segunda-feira, 1 de junho de 2020

LIDERANÇAS, HOJE

Quando olhamos para os líderes do passado é com os nossos olhos de hoje que o fazemos. Aqueles que, de uma forma ou de outra, por exemplo por terem perdido guerras em que foram intervenientes não transmitiram para o futuro aquilo que defendiam ou em acreditavam ou foram esquecidos ou ficaram para sempre vistos com uma carga negativa. Já os que tiveram o engenho e a sorte de sair vitoriosos, têm a hipótese de criar boa imagem que poderá perdurar durante muito tempo. Como se costuma dizer, os vencedores é que escrevem a História e ai dos vencidos, pelo que o passado está cheio de grandes líderes que, de facto, nunca o foram tendo sido mitificados por narradores ou cronistas pagos para o fazerem, enquanto rebaixavam grandes valores.

Para não ir mais longe, a própria História de Portugal está cheia de casos destes, bastando para o provar recordar o caso do Infante dom Pedro, Duque de Coimbra cujo corpo foi deixado aos cães e a memória tão vilipendiada que ainda hoje, mesmo na nossa Cidade, se formos pela rua perguntar quem foi provavelmente não nos saberão responder. Já se perguntarmos quem pelo Infante D. Henrique levaremos logo com a resposta dos Descobrimentos e da «escola de Sagres».

E, como dos fracos não reza a História, é com toda a facilidade que os líderes de hoje saem muito mal vistos quando comparados com os do passado. Contudo, não devemos cair no erro de olhar para os líderes de hoje com os olhos do passado, porque as circunstâncias são completamente diferentes. E não são diferentes como o Império Romano de César Augusto era diferente do Império Arqueménida de Dario, ou do Império Inca de Túpac Yupanqui. O nosso mundo é hoje diferente de todos esses momentos históricos que tiveram tanto em comum como a actualidade está longe de todos eles. Todos se basearam no uso da força e na dominação física de outros povos, tantas vezes de forma sanguinária, com vista à sua dominação e dos seus territórios Há menos de cem anos isso aconteceu já no século XX com Hitler e os seus sonhos do Reich de mil anos que passou à História como um dos maiores genocidas porque, felizmente, foi derrotado, relegando para a incompreensão humana a sua capacidade de influenciar milhões de alemães e não só.

O que mudou o mundo nas últimas dezenas de anos e os procedimentos dos líderes foi a capacidade de contacto instantâneo através das redes digitais que restringiu de forma drástica a capacidade de esconder actos ou enganar os cidadãos da forma que se fazia anteriormente. A globalização, cujo início se deveu às viagens marítimas dos portugueses no século XV, abrange hoje todo o mundo, permitindo não só as transferências de produtos materiais e financeiros mas também, ou sobretudo, de conhecimento cada vez mais o maior valor de todos.

É assim que os líderes de hoje têm que adoptar procedimentos completamente diferentes de antigamente. Claro que me refiro a verdadeiros líderes e não apenas a ocasionais detentores de poder de que a História não deixará registo de relevo, por não terem tido capacidade de mudança e de construção de futuro melhor. Líderes não apenas políticos, mas também das áreas económicas e sociais.

Perante o mundo de hoje, os líderes têm de ser capazes de aceitar as responsabilidades da sua actuação, para o melhor e para o pior, não enganando os cidadãos, antes informando-os do que tem de ser feito, ainda que não seja isso o que as pessoas querem ouvir, por eventualmente lhes exigir sacrifícios. Não podem, portanto, dizer que andam a fazer uma coisa, quando o que na realidade praticam no silêncio dos gabinetes é algo completamente diferente ou mesmo o oposto. O respeito pelos cidadãos significa hoje muito mais do que respeitar as suas escolhas eleitorais, por implicar um interesse pelo bem-comum, mais do que pelo amor-próprio ou ambição pessoal. Hoje em dia não é possível haver lideranças efectivas que não sejam capazes de estabelecer estratégias combinadas porque as ligações políticas, económicas e sociais existem a tantos e tão entrelaçados níveis, que ninguém está sozinho.

Por isso mesmo, este não é o tempo de nacionalismos porque ninguém, nem países nem empresas podem ter a veleidade de se imaginar melhor do que todos os outros. Afirmar-se que de alguma forma se pode ser auto-suficiente não passa de puro charlatanismo, o oposto da capacidade de liderança que deve ter na Verdade o seu valor mais importante.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 1 de Junho de 2020

CORES


sexta-feira, 29 de maio de 2020

Branding Territorial

Video de promoção da pós-graduação em "Brending Territorial" da Business School de Coimbra. alusivo ao Dia Nacional da Energia.
 https://cbse.iscac.pt/




quarta-feira, 27 de maio de 2020

À ABORDAGEM

Em 1975 a comunicação social estava a ser dominada pela extrema esquerda, com o PCP à cabeça. A certa altura apareceu o Jornal Novo, para lutar contra esse domínio ideológico em que nem o jornal tradicional do PS escapava. O MFA, juntamente com os comunistas, tentava fazer aprovar uma nova "lei de imprensa" para acorrentar de novo a liberdade de imprensa recentemente conquistada, sendo responsável governamental pelo sector um militar da Marinha, se não estou enganado o Cte. Correia Jesuíno. E o Jornal Novo dedicou-lhe um célebre artigo de Artur Portela Filho com o título «À ABORDAGEM» que nunca mais esqueci. Felizmente, a seguir veio o 25 de Novembro e tudo isto ficou para a História para frustração de Álvaro Cunhal e seguidores que não tiveram a sua "Revolução de Outubro".
O que é que me fez lembrar este momento da nossa História? Os ataques esquerdistas ao OBSERVADOR por ter realizado uma campanha de novas assinaturas e doações para compensar o dinheiro do Estado para publicidade recusado pelo jornal online. E rapidamente levantaram dinheiro que compensa o que prescindiram do Estado, marcando a sua independência. Os críticos chegam ao ponto de exigir as listas dos apoiantes do Observador. A Liberdade passa mesmo por aqui e estes ataques demonstram quem é que de facto acabaria com ela se quisesse.