segunda-feira, 8 de junho de 2020

BEETHOVEN – SUPERAR A LIMITAÇÃO


Não deverá haver, na História da Humanidade, muitos exemplos da capacidade do cérebro humano ultrapassar as limitações físicas do corpo que habita da forma genial como o fez Beethoven.
Quando a sua Nona Sinfonia foi apresentada em 1824, no Teatro da Corte Imperial de Viena, Beethoven estava completamente surdo, ao ponto de não ouvir os aplausos estrondosos de um público entusiasmado pela novidade da música que tinha acabado de ouvir pela primeira vez, pelo seu absoluto brilhantismo mas também, certamente, pela oportunidade de ali homenagear o compositor amado. Conta-se que, tendo sido convidado a permanecer ao lado do maestro durante o concerto, um dos cantores teve mesmo que o virar para a assistência para se aperceber da reacção do público.
Dotado de um espírito forte, famoso pelos seus acessos de cólera mas também pelo seu sentido de humor, se há característica que se pode atribuir-lhe é o seu amor à Liberdade. Entusiasmado pelos valores difundidos pela Revolução Francesa, dedicou a Napoleão a sua revolucionária Terceira Sinfonia. O que não foi perene foi a sua dedicatória, que raspou na partitura original, ao saber que o destinatário se tinha declarado Imperador, afirmando: «Afinal trata-se de um homem vulgar! Agora vai pisar todos os direitos humanos e obedecer apenas à sua ambição; vai querer ser superior a todos os outros e tornar-se um tirano». A terceira sinfonia seria para sempre chamada «Heroica» em vez de «Sinfonia Bonaparte».
Quando compôs a «Heroica» em 1804, aos 34 anos de idade, Beethoven sofria já de surdez avançada que de forma crescente o ia impedindo de ouvir aquilo a que se dedicava de forma apaixonada, a Música, ouvindo apenas aquilo a que Romain Rolland chamou o «canto interior». A partir de 1815 já só conseguia mesmo comunicar com os amigos através de escrita e, até ao fim da vida, a música existiria cada vez mais apenas no seu cérebro para ser passada pela sua caneta ao papel. A importância histórica da terceira sinfonia advém também de, para muitos, marcar a passagem definitiva do classicismo para um romantismo que abre as portas a toda uma nova época da História da Música dando largas à emotividade e libertação dos sentimentos.
Muitos autores se debruçaram sobre a vida de Beethoven e a sua obra, destacando aqui o acima referido Romain Rolland que, no princípio do século XX, dele escreveu uma biografia e o teve como inspiração para o seu monumental romance «Jean Christophe» que lhe valeu o Nobel da Literatura.
Ainda hoje a interpretação e gravação da integral das suas nove sinfonias constitui um ponto culminante da carreira de qualquer orquestra ou maestro. A influência destas obras na História da Música é de tal ordem que muitos compositores, depois de Beethoven, se recusaram a escrever mais de nove sinfonias, como sinal de respeito perante o grande mestre; as quatro primeiras notas da Quinta Sinfonia são, talvez, o trecho musical mais conhecido da História da Música, apesar de tão curto. São todas tão impressivas e diferentes entre si que dão a qualquer pessoa a possibilidade de gostar mais de uma ou outra permitindo-me a mim, apenas amante da música, dizer que gosto particularmente da Sétima e da Nona. Cresci a ouvir as interpretações das sinfonias de Beethoven por Karajan, tendo criado a ideia de que se tratava de uma música por vezes um pouco pesada; depois conheci as interpretações de Claudio Abbado com uma sensibilidade muito própria e belíssima e, finalmente, de Simon Rattler que me ofereceu toda uma nova perspectiva de Beethoven, provando a riqueza e profundidade da sua música inimitável.
Para além da monumental obra que se estende por diversas formas musicais, Beethoven marcou também a História da Cultura, ao ser o primeiro músico a viver da publicação das suas obras, não se sujeitando a ter mecenas de quem dependesse financeiramente e de algum modo pudessem tentar limitar a sua criação. De entretenimento privado de aristocratas, a apresentação das obras musicais foi paulatinamente passando para salas de concertos e foram surgindo as orquestras profissionais, o que permitiu a popularização e democratização desta forma artística.
Celebrando-se no ano que passa os 250 anos do nascimento de Ludwig van Beethoven, apenas posso deixar um desafio aos nossos leitores: se já conhecem a sua música, revisitem-na com novos intérpretes que os há excelentes; se não conhecem, vão ouvi-la em discos ou, de preferência, ao vivo, em concertos.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 8 de Junho de 2020

