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quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
segunda-feira, 29 de novembro de 2021
A FALTA DE TRABALHADORES EM PORTUGAL
Tal como penso que sucederá com uma boa parte dos portugueses, tenho sido surpreendido por sucessivas notícias dando conta de uma falta sistemática de trabalhadores nas mais diversas áreas da economia.
Na construção civil, segundo a Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), haverá necessidade de 70 mil trabalhadores situação que, aliada a uma actual falta de matérias-primas, se reflecte negativamente na capacidade de resposta do sector. Como se sabe, trata-se de uma das indústrias tradicionalmente mais relevantes na economia nacional, cujos problemas se fazem reflectir na restante economia, a jusante e a montante. Contudo registe-se que, em simultâneo, o fundo de desemprego regista 32 mil trabalhadores da construção.
O mesmo sucede na indústria do mobiliário, queixando-se a Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (APIMA) de grandes dificuldades em encontrar trabalhadores para áreas especializadas, como marcenaria, tornearia e estofagem, pelo que há empresas de alguma dimensão a recusar encomendas por falta de capacidade de resposta. Há empresas que para conseguirem os novos trabalhadores de que necessitam informam que, em consequência, irão passar a pagar 750 euros aos trabalhadores que ganham o ordenado mínimo actual de 665 euros e que em Janeiro passará para 705 euros. Tal como acontece na indústria do calçado em que, de acordo com a Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS), as empresas têm de ir à procura de profissionais fora dos concelhos tradicionais onde a oferta de mão-de-obra está esgotada.
O sector do Turismo é dos que mais sofrem com a falta de trabalhadores que, de acordo com a Associação da Hotelaria e Restauração (AHRESP), ascende a mais de 40.000, dos quais cerca de 15.000 nos hotéis, o que é confirmado pela Associação de Hotelaria de Portugal (AHP). Há mesmo unidades hoteleiras fechadas por falta de pessoal, sendo o problema mais agudo no Algarve.
E por aí fora, espalhando-se a falta de trabalhadores por toda a economia, em particular nas áreas tradicionais, não sendo a fileira da moda, com os sectores têxtil e do vestuário uma excepção, antes pelo contrário. Até o ministério das Infra-estruturas se queixa da falta de mão-de-obra qualificada para os projectos como justificação para o atraso do Ferrovia 2020.
Acresce que o Instituto de Emprego e Formação Profissional informa que as ofertas de emprego por preencher se aproximam dos 25.000, quando o número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego é superior a 350.000. O país está perante uma evidente disfunção do mercado de trabalho que é simultaneamente sinal e resultado de muitos factores que merecem análise aprofundada e medidas de resposta adequadas.
Entre as causas, são apontados o envelhecimento da população e a falta de imigrantes para compensar a falta de mão-de-obra quer pela saída devida à pandemia, quer por os próprios refugiados que entram se dirigirem rapidamente para a Europa Central, utilizando Portugal apenas como porta de entrada na “Europa rica”. A desadequação da formação profissional é também uma evidência sentida pelas empresas aos mais diversos níveis. O próprio Estado seca a oferta de trabalho ao contratar cerca de 70.000 pessoas em apenas seis anos. Nos últimos anos assistimos também a uma grande onda de emigração.
A razão principal para a situação terá, contudo, a ver com os ordenados pagos aos trabalhadores. A estagnação económica dos últimos vinte anos com um crescimento que só se poderá classificar de miserável em comparação com os países europeus do nosso campeonato, tem tido como consequência uma descida relativa dos ordenados das classes médias. O ordenado mínimo, que é baixíssimo a nível europeu e só nos envergonha aproxima-se paulatinamente do ordenado médio dos portugueses, de que já representa 65%. O país parece ter caído numa armadilha de que é necessário sair com urgência.
