Estimado leitor
Em primeiro lugar permita-me que o cumprimente e felicite. Sei que no desgraçado ano que acabou na sexta-feira passada não passou a integrar o contingente de quase um milhão de portugueses no desemprego; se tal desgraça lhe tivesse acontecido não teria certamente comprado o jornal e não teria paciência para ler esta carta porque gastaria o seu dinheiro noutras coisas e faria outras leituras com maior interesse prático imediato.
Depois, peço-lhe que me desculpe por continuar a ser tão politicamente incorrecto quando escrevo leitor e não leitor/a. Mas creia que ainda acredito que o significado das palavras é superior às próprias palavras, querendo com o termo leitor abarcar toda a gente que me lê, independentemente do género (lá ia caindo noutra armadilha dos nossos dias e escrever sexo, mas desta vez escapei).
Passou o ano de 2010 a ouvir falar de uma crise anunciada. Lembre-se que desde sábado passado paga um imposto de 23% sobre quase tudo aquilo que compra. E que o gasóleo do seu carro custa outra vez o mesmo que naquela altura em que o famoso “crude” atingiu os 150 dólares por barril, quando agora não chega sequer aos 100. Pois é, caro leitor, a má notícia é que a crise chegou efectivamente hoje. A boa notícia é que as crises trazem sempre novas oportunidades. Dizem. Caro leitor, Portugal não vai sair do euro e este não vai acabar. O que significa que a saída para tudo isto passa por si. Pelos seus sacrifícios e por uma nova atitude perante a vida. Seja exigente. Não se deixe enganar em qualquer circunstância: nem na loja, nem no restaurante, nem na repartição pública, nem na escola, nem no hospital, nem sequer no tribunal. O leitor paga isso tudo e bem. Ah! E quando a oportunidade surgir, marque a sua posição na urna de voto. Olhe que o leitor também paga para isso. E não se deixe enganar com promessas de mau pagador, se me permite a vulgaridade. Pague, que não tem alternativa, mas exija! Exija sempre o que lhe é devido!
Mas os direitos significam sempre deveres. Compre “made in Portugal”. Faça férias cá dentro. Cumpra as suas obrigações cívicas e pague os seus impostos, mas não deixe que os corruptos enriqueçam à sua custa. Seja verdadeiro, assuma sempre as suas opções com frontalidade, lembre-se que o que calar não existirá nunca e contribua para resolver problemas evitando sempre ser “o” problema.
Como não conheço o seu nome, caro leitor, chamei-lhe desconhecido. Lembrei-me do soldado desconhecido que caiu na refrega da batalha e que é homenageado com uma chama eterna em memória do seu heroísmo anónimo. Mas o leitor desconhecido vai certamente continuar a ser um herói da vida que combate diariamente para tentar melhorar o que se passa à sua volta sem sonhar com honrarias e medalhas, exactamente como o faz a maioria dos portugueses.
Para si que os merece, os meus votos de um bom ano de 2011.
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 3 de Janeiro de 2011
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