segunda-feira, 1 de junho de 2020

LIDERANÇAS, HOJE

Quando olhamos para os líderes do passado é com os nossos olhos de hoje que o fazemos. Aqueles que, de uma forma ou de outra, por exemplo por terem perdido guerras em que foram intervenientes não transmitiram para o futuro aquilo que defendiam ou em acreditavam ou foram esquecidos ou ficaram para sempre vistos com uma carga negativa. Já os que tiveram o engenho e a sorte de sair vitoriosos, têm a hipótese de criar boa imagem que poderá perdurar durante muito tempo. Como se costuma dizer, os vencedores é que escrevem a História e ai dos vencidos, pelo que o passado está cheio de grandes líderes que, de facto, nunca o foram tendo sido mitificados por narradores ou cronistas pagos para o fazerem, enquanto rebaixavam grandes valores.

Para não ir mais longe, a própria História de Portugal está cheia de casos destes, bastando para o provar recordar o caso do Infante dom Pedro, Duque de Coimbra cujo corpo foi deixado aos cães e a memória tão vilipendiada que ainda hoje, mesmo na nossa Cidade, se formos pela rua perguntar quem foi provavelmente não nos saberão responder. Já se perguntarmos quem pelo Infante D. Henrique levaremos logo com a resposta dos Descobrimentos e da «escola de Sagres».

E, como dos fracos não reza a História, é com toda a facilidade que os líderes de hoje saem muito mal vistos quando comparados com os do passado. Contudo, não devemos cair no erro de olhar para os líderes de hoje com os olhos do passado, porque as circunstâncias são completamente diferentes. E não são diferentes como o Império Romano de César Augusto era diferente do Império Arqueménida de Dario, ou do Império Inca de Túpac Yupanqui. O nosso mundo é hoje diferente de todos esses momentos históricos que tiveram tanto em comum como a actualidade está longe de todos eles. Todos se basearam no uso da força e na dominação física de outros povos, tantas vezes de forma sanguinária, com vista à sua dominação e dos seus territórios Há menos de cem anos isso aconteceu já no século XX com Hitler e os seus sonhos do Reich de mil anos que passou à História como um dos maiores genocidas porque, felizmente, foi derrotado, relegando para a incompreensão humana a sua capacidade de influenciar milhões de alemães e não só.

O que mudou o mundo nas últimas dezenas de anos e os procedimentos dos líderes foi a capacidade de contacto instantâneo através das redes digitais que restringiu de forma drástica a capacidade de esconder actos ou enganar os cidadãos da forma que se fazia anteriormente. A globalização, cujo início se deveu às viagens marítimas dos portugueses no século XV, abrange hoje todo o mundo, permitindo não só as transferências de produtos materiais e financeiros mas também, ou sobretudo, de conhecimento cada vez mais o maior valor de todos.

É assim que os líderes de hoje têm que adoptar procedimentos completamente diferentes de antigamente. Claro que me refiro a verdadeiros líderes e não apenas a ocasionais detentores de poder de que a História não deixará registo de relevo, por não terem tido capacidade de mudança e de construção de futuro melhor. Líderes não apenas políticos, mas também das áreas económicas e sociais.

Perante o mundo de hoje, os líderes têm de ser capazes de aceitar as responsabilidades da sua actuação, para o melhor e para o pior, não enganando os cidadãos, antes informando-os do que tem de ser feito, ainda que não seja isso o que as pessoas querem ouvir, por eventualmente lhes exigir sacrifícios. Não podem, portanto, dizer que andam a fazer uma coisa, quando o que na realidade praticam no silêncio dos gabinetes é algo completamente diferente ou mesmo o oposto. O respeito pelos cidadãos significa hoje muito mais do que respeitar as suas escolhas eleitorais, por implicar um interesse pelo bem-comum, mais do que pelo amor-próprio ou ambição pessoal. Hoje em dia não é possível haver lideranças efectivas que não sejam capazes de estabelecer estratégias combinadas porque as ligações políticas, económicas e sociais existem a tantos e tão entrelaçados níveis, que ninguém está sozinho.

Por isso mesmo, este não é o tempo de nacionalismos porque ninguém, nem países nem empresas podem ter a veleidade de se imaginar melhor do que todos os outros. Afirmar-se que de alguma forma se pode ser auto-suficiente não passa de puro charlatanismo, o oposto da capacidade de liderança que deve ter na Verdade o seu valor mais importante.

Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 1 de Junho de 2020

CORES


sexta-feira, 29 de maio de 2020

Branding Territorial

Video de promoção da pós-graduação em "Brending Territorial" da Business School de Coimbra. alusivo ao Dia Nacional da Energia.
 https://cbse.iscac.pt/




quarta-feira, 27 de maio de 2020

À ABORDAGEM

Em 1975 a comunicação social estava a ser dominada pela extrema esquerda, com o PCP à cabeça. A certa altura apareceu o Jornal Novo, para lutar contra esse domínio ideológico em que nem o jornal tradicional do PS escapava. O MFA, juntamente com os comunistas, tentava fazer aprovar uma nova "lei de imprensa" para acorrentar de novo a liberdade de imprensa recentemente conquistada, sendo responsável governamental pelo sector um militar da Marinha, se não estou enganado o Cte. Correia Jesuíno. E o Jornal Novo dedicou-lhe um célebre artigo de Artur Portela Filho com o título «À ABORDAGEM» que nunca mais esqueci. Felizmente, a seguir veio o 25 de Novembro e tudo isto ficou para a História para frustração de Álvaro Cunhal e seguidores que não tiveram a sua "Revolução de Outubro".
O que é que me fez lembrar este momento da nossa História? Os ataques esquerdistas ao OBSERVADOR por ter realizado uma campanha de novas assinaturas e doações para compensar o dinheiro do Estado para publicidade recusado pelo jornal online. E rapidamente levantaram dinheiro que compensa o que prescindiram do Estado, marcando a sua independência. Os críticos chegam ao ponto de exigir as listas dos apoiantes do Observador. A Liberdade passa mesmo por aqui e estes ataques demonstram quem é que de facto acabaria com ela se quisesse.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

PRESIDENCIAIS à portuguesa


Uma visita a uma fábrica de automóveis constitui o cenário mais improvável para se fazer um anúncio de apoio a uma recandidatura presidencial. Mas foi o que aconteceu em Portugal, neste ano da (pouca) graça de 2020.
Não é que a recandidatura do actual presidente da República não fosse algo de que praticamente todo o país tivesse a certeza a começar pelo próprio, correndo-lhe o actual mandato como correu. Recordo que, no Verão de 2015, numa conferência de Marcelo em Coimbra, lhe perguntei se confirmava a intenção de se candidatar às presidenciais de Janeiro de 2016, ao que me respondeu com a sua ironia que era algo em que ainda não tinha pensado até então, mas que ia pensar nisso, provocando uma gargalhada geral na sala.
Eventualmente, o momento e o local para a indicação da decisão não terão sido propriamente do agrado do Presidente Marcelo, mas também não foram da sua escolha e, às vezes, não se pode fugir às circunstâncias. O «affaire» Centeno foi uma situação muito desagradável para o primeiro-ministro que, perante uma situação penosa que o colocava em cheque perante o país, viu Marcelo dar-lhe a mão, enquanto abandonava politicamente o ministro das Finanças. Foi assim possível ver um Costa todo prazenteiro dizer a Marcelo que contava voltar a encontrar-se de novo com ele como Presidente no mesmo local, numa altura que será depois das presidenciais. Como lhe costuma acontecer jogou bem e, no que lhe diz respeito quanto às presidenciais e como se diz no casino, «les jeux sont faits».
Claro que esta nova situação tem consequências. À esquerda do PS deverão aparecer candidaturas às presidenciais, como é tradição. Quanto ao PCP, apresentou sempre os seus próprios candidatos presidenciais, pelo que decerto fará o mesmo desta vez. O Bloco de Esquerda desejará fazer o mesmo, havendo mesmo quem adiante a recandidatura da conimbricense Marisa Matias que nas anteriores presidenciais obteve um honroso 3º lugar com 10,12% dos votos, deixando muito para trás o candidato do PCP Edgar Silva que se ficou por uns míseros 3,95%.
O anúncio do apoio de Costa a Marcelo deixou sem respiração uma boa parte do PS que muito dificilmente apoiará o actual presidente. Contudo, e muito convenientemente, o Congresso socialista foi postergado para depois das eleições presidenciais, pelo que as discussões internas se ficarão a um nível mais privado e, eventualmente, mais controlado pela direcção do partido. Espera-se, no entanto, que Ana Gomes ou outra personalidade semelhante capaz de surfar a onda do populismo «anti sistema» à esquerda se veja alvo de pressões no sentido de uma candidatura independente da área socialista, podendo mesmo avançar como Manuel Alegre já fez no passado. 
Recorda-se que em 2006 Manuel Alegre obteve quase 21% contra o vencedor Cavaco Silva (50,54%), tendo Mário Soares, que era o candidato oficial do PS, obtido apenas 14%. Ana Gomes poderá fazer melhor, caso o BE não apresente candidatura própria.
À direita, de forma algo surpreendente estabeleceu-se a confusão, como que a querer provar ser mesmo «a direita mais estúpida do mundo», lançando nomes cada um mais implausível que o anterior. É certo que o Presidente Marcelo não corporizou oposição aos governos Costa, desde 2016, havendo mesmo muitos momentos em que se pode legitimamente considerar que foi a mão mais ou menos visível que os segurou. Mas alguém minimamente atento à coisa pública pode afirmar que os partidos tradicionais à direita do PS têm exercido oposição forte e susceptível de afirmar uma clara alternativa política, desde a saída de Passos Coelho da liderança do PSD? Será que estariam à espera que o presidente da República fizesse esse trabalho por eles? Mais uma vez o PSD vai chegar atrasado a uma tomada de posição importante, quando já poderia e deveria ter publicamente afirmado que o seu antigo líder Marcelo é o candidato que, sem quaisquer dúvidas, irá apoiar de novo. André Ventura tentará levar o voto de uma direita também «fora do sistema» para o seu nacionalismo populista, mas o resultado deverá surpreender pela sua irrelevância política.
Claro que Marcelo Rebelo de Sousa pode ter sido irritante para a direita pela forma como se relacionou com o Governo neste mandato, mas é evidente que veio dessa área política. Direita que, em vez de saudar grande parte da esquerda por reconhecer que o seu antigo candidato Marcelo teve um bom mandato como Presidente a ponto de lhe dar agora o seu apoio, mais parece andar perdida e ciumenta por causa desse apoio.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 25 de Maio de 2020