Tudo isto concorrerá para o que se passa, mas um amigo meu que se especializou em Medicina na Alemanha no início dos anos setenta tem uma explicação mais simples: finalmente, cinquenta anos depois, está a acontecer em Portugal o que se verificava nos países europeus que acolhiam emigrantes portugueses que iam colmatar as falhas nos empregos que os nacionais já não aceitavam. Isto é, as ofertas de emprego existentes não são, nos dias de hoje, suficientemente atractivas para os portugueses actualmente desempregados, principalmente os jovens que têm outras aspirações. E tendo a dar-lhe razão.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 29 de Novembro de 2021
Imagens recolhidas livremente na Internet
terça-feira, 23 de novembro de 2021
segunda-feira, 22 de novembro de 2021
LÍDERES ATÉ À MORTE
Na recente reunião à porta fechada do Comité Central do Partido Comunista Chinês foi aprovada, com votos de braço no ar, uma resolução que abre o caminho para que o líder chinês Xi Jinping possa iniciar um terceiro mandato de cinco anos no próximo ano. Em comunicado oficial do PCC, referem-se «as conquistas históricas» alcançadas pela China sob a sua liderança. A agência Reuters adianta mesmo que «o pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características para uma nova era» é assim mesmo ensinado nas escolas às crianças chinesas.
Nada que não se tivesse já visto antes na China comunista. O fundador da República Popular da China, Mao Tse Tung, governou o país durante trinta anos desde a sua fundação em 1946 até à sua morte em 1976. Mao, cujos “pensamentos” foram seguidos acriticamente por grande parte da intelectualidade ocidental como Sartre, promoveu uma reforma agrária com uma brutalidade indescritível e lançou reformas económicas visando a construção do socialismo como o “grande salto em frente” que provocaram milhões de mortos, muitos deles por suicídio, ou à fome. Nos últimos dez anos da sua vida lançou a “Revolução Cultural” que provocou a morte de milhões de chineses e sofrimento brutal a muitos mais.
A tendência para os líderes dos regimes comunistas se perpetuarem no poder pode parecer, à primeira vista, uma incongruência. Na realidade, a simples constatação de que é algo de sistemático, como a História tem mostrado, é a prova de que está na genética desses regimes.
Estaline liderou a União Soviética logo após a morte de Lenin em 1924 até à sua morte em 1953. Exerceu o poder de uma forma despótica através do exercício extremo do terror. A “grande purga” não poupou os camaradas do partido comunista a uma média superior a 300 pessoas executadas por dia durante cinco anos, normalmente com um tiro na nuca. Isto para além dos milhões enviados para os campos de concentração do Gulag em que muitos morreram e ainda dos milhões de russos e ucranianos mortos à fome.
Josep Broz Tito ascendeu à presidência da Jugoslávia comunista alguns anos depois do fim da II Grande Guerra, em 1953, tendo sufocado com mão de ferro as pulsões independentistas das várias nações agregadas na Jugoslávia. Governou até à sua morte em 1980, após o que o país se desmembrou, originando as guerras sanguinárias que se conhecem e ainda hoje não completamente resolvidas.
Ceauscecu foi o líder do partido comunista da Roménia a partir de 1965, acumulando com a presidência do país a partir de 1974. Ficou conhecido pelo seu autoritarismo, mas também pela forma como a sua polícia política, a Securitate, vigiava e controlava todo um povo. A sua mulher Elena acompanhava-o num culto da personalidade, tendo construído um palácio mastodôntico em Bucareste, à medida dos seus egos. O fim de ambos surgiu em 1989 com a queda dos regimes comunistas da Europa de Leste, que ditou o seu assassínio após um julgamento relâmpago.
Henver Hoxha deteve o poder na Albânia comunista ocupando vários cargos desde 1944 até à sua morte em 1985, apesar de problemas graves de saúde o terem seixado diminuído a partir de 1973. De uma forma que hoje nos parece incompreensível, o seu modelo político era apresentado como ideal por forças políticas de esquerda ainda nos anos 70 e 80, apesar do estado miserável em que deixou o seu país.
