A situação de aflição que o país atravessa exige de todos nós uma posição responsável que se traduza num esforço individual de recuperação colectiva, dentro nas nossas possibilidades.
Claro está que uma afirmação consciente de opção política no próximo acto eleitoral que permita a constituição de um novo Governo com uma representação que lhe permita proceder às reformas políticas que se impõem é importante, mesmo fundamental, mas não chega.
É hoje claramente perceptível que a democracia não se esgota nas eleições nem na necessária conflitualidade política e vá lá, ideológica, entre os partidos. A responsabilidade pessoal de todos é cada vez mais necessária para que os nossos representantes não entrem em roda livre e não se apropriem indevidamente do sistema como tantas vezes tem sucedido, limitando assim as hipóteses de sucesso do país.
A ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores) emitiu há dois dias um comunicado sobre a actual situação nacional, que coloca várias questões importantes e aponta caminhos para todos os que detêm algum grau de responsabilidade a nível das empresas. Parte da constatação óbvia de que o Estado português chegou a uma situação de insolvência que exigiu ajuda externa sem a qual o Estado social teria falido. Mesmo com a ajuda externa, só será possível manter o Estado social se for recriado. A ACEGE mantém que é mesmo “a defesa do Bem Comum, da coesão social e dos mais protegidos que implica enfrentar esta questão”. Claro que nada disto será possível se a economia portuguesa não crescer o suficiente para pagar o empréstimo externo e sustentar o Estado social, lembrando-se que não cresce há uma década, sendo essa e o despesismo do Estado as principais causas da actual situação.
É assim que a Acege, entre muitas outras considerações que vale a pena ler, afirma que “para voltarmos ao crescimento económico que nos permita reduzir o desemprego, sustentar políticas sociais e pagar as dívidas que, como povo, temos, é essencial reduzir o custo do Estado, libertar recursos para as famílias e para as empresas e reorientar as prioridades das políticas públicas. Assim, a defesa do Bem Comum passa pela reforma do Estado, concebida seriamente e executada com sentido social. Impõe-se a reforma social do Estado”.
Não esquecendo a parte que nos cabe a todos individualmente, a ACEGE sustenta que a emergência económica reclama, sobretudo, a responsabilidade pessoal e social dos líderes empresariais, colocando à consciência dos líderes empresariais alguns critérios orientadores bem concretos, entre os quais destaco:
“ - utilizar o despedimento como último recurso e, na sua inevitabilidade, ponderar critérios de natureza social nas escolhas a fazer;
- pagar o salário mínimo mais elevado possível, de modo a retirar da pobreza aqueles que integram cada comunidade empresarial;
- diagnóstico social interno, para conhecimento das situações familiares dos colaboradores mais carenciados, construindo sistemas internos de solidariedade, abertos a todos os colaboradores, de preferência confidenciais;
- pagamento pontual aos fornecedores, entendido como o mínimo ético empresarial, de modo a evitar constrangimentos de liquidez nas outras empresas, em especial nas mais pequenas”
Como se vê, há muito espaço para que todos nós sejamos parte integrante da solução para Portugal, para além dos sacrifícios que nos estão a chegar a todos nós de forma violenta.
Claro que, perante a situação trágica a que chegámos, devemos ter um grau de exigência cada vez maior relativamente aos que nos representam que, pelo poder do voto, acedem à possibilidade de poder dispor do dinheiro dos nossos impostos, não lhes permitindo que se desviem da obrigação de gastar essas receitas no Bem Comum e não de forma irresponsável.
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