Fundo de recuperação

Estudo sobre o Fundo de Recuperação pelo COVID 19. Portugal não receberia,l antes pagaria para os países que mais sofreram directamente com a pandemia . Só quem como é evidente, pandemia é uma coisa, consequências económicas são outra. E, quanto a estas últimas, Portugal é uma desgraça.
Ão olhar para isto percebe-se melhor o silêncio sufocante do governo: não te dinheiro para acções fortes como os países do norte e espera pelo apoio deles. Se não vem, estamos lixados.



Gordon Lightfoot - Sundown {HD}

domingo, 24 de maio de 2020

José Cutileiro

A última vez que escreveu no seu blogue «Retrovisor» foi no dia 28 de Agosto de 2019. Na altura em que morreu Vera Futscher Pereira. Desde então que ia lá espreitar à procura daqueles textos deliciosos, mas não nunca mais lá escreveu. Agora foi-se também e ficam os textos para ir descobrindo com calma. Até sempre.

Secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media

“Não adianta estar a promover a leitura de jornais se não fizermos simultaneamente a promoção da literacia mediática, isto é, da capacidade de qualquer cidadão, seja de que idade for, poder descodificar, compreender e ler de maneira clara os sinais do seu tempo”

Não foi Goebbels que disse isto exactamente, mas todo o discurso  anda lá perto.  Ou o jeito que dá ter um Sec. Estado do Cinema do Cinema, Audiovisual e Media. Meus caros srs., dispenso esta vossa vontade de me educar.


O governo do Brasil!!!

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Liszt - La Campanella (100,000 special)

DANTE: O NONO CÍRCULO DO INFERNO

“Do aflito reino o imperador eu via:
Do gelo acima o seio levantava.
A um gigante igualar eu poderia”