Fidel Castro liderou a revolução cubana no final dos anos 50, tendo exercido o poder com o partido comunista e sem quaisquer outros partidos até 2008, ano em que, por razões de saúde, passou a liderança ao seu próprio irmão, Raúl Castro, vindo a falecer em 2016.
Kim Jong-un é líder da Coreia do Norte, que exerce desde 2012 através do partido comunista que lá se chama Partido dos Trabalhadores da Coreia. Nascido em 1983, herdou o poder do seu pai Kim Jong-il que por sua vez o recebeu de seu pai e fundador do regime, Kim Il-sung, que reinou de 1948 até à sua morte em 1994. Escrevo «reinou», porque é efectivamente disso que se trata: uma monarquia comunista.
Termino esta crónica com este exemplo, por ser o que mais longe leva o exercício pessoal do poder por parte de líderes comunistas, mas muitos mais tem havido por esse mundo fora, desde que Lenin, Trotsky e seus camaradas levaram por diante a revolução russa de 1917 e a tentaram exportar para todo o mundo.
Tenho amigos comunistas que são excelentes pessoas e cidadãos exemplares mas que, quando confrontados com esta realidade nunca a reconhecem, adiantando explicações que derivam de uma fé de nível religioso, ou então com afirmações sobre as experiências históricas nunca terem sido verdadeiramente comunistas e pertencerem ao passado, aguardando-se ainda pela perfeição. Contudo, o que se está a passar neste momento na China não é passado, é presente, e é importante para todos nós já que a China sempre foi, é e vai cada vez mais um dos países mais fortes do mundo a nível populacional, económico e mesmo militar.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 22 de Novembro de 2021
Imagens recolhidas na internet
domingo, 21 de novembro de 2021
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
CAPACETES AZUIS CRIMINOSOS
Em 1993 a Força de Protecção da ONU Unprofor foi enviada para a Bósnia para proteger as populações civis da guerra que aí decorria. Mas em Julho de 1995 os capacetes azuis, na altura holandeses, entregaram cerca de 300 bósnios muçulmanos (homens e crianças) que se encontravam no complexo da ONU em Srebrenica, às forças servo-bósnias comandadas pelo Gen. Ratko Mladic que trataram de os massacrar. Em 2014 os tribunais holandeses consideraram que os soldados holandeses agiram ilegalmente e o Estado Holandês como parcialmente responsável, decretando indemnizações às famílias das vítimas. O que naqueles dias pavorosos aconteceu naquela zona da Europa e que hoje está integrada na União Europeia, foi mesmo qualificado como genocídio pelo Tribunal Penal Internacional para a Antiga Jugoslávia, tendo a matança de homens e crianças ascendido a uns oito mil.
Em 2008 a organização não-governamental Save the Children denunciou que membros de forças de manutenção da paz da ONU na Costa do Marfim e no Sudão abusavam sexualmente de crianças. Já em 2016, soube-se que capacetes azuis da ONU pagavam por sexo com crianças de 13 anos na República Centro-Africana, mesmo depois de o responsável da ONU naquele país ter sido despedido. Os próprios responsáveis máximos da ONU reconhecem que no campo de refugiados M´Poko «acontecem coisas horríveis e inaceitáveis contra mulheres e crianças» e organizações como a Amnistia Internacional referem que «os soldados se sentem acima da lei, assumindo que nunca serão julgados pelos seus actos».
E agora aconteceu com capacetes azuis portugueses. Claro que, na tradição dos «Oliveiras da Figueira» por esse mundo fora, alguns soldados comandos capacetes azuis portugueses dedicaram-se, não a fechar os olhos a matanças ou a praticar violações sistemáticas, mas à negociata, pura e dura. No final de 2019 as chefias militares tiveram conhecimento da existência de uma rede de tráfico de diamantes, ouro e droga baseada no contingente militar português em representação da ONU na República Centro-Africana, utilizando os aviões militares portugueses para retirar os materiais traficados e transportá-los em segurança para Portugal e depois para a Europa, designadamente Antuérpia. A denúncia partiu, não de alguém que tivesse sabido do que estava a acontecer por acaso, mas de um dos participantes no esquema, um tradutor local a quem não foi pago o combinado com a rede e que resolveu, por vingança, contar tudo às chefias militares portuguesas.
