Olha-se para a televisão, lêem-se os jornais e há uma sensação indefinida e desagradável de que Portugal inteiro está à espera.
Na cena política, passaram as eleições presidenciais e tudo parece continuar à espera, nem sequer se sabe bem de quê. Durante os seis meses anteriores à eleição do Presidente, a Assembleia da República não podia ser dissolvida, acontecesse o que acontecesse, pelo que em Setembro se entrou numa espécie de limbo político. Até à nova tomada de posse de Cavaco Silva (em Março, cerca de dois meses após as eleições, pasme-se) continua tudo à espera. Entretanto, espera-se pela secreta remodelação governamental profunda de que toda a gente fala e, como é compreensível, ministros, secretários, chefes de gabinete e por aí abaixo esperam pelos resultados da dita, já que não conhecem o amanhã.
Nos tribunais, continua-se sempre à espera. Perante a estupefacção geral, o único arguido arrependido do processo da Casa Pia, veio agora dizer que tudo o que disse em julgamento era mentira e que são todos inocentes. Isto, enquanto se aguarda pela decisão da Relação de Lisboa, claro. O caso Portucale parece que vai agora para julgamento, após estes anos todos. O caso Furacão lá continua, parece, fora dos holofotes, excepto quando acontecem mais umas diligências (supõe-se que as provas continuam lá diligentemente à espera de serem encontradas).
Aqui em Coimbra continuamos à espera do Metro, a que alguém pomposamente chamou Sistema de Mobilidade do Mondego e que parece encalhado nas areias de um Mondego que continua placidamente à espera do desassoreamento que o limpe do lixo e areias que o entopem.
Um ex-presidente advogado de profissão, confirma candidamente que, enquanto exercia funções, recebeu prendas que enchem três quartos e que nunca teve que comprar canetas ou relógios, nem sequer sabendo quem lhe ofereceu a caneta que traz no casaco. A tão famosa ética republicana à espera da Ética apenas ética, ponto final
Claro que continuamos todos à espera que a nova comissão parlamentar sobre Camarate consiga juntar mais dois ou três elementos novos aos anteriores relatórios. Espera-se que uma futura comissão venha algum dia a esclarecer tudo, o que sucederá, eventualmente, quando todos os responsáveis vivos em 4 de Dezembro de 1980 tiverem morrido. Continuemos à espera, portanto.
Pior que tudo, o país desespera enquanto espera pela recuperação económica que só virá depois da recessão prolongada prevista pelas instituições internacionais. A esperança colectiva anda claramente fugida para parte incerta à espera de quem a encontre e devolva aos portugueses, condição essencial para a retoma económica e social.
Fala-se tanto da vinda do FMI, que parece que todos esperam por isso. Na realidade, o FMI não virá. Apenas porque estando Portugal integrado no Euro, será o Fundo Europeu de Estabilização Financeira que nos acudirá nesta aflição de dívida externa e recessão (e a que preço, meu Deus). Claro que o FMI estará lá, mas apenas para dar apoio técnico ao FEEF.
País à espera. Será sina do sebastianismo que há séculos nos assola?
Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 31 de Janeiro de 2011
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