Foram conhecidos há poucos dias os novos dados sobre o real estado da economia portuguesa e previsão para os próximos dois anos.
A actual situação, bastante complexa, apresenta uma inflação de 2,8% em vez dos anteriores 2,4%, prevê a desaceleração do crescimento do PIB para estes dois anos e assume ainda o perigo real de subida do défice já em 2009. A este cenário pessimista acresce ainda a descida do poder de compra dos portugueses ao longo dos últimos três anos, situação que já não se vivia há trinta anos.
Os últimos indicadores económicos do Banco de Portugal apontam para um abrandamento notório da actividade económica, que em Março tinha descido para o nível de Janeiro de 2006, com o consumo privado a cair para níveis que já não se conheciam desde 2005. As consequências ao nível das receitas fiscais já se fazem sentir, tendo a variação das receitas do 1.º trimestre deste ano sido a mais baixa em período homólogo desde 2003.
Verifica-se que, apesar dos sacrifícios impostos à população, o país não descola, e, bem pelo contrário, está a afundar-se, indo ser a breve prazo ultrapassado pela Estónia e pela Eslováquia.
Como é evidente, a generalidade dos portugueses sente bem esta realidade no seu dia-a-dia: não é preciso falar nos aumentos dos preços dos combustíveis, do pão, do leite e da prestação do empréstimo da casa. Assim, começa a generalizar-se o sentimento da necessidade de MUDAR.
Como já escrevi anteriormente nestas páginas, a Democracia pressupõe a existência de alternativas, que só o serão de facto se forem credíveis. Após alguns anos em que o PSD parecia ter abandonado o seu papel crucial de afirmação como alternativa, as actuais eleições para a liderança permitem o renascimento da esperança. É claro, porém, que os portugueses só a agarrarão se lhes forem apresentadas alternativas claras, bem explicadas e credíveis.
Há quem diga que o PSD deverá inflectir para a esquerda para reocupar um suposto lugar central que teria sido ocupado pelo partido Socialista com a acção do seu Governo. Quanto a mim, nada de mais errado. A política tem horror ao vazio que é automaticamente preenchido quando algum dos actores abandona o terreno. Trata-se apenas de afirmar um caminho com clareza, coerência e credibilidade
A libertação da sociedade do peso cada vez mais opressivo de um Estado que se torna mais e mais centralista é a orientação geral que deverá nortear as diversas políticas sectoriais.
Uma mudança na Educação, cujas sucessivas reformas das últimas décadas têm vindo a produzir os resultados que se conhecem; um reconhecimento do Estado das suas efectivas responsabilidades, como são a Segurança e a Justiça; um Serviço Nacional de Saúde que proporcione verdadeiras escolhas de qualidade aos portugueses; uma efectiva descentralização que evite o que hoje se vê de afectação de recursos público gigantescos para a capital perante um abandono do resto do país; estas são as áreas prioritárias que necessitam de propostas credíveis por parte do maior partido da oposição.
Parece-me que a escolha da liderança do PSD passa por perceber a capacidade de proporcionar uma verdadeira mudança relativamente ao que se tem visto, e de gerar respostas aos desafios dos tempos próximos, que pouco têm a ver com o que se passava há escassos vinte ou mesmo dez anos.
Publicado no Diário de Coimbra em 5 de Maio de 2008
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