A investigação, por parte da Polícia Judiciária na operação a que chamou Miríade, chegou agora ao fim com a realização de buscas de Norte a Sul do país incluindo o Regimento de Comandos e a prisão preventiva de dois arguidos suspeitos de chefiarem a organização criminosa, para além da constituição de vários outros suspeitos como arguidos.
A extensão da rede com várias ligações internacionais e a capacidade de colocar diamantes e ouro no mercado, o que não é fácil e exige técnicas financeiras para lavagem de dinheiro em quantidades apreciáveis terá surpreendido as próprias autoridades que ainda estarão longe de ter detectado todas as ramificações.
Surpreendidos ficaram também os portugueses, quer pela descoberta da rede em si, quer com o desconhecimento completo do que se passava por parte do primeiro-Ministro e do próprio Presidente da República que é, constitucionalmente, o Comandante Supremo das Forças Armadas. O ministro da Defesa, argumentando com o «segredo de justiça», terá mantido à margem os órgãos de soberania com responsabilidades na área militar. Por outro lado, não deixou de informar a ONU do que se passava, mas colocando também de lado o seu colega ministro dos Negócios Estrangeiros. Tudo isto é mau demais e não dignifica Governo e Forças Armadas. É evidente que informar os outros Órgãos de Soberania e a própria chefia do Governo da existência de investigação não coloca minimamente em causa o segredo de Justiça, já que o próprio ministro da Defesa estava naturalmente fora da investigação criminal.
Virem agora os próprios responsáveis políticos máximos defender que o prestígio das Forças Armadas e do país não foram beliscados é tentar tapar o Sol com a peneira. Claro que o foram e o que há a fazer agora é, para além de se fazer Justiça, mostrar à evidência que os procedimentos de segurança e de prevenção de corrupção foram já, ou vão-no ser de imediato, alterados de forma a impedir que algo de semelhante possa voltar a acontecer. E, claro, a assunção das responsabilidades políticas pela forma como todo este caso foi tratado.
Os comentários de Putin sobre este caso, ainda que vindos de alguém que representa regimes políticos que alteram constituições para eternizarem líderes no poder, aí estão para demonstrar como o caso é sério a nível internacional e não se deve esperar apenas que seja esquecido, como uma qualquer circunstância sem significado.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 15 de Novembro de 2021
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segunda-feira, 8 de novembro de 2021
O ESTADO DA ARTE
Pieter Bruegel, o Velho, foi um pintor flamengo nascido por volta de 1525 no Ducado de Brabante, no norte do que é hoje a Bélgica. Foi talvez um dos primeiros pintores a pintar paisagens, não como mero fundo, mas como motivo da obra de arte. Tendo iniciado a sua formação em Antuérpia, viajou para Itália para aprender com os renascentistas onde começou a assinar as suas obras, tendo-se tornado num dos mais importantes pintores flamengos renascentistas. Tinha o hábito de se vestir como um camponês e de se assim participar em festas e casamentos, o que lhe servia de inspiração para muitas das suas obras. As suas pinturas reflectiam costumes populares, muitas vezes picarescos, fazendo abundante uso da sátira. Na sua obra é visível a influência de Jeronimo Bosch cuja espantosa obra «o Jardim das Delícias» pode ser admirada no Museu do Prado em Madrid, tendo Portugal o privilégio de abrigar as suas «Tentações de Santo Antão» no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Embora tenha morrido novo, com quarenta e poucos anos, Pieter Bruegel, o Velho deixou uma vasta obra dado que, para além da pintura, se dedicou também a executar gravuras para publicações diárias.
