Relembro que as obras em curso no ramal ferroviário da Lousã tiveram o seu início em Dezembro de 2009, dizendo respeito aos troços da linha entre Serpins e o Alto de S. João. As obras referentes ao troço entre o Alto de S. João e o apeadeiro de S. José não foram iniciadas, dado que a Refer não procedeu ainda à sua adjudicação, embora tenha realizado o respectivo concurso. Por outro lado, como é conhecido, a certa altura foram retirados alguns trabalhos às empreitadas em curso, designadamente a colocação dos carris e da catenária; oficialmente, pretendeu-se evitar o roubo dos respectivos materiais, enquanto não se definisse o futuro do projecto. Como resultado boa parte das empreitadas, com excepção daqueles trabalhos, está a ficar pronta, isto é, os viadutos e túneis estão praticamente recuperados e foi colocado o sub-balastro em quase toda a extensão. O balastro ficou por colocar, atendendo à decisão de não colocar os carris. Claro que há zonas urbanas atravessadas pela linha férrea nos troços das actuais empreitadas, na Lousã e em Miranda do Corvo, que não poderiam ficar eternamente à espera do acabamento superficial, porque também lá passam veículos automóveis. Neste caso, está previsto que os carris assentem em vigas de betão, permitindo tráfego rodo e ferroviário. Surpreendentemente, em vez de colocar já a solução definitiva nesses locais, a Refer optou por alcatroar essas zonas, o que significa que, quando forem colocados os carris, se terá que desfazer todo este trabalho, com o aumento de custos e inerentes aborrecimentos acrescidos para as populações da Lousã e Miranda do Corvo.
Esta última decisão levantou legítimas dúvidas sobre uma eventual decisão escondida de substituir o modo ferroviário por autocarros na linha da Lousã, sistema conhecido por BRT. Receio infundado, dado que esse tipo de transporte apenas é possível em troços sub-urbanos planos. No caso concreto, teriam que ser colocadas guias nas numerosas travessias de pontes e túneis que baixariam de tal forma a velocidade de exploração que inviabilizaria completamente o sistema.
É um facto indesmentível que a Lousã e Miranda do Corvo estão a sofrer com a actual situação. O seu mercado imobiliário associado à mobilidade de e para Coimbra está extremamente afectado. Os seus moradores que trabalham em Coimbra são obrigados a percorrer a chamada Estrada da Beira que hoje não é mais do que uma rua com traço contínuo em quase toda a sua extensão, levando a que as deslocações diárias sejam um suplício. Miranda e a Lousã ficaram subitamente muito mais longe de Coimbra.
Mas Coimbra também sofre e muito. Desde logo, pelos atrasos que a situação traz à regeneração urbana da Baixa. Depois, pela própria indefinição das políticas de estratégia de urbanismo, acessibilidades e transportes da cidade. Por fim, não esqueçamos toda a carga de autocarros que durante partes importantes do dia utilizam as nossas vias urbanas, com as inerentes sobrecargas a nível de poluição, desgaste de pavimentos e formação de enormes filas de trânsito. Tudo isto constitui um custo enorme suportado por Coimbra, que começa a ser insuportável e a exigir tomadas de posição fortes e determinadas.
Os estudos económicos indicam que o projecto do Metro Mondego apenas se viabiliza com os troços urbanos dentro de Coimbra; o troço entre Coimbra e a Lousã/ Serpins será sempre deficitário, pelo que todos nós devemos pugnar pelo projecto na sua totalidade. Ninguém se convença que, com os actuais constrangimentos económicos do país que estão aí para dar e durar, a ultra-endividada Refer se disporá a arcar com os prejuízos da exploração de um ramal que foi, não é e certamente não será, só por si.
A actual situação é de não-decisão e traz custos elevadíssimos para todos. O que se pede é que, seja ela qual for, a decisão sobre o Metro Mondego seja tomada rapidamente, esperando-se que se opte, claro está, pela rápida conclusão das obras iniciadas, incluindo o troço urbano.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Junho de 2011
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Junho de 2011