O Portão do Inferno não tem porta, nem fechaduras, nem nada de especial. Apenas um letreiro que diz: “Deixai toda a esperança, ó vós que entrais”. A partir daquela porta as almas deixam de ter o livre-arbítrio de que gozavam na sua vida anterior, passando a assumir apenas o castigo das opções tomadas. E foi por essa porta que Dante entrou para conhecer o Inferno, tendo-se-lhe juntado logo à entrada o espírito de Virgílio que o encaminhou pelos diversos círculos do Inferno.
Como sabemos, no Inferno de Dante, à medida que se vai descendo nos círculos a gravidade dos pecados vai aumentando e o nono é o último, portanto o local dos piores pecados: a Traição.
Ao saírem do oitavo círculo, Virgílio e Dante encontram os seis gigantes que, acorrentados em poços congelados por terem atraiçoado Júpiter, impedem a passagem ao nono círculo. Um deles, Anteu, ajuda-os a passar ao lago congelado Cócite, o nono círculo do Inferno, o fundo do funil dos círculos do Inferno, já perto do centro da Terra. É lá que estão imersos os que cometeram o pior dos crimes, a traição, sendo a morada do próprio Lúcifer, o traidor de Deus que nas bocas das suas três cabeças exibe três grandes traidores: Judas que atraiçoou Cristo, Brutus e Cássio que traíram imperadores romanos.
Correspondendo à gravidade da traição cometida, os traidores estão distribuídos por quatro esferas: Caína, Antenora, Ptolomeia e Judeca cujas designações remetem cada uma para um traidor famoso.
Das quatro esferas que constituem o nono círculo do inferno, as duas últimas castigam precisamente os maiores pecadores de todos. O nome da esfera Ptolomeia remete para Ptolomeu, que convidou Simão e os seus dois filhos para o seu castelo em Jericó, para os matar traiçoeiramente, depois de lhes dar de beber em quantidade. As almas dos que penam nesta esfera estão dentro do gelo, tendo apenas as caras de fora onde as lágrimas se congelam instantaneamente. São assim eternamente castigadas por traírem os que convidaram para as suas próprias casas, os seus estabelecimentos, as suas instituições.
Já a última esfera remete para Judas Iscariotes que historicamente se converteu no próprio nome da traição, Na esfera da Judeca, são castigados os que atraiçoaram os seus líderes e estão totalmente imersos no gelo, com a única excepção do próprio Lúcifer metido no gelo até metade do peito.
Dante Alighieri nasceu em Florença em Maio de 1265 e é a prova de que, ao contrário do que muitos iluministas séculos mais tarde tentaram fazer crer, a Idade Média não foi a idade das trevas. Das suas muitas obras sobressai a “Divina Commedia” considerada uma das obras mais importantes da literatura universal, pela sua composição mas também pelo seu carácter eminentemente enigmático e pelo número e carga das alegorias que contém. A obra, dividida em trinta e quatro cantos, é composta por três partes, sendo o Inferno precisamente a primeira, e o Purgatório e o Paraíso as outras duas, sendo que nesta última viagem é guiado pela jovem Beatriz Portinari. A sua influência na Cultura universal é enorme, tendo suscitado obras dos mais diversos artistas, desde músicos como Liszt a pintores como Botticelli, De Chirico, Delacoix e muitos outros.
A leitura desta obra-prima com setecentos anos deveria ser aconselhada a todos os que, de alguma forma, ascendem a lugares de proeminência social, económica ou mesmo, quase que diria principalmente por se tratar do bem-comum, política. Aí aprenderiam como os principais pecados, diremos hoje más-acções ou crimes, são aqueles que se relacionam com faltas cometidas perante quem convida para esses lugares, mas também precisamente por quem convida. Algo muito mais importante do que agir apenas de acordo com as leis do momento. Os leitores portugueses que queiram conhecer a “Divina Commedia” até têm hoje a vida facilitada, por disporem de uma recente tradução portuguesa, da autoria de Vasco Graça Moura.
As alegorias de Dante aplicam-se às sociedades de todos os tempos. Nos dias de hoje podemos estar a falar de simples empregos em empresas, mas também dos cargos máximos de administração. Ou de governos em que chefes e subordinados não se devem atraiçoar reciprocamente, ainda que por omissão, esquecendo-se que estão num palco cuja plateia é toda a população de um país. Fariam bem em lembrar-se do gelo do esquecimento das duas últimas esferas do nono círculo do Inferno de Dante

Publicado originalmente no Diário de Coimbra de 18 de Maio de 2020

Que impertinência

O INE confirmou que o valor da carga fiscal aumentou 4% em 2919 para 74 mil milhões de euros, situando-se em 34,8% do PIB, o mesmo rácio de 2018. Recordemos que em 1995, no primeiro ano do governo socialista de Guterres, a carga fiscal era de 29,2% e quando ele fugiu do "pântano" deixou uma carga fiscal de 31.1%. O seu sucessor Sócrates recebeu uma carga fiscal de 30,9% e quando foi estudar para Paris deixou uma de 33,3%.

Daqui:  https://impertinencias.blogspot.com/2020/05/cronica-da-asfixia-da-sociedade-civil_18.html#more

terça-feira, 12 de maio de 2020

A memória do nazismo: para não esquecer

Obama em 2014

«There may and likely will come a time in which we have…an airborne disease that is deadly. And in order for us to deal with that effectively, we have to put in place an infrastructure—not just here at home, but globally—that allows us to see it quickly, isolate it quickly, respond to it quickly…So that if and when a new strain of flu, like the Spanish flu, crops up five years from now or a decade from now, we’ve made the investment and we’re further along to be able to catch it.»

Recolhido em  https://impertinencias.blogspot.com/