Uma das obras mais famosas de Pieter Bruegel, o Velho, é «A Parábola dos Cegos» que pode ser vista no Museo Nazionale di Capodimonte, em Nápoles, Itália. O pintor inspirou-se no Evangelho de Mateus: Deixai-os, pois são cegos que guiam cegos. Ora, se um cego guia outro cego, ambos cairão no buraco. (Mateus: 15:14). Os seis cegos que seguem em fila indiana vão caindo sucessivamente depois da queda do primeiro. Todos os cegos têm expressões diferentes, reconhecendo-se cinco tipos de doenças oculares, o que faz do quadro uma obra célebre no mundo da Medicina.
O seu filho mais velho levou o seu nome, sendo por isso mesmo conhecido como Pieter Bruegel, o Jovem, dado ter-se igualmente dedicado à pintura. Nascido em 1564, tinha apenas cinco anos quando o seu pai faleceu, formando-se na prestigiada Guilda de São Lucas e tendo igualmente viajado por Itália, deixando uma obra vastíssima actualmente presente em numerosos museus por todo o mundo. Foi também um importante pintor de paisagens e uma parte das suas pinturas é baseada em quadros do seu Pai, caso de um quadro que está em Portugal: a «Festa de Casamento» assinada e datada de 1620.
E foi esta obra-prima que, infelizmente, foi notícia nos jornais na passada semana. Pelos piores motivos, acrescente-se. O quadro é propriedade do Novo Banco, encontrando-se emprestado ao Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora, mediante um acordo com o Ministério da Cultura assinado em 2018. Sucede que, de acordo o Jornal Público, o Novo Banco pediu que o quadro fosse retirado do Museu Nacional em Évora, para ser enviado ao Laboratório José de Figueiredo, em Lisboa, o organismo da Direcção Geral do Património Cultural responsável por trabalhos de conservação e restauro, dado que foram detectados danos na pintura.
Desde logo se estranha que tivesse sido o próprio Novo Banco a tomar a iniciativa de retirar o quadro do Museu e tratar de o enviar ao Laboratório. A notícia do Público deixa transparecer um passa-culpas, dando-se a entender que o quadro poderia já ter o problema quando foi para Évora. Ao que se responde que, antes disso, passou pelo Laboratório José de Figueiredo para atestar das suas condições, não tendo sido detectado o problema agora em causa. E depois surge à superfície, mais uma vez, o problema das condições técnico-financeiras e de pessoal das nossas instituições encarregadas de apresentar as obras de arte ao público e delas cuidar e manter. A directora do Museu de Évora garante que as obras de arte são objecto de todos os cuidados e mesmo verificação periódica das suas condições, mas vai-se queixando de que «os assuntos são muitos e os braços são pouquíssimos». Já a directora do laboratório José de Figueiredo garante que «as nossas instituições estão carentes de recursos humanos. Há falta de pessoal com capacidade para olhar para as peças. O Verão, que é a altura mais crítica, foi bastante quente. Essas peças ressentem-se das diferenças de ambienta». Está tudo dito. Na realidade, tal como em muitos outros museus da responsabilidade do Estado, os sistemas de ar condicionado, ou não funcionam, ou fazem-no deficientemente. Foi o caso do Museu de Évora. O problema evidente é a falta de dinheiro. Nada que o anterior director do museu Nacional de Arte Antiga, o meu Amigo Prof. António Filipe Pimentel não tivesse denunciado alto e forte, antes de desistir e ir dirigir o Museu da Fundação Gulbenkian.
Para o caso nem interessa que este quadro esteja avaliado e seguro em quase 5 milhões de euros. O que verdadeiramente importa é a capacidade, ou falta dela, de cuidar do património, condição absolutamente necessária para que uma sociedade se considere civilizada.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 8 de Novembro de 2021
Imagens retiradas da internet