, porque o Celso Amorim pediu para recebê-la, mas a conversa é de ministro para ministro… quando for o Obama, e espero que ele vem ainda esse ano, aí eu converso".
Lula, ao revelar que topou receber Hillary Clinton para atender a um pedido de Celso Amorim
"Eu, se pudesse, na hora que eu viajasse para o exterior, eu fazia um rosário das frutas brasileiras. Eu levaria todas as frutas nordestinas, que ainda são pouco conhecidas, até em São Paulo. Levaria graviola, levaria pinha, tudo pendurado no pescoço, para mostrar lá. Porque as frutinhas deles são bem mixurucas diante das nossas, são mirradinhas. Eles são tão grandões, mas as frutinhas são tão mirradas, têm tão pouco caldo, que… E o Brasil tem um espaço".
Lula, capturado por Thuya durante a entrevista a emissoras de rádio de Juazeiro e remetido ao Sanatório com a seguinte observação da comentarista: "Já ouvi a expressão 'se você quer aparecer, pendure uma melancia no pescoço'. Mas um rosário?"
"Depois, você tem a eólica. A eólica, a Dilma é especialista, porque passou um ano medindo um vento lá em Osório para construir a primeira usina eólica do Brasil, que foi lá em Osório, no Rio Grande do Sul".
Lula, capturado por Thuya durante entrevista a emissoras de rádio da região de Juazeiro e remetido ao Sanatório com as seguintes observações da comentarista: "A Dilma passou um ano medindo um vento? Como é que a anta fez a medição? Deve ter corrido atrás do vento com um fita métrica".
"É verdade que a Rocinha deve ter algum bandido. É verdade que no Pavão-Pavãozinho deve ter algum bandido e no Complexo do Alemão também, mas quem disse que não tem bandido naqueles prédios chiques em Copacabana? Quem disse que não tem bandido em outros lugares desse país?"
Lula, em comício na Rocinha
"Assim como o povo americano elegeu Obama, elegeu um negro, e nós votamos aqui a lei de cotas raciais, é um claro sinal de que o Brasil está preparado para ser governado por uma mulher".
Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa do Rio,
"O Sérgio, depois de muitos anos, é o único governador que pensa carioca, age carioca e fala como se fosse carioca, tendo alma de carioca".
Lula, durante discurso na Favela da Rocinha,
NOTA: Isto é aprendermos a não nos rirmos demasiado do que temos