segunda-feira, 26 de maio de 2008

INVESTIR EM INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO


O Presidente da República fez muito bem em chamar a atenção de forma veemente para a questão da “Investigação e Desenvolvimento” (I&D) durante o Roteiro para a Ciência que decorreu na semana passada.

Se existe área em que se deve investir fortemente para que a nossa pobre economia saia do marasmo em que tem estado nos últimos anos é precisamente no incentivo à inovação empresarial, designadamente através da colaboração entre as escolas superiores e as empresas. Ao contrário do investimento em grandes obras públicas, este é um investimento que dá frutos a longo prazo de forma continuada e não meramente pontual, contribuindo não só para o crescimento, mas também para a melhoria da competitividade nacional.

Acresce que esses incentivos à investigação e desenvolvimento se podem espalhar por vários sectores económicos, não se ficando por um sector específico, o que é sempre perigoso a longo prazo.

O exemplo da BIAL é paradigmático e devia ser conhecido por todos nós, para se perceber a que me refiro.

A BIAL é a primeira empresa farmacêutica portuguesa a desenvolver e colocar no mercado um medicamento inteiramente novo a nível mundial, o que deverá suceder já no próximo ano. O desenvolvimento deste medicamento durou mais de treze anos; pelo caminho ficaram centenas ou milhares de moléculas que tiveram de ser estudadas e abandonadas até se conseguir desenvolver uma com potencial médico.

Para conseguir este resultado a BIAL tem um centro de I&D com 79 pessoas, das quais 17 doutoradas de 8 nacionalidades onde investe por ano 20 milhões de euros. Por outro lado, mantém contratos com mais de 40 instituições de I&D em todo o mundo. Por exemplo, o novo medicamento que vai surgir na área da epilepsia, foi desenvolvido mediante uma estreita colaboração com o Centro de Neurociências da Universidade de Coimbra.

Infelizmente, o apoio estatal a I&D é em Portugal muito reduzido, ao contrário do que deveria acontecer. O valor é de cerca de 2,1%, quando na União Europeia é de 7,9% e nos EUA de 9,4%.

O Estado deveria, pelo menos, reduzir os impostos para quem investe em I&D, a exemplo do que acontece em Espanha. Deveria também prever subsídios a fundo perdido para as empresas que criem núcleos de inovação.

A modernização do tecido empresarial português, para além da necessidade de marketing e criação de mais valor em produtos exportáveis, passa muito pelo investimento em I&D para ser mais competitivo e poder inverter esta fase de empobrecimento que já dura há tantos anos.

Publicado no Diário de Coimbra em 26 de Maio de